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quarta-feira, janeiro 18, 2023

 Brasil em coma psico-social

 

Às vezes realidade e ficção se retroalimentam. Se na ficção Superman é a identidade secreta de Clark Kent e Batman é a identidade secreta de Bruce Wayne, na realidade Kapitão Klorokina (KK) é a identidade secreta de Jair Messias Bolsonaro.

 

Ex-milico insubordinado, como reserva foi eleito deputado federal 7 vezes discursando pelos cotovelos. Na câmara dos deputados ficou 28 anos sem fazer nada de relevante. Graças ao PT e seus escandalosos escândalos de corrupção, como mensalão e petrolão, os incríveis e inacreditáveis atos de desperdício de dinheiro público, como copa do mundo e olimpíadas, e apoio a agendas que ofendem a digníssima família brasileira (DFB, no sentido usado por Clara Aguiar, ex-BBB e entrevistadora do programa "Às Claras”), o movimento moralista-peristáltico (MMP) floresceu no Brasil. Os abusos jurídicos-ditatoriais de Moro Voz de Marreco (MVM) na operação lava jato turbinaram a receptividade ao discurso anticorrupção. Lava Jato, que deu muita audiência nos telejornais, acabou em pizzas, ainda que muito caras devido aos honorários milionários dos pizzaiolos.  Movido pelo MMP, KK entrou como azarão nas eleições de 2018 com um discurso contra a corrupção e a favor da DFB. MVM deu uma grande ajuda para KK retirando Lulla Molusco das eleições de 2018. E Adélio Bispo deu outra grande ajuda, ao colocar KK como único tema de mídia por vários dias às vésperas do 1o turno. KK acabou levando no 2o turno com margem expressiva em relação ao 2o colocado, o petista Fernando Haddad, que entrou no lugar de Lulla Molusco assim que ele foi fisicamente retirado da corrida eleitoral por MVM. Muitos consideraram o PT banido da política nacional. Sumiram com o Adélio.

 

Empossado em 01/01/2019, KK continuou no Twitter como se não tivesse um país para administrar. No carnaval deixou no ar a pergunta que não queria calar: “o que é golden shower?”. E assim foi todo o ano de 2019, em ritmo de 5a série do colegial. Em 2020 tivemos a pandemia causada pelo SARS-COV-2, que, como a numeração  indica, é posterior ao SARS-COV-1. Logo, não era uma novidade total. O Brasil (BR) optou por investir bilhões de dólares nos mega eventos esportivos-eleitoreiros de 2014 e 2016 ao invés de alocar estes recursos em Ciência, Tecnologia e Inovação e ficou fora da corrida tecnológica iniciada com o SARS-COV-1, particularmente em vacinas de nova geração. Custou caro a emergência sanitária de 2020. Outros bilhões de dólares foram gastos em medicamentos e equipamentos médicos-hospitalares comprados às pressas, que poderiam ter sido desenvolvidos no BR caso os bilhões dos inúteis mega eventos esportivos-eleitoreiros tivessem sido usados para tal e outros tais igualmente úteis.

 

Porém, os bilhões de dólares citados se tornam vinténs diante do delírio negacionista do KK. Em 2020 defendeu tratamentos alternativos sem comprovação médica, fez aglomerações, não usou máscara, debochou dos que sofriam com a pandemia, alegou que quem tomasse vacina viraria jacaré, tentou medicar as emas, e avacalhou várias iniciativas para amenizar a tragédia da pandemia, como o consórcio de governadores. Manaus, em plena Amazônia, pulmão do mundo, ficou sem oxigênio duas vezes e foi palco de um desastre humanitário de dimensões amazônicas. KK riu como se fosse um moleque. Em 2021 tivemos a CPI do COVID liderada por Renan Calheiros, o mais pudico dos Senadores, aquele cuja amante jornalista mineira mantida pela Mendes Jr em troca de emendas no orçamento saiu nua na playboy como protesto por falta de mesada. Sob pressão da CPI e da mídia, KK liberou verba para comprar vacinas, mas não desistiu dos tratamentos alternativos, nem de jet-sky-ciata e moto-ciata, nem de debochar da tragédia brasileira que se desenrolava debaixo do seu nariz. E de brinde resolveu atacar o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas, primor tecnológico nacional, o STF e seus ministros com uma centena de palavrões e atos agressivos. Em 2022, ano de eleições, dobrou a aposta nos ataques ao STF nas celebrações de 07/09 e entrou de salto 15 agulha bico fino na corrida eleitoral. Achou que os votos dos motoqueiros, dos milicianos, dos agro gogo boys, e demais defensores do MMP garantiriam sua reeleição no 1o turno.

 

As urnas eletrônicas que KK tanto atacou mostraram que sua estratégia eleitoral foi um grande, enorme e monstruoso erro de estimação causado pelo viés de percepção. Subestimou a rejeição ao delírio negacionista e a aceitação ao arranjo político sem precedentes da oposição. Inimigos se uniram contra um inimigo comum, KK, fazendo mais uma vez valer a máxima “os inimigos dos meus inimigos são meus amigos”. E a chapa quente de oposição foi formada por, nada mais, nada menos, que Lulla Molusco e Geraldo Esponja, adversários ferrenhos nas eleições presidenciais de 2010. Deu zebra já no 1o turno, e KK foi o 1o caso de um presidente candidato à reeleição que não ficou em 1o lugar no 1o turno desde FHC. No 2o turno KK angariou apoios importantes, como Romeu Zema, governador reeleito de MG no 1o turno, que bradou “PT nunca mais” e fez reuniões com 600 prefeitos. Lulla Molusco ganhou uma declaração de apoio do Papa Francisco, argentino descendente de italianos de Piemonte. KK diminuiu a desvantagem inicial, mas não o suficiente para reverter o resultado. A voz do Papa foi mais alta que a voz do Zema e KK foi o 1o presidente candidato à reeleição a não se reeleger desde FHC. O PT voltou ao executivo federal. Fernando Haddad, professor da USP, descendente de libaneses católicos, paulista da gema, perdeu a eleição de 2018 para presidente da República para o KK e a de 2022 para governador de SP para um forasteiro carioca que nem sabia onde votar, é o atual ministro da Fazenda.

 

Em 2023 KK entrou para a história ao NÃO passar a faixa presidencial para o sucessor e ir para os EUA passar o ano novo, bem longe da quebradeira e da escatologia do fatídico 08/01, domingo, hora do almoço, nas sedes dos três poderes em Brasília. Sem super poderes presidenciais, KK volta a ser Jair Messias Bolsonaro, mal quisto nos EUA e na Itália, e em mais qualquer outro lugar que ele pretenda ir. E vai ter que responder por sua participação direta e indireta nos atos inomináveis de Janeiro, que serão julgados pelos magistrados que ele desacatou. Alguém tem um palpite para a sentença?

 

Entre 2019 e 2022 o Brasil ficou mais pobre material, moral e cognitivamente. O ano de 2023 começa com desafios de curto prazo e longo prazo sem precedentes, deixando no ar a dúvida do século (como sair do escatologico e chegar na computação quântica?) e  uma grande desconfiança quanto à lisura do governo Lullla 3 (garrafão que leva querosene nunca perde o cheiro, diz a sabedoria popular). Tomara que o milagre da ressurreição política do PT não seja o único, e que consigamos outro milagre: tirar o Brasil deste estado de coma psico-social causado pelos delírios populistas dos últimos 20 anos. 

 

 

 

 


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