<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, dezembro 31, 2004

porque e' importante desejar FELIZ ANO NOVO com antecedencia 

Porque nao e' viavel otimizar a capacidade instalada para atender a este pico de demanda. Uma tsunami de ligacoes pode colocar o sistema em colapso. O velho e mau problema de falha de coordenacao. Apesar de racionais, os agentes nao aprendem que o otimo individual leva ao brejo coletivo.

FELIZ ANO NOVO


Telefone: Anatel teme um ‘caladão’ de Ano Novo
http://oglobo.globo.com/jornal/Economia/148071121.asp

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) recomendou ontem aos usuários que procurem diluir suas ligações nesta sexta-feira, último dia do ano, ou seja, fazendo as chamadas telefônicas em intervalos espaçados. Segundo a Anatel, a idéia é evitar congestionamentos que extrapolem a capacidade de processamento de tráfego das redes telefônicas. O risco de o serviço ser interrompido chegou a ser admitido pelo presidente da Anatel, Pedro Jaime Ziller de Araújo, no início de dezembro, em reunião com representantes das operadoras de telefonia móvel de todo o país.

No encontro com os dirigentes das concessionárias, no dia 7, Ziller destacou a necessidade de as empresas adotarem um esquema especial para evitar congestionamentos em sua redes. Ele alertou para o risco de interrupção, principalmente a partir do crescimento das vendas no Natal.

Levando em conta que no período de Natal e Ano Novo há grande concentração de chamadas em curtos períodos de tempo, a agência decidiu iniciar o plantão no último dia 24. Foi montado um esquema especial nos escritórios regionais da Anatel. O monitoramento vai funcionar até a primeira semana de janeiro. Assim, a qualidade do atendimento prestado pelas operadoras de telefonia celular e fixa está sendo acompanhada sistematicamente.

O esquema especial de fim de ano inclui, ainda, o apoio permanente, a partir de Brasília, das Superintendências de Serviços Públicos (SPB) e de Serviços Privados (SPV), responsáveis pelas telefonias móvel e fixa, respectivamente, aos escritórios regionais.

Por sua vez, a Assessoria de Relações com Usuários (ARU), da Anatel, auxiliará as superintendências com a indicação de eventuais irregularidades decorrentes do aumento de reclamações. O telefone da Central de Atendimento da ARU é 0800-33-2001. Haverá pessoas trabalhando 24 horas. (...)

quinta-feira, dezembro 30, 2004

quem precisa de tsunamis ?  

by politsBURGER

Jornalistas semi-bebados escrevem (digo, traduzem) noticias estarrecedoras sobre os problemas do sul da Ásia. Pergunto : alguém comparou com os números nacionais ?

Mortos no sul da Ásia : cerca de 150 mil
Mortos no Brasil por acidentes de transito, violência, álcool, tabaco e drogas : mais de 1 milhão

Desabrigados no sul da Ásia : cerca de 5 milhões
Déficit habitacional no Brasil : mais de 7 milhões

Detalhe : lá pra quelas bandas de Buda, moram cerca de 2 bilhões de pessoas. Aqui na terra do curumim moram cerca de 150 milhões. Assim, tanto em termos absolutos quanto relativos, produzimos rotineiramente, ano a ano, uma catástrofe muito maior do que tsunamis esporádicas.

o calote compensa 

Citibank recomenda Argentina, e não Brasil
Folha de São Paulo
30/12/2004
Janaína Leite e Silvana Arantes

A Argentina é uma opção de investimento, no médio prazo, mais atraente que o Brasil. A conclusão é de economistas do Citibank, maior grupo financeiro mundial, e consta de um relatório interno produzido em Nova York. O documento, obtido pela Folha, é do último dia 13 de dezembro.

O principal argumento usado pelos autores do texto seria uma fragilidade maior da economia brasileira ante possíveis choques externos. Combinada à dívida líquida do país, na maior parte corrigida por juros altos praticados no mercado interno, a vulnerabilidade tornaria questionáveis supostas vantagens da economia local, afirma o relatório. Além disso, 62% dos débitos do Brasil em moeda local seriam papéis de curto prazo, de vencimento próximo.

"No médio prazo, a Argentina será menos vulnerável a choques que o Brasil [...] Estará menos exposta a guinadas de liquidez internacionais", afirma o documento.

"O serviço da dívida argentina ficará em torno de 3% do PIB entre os próximos 12 e 24 meses, comparado a cerca de 7% ou 8% do PIB no Brasil", observam os economistas, referindo-se ao valor consumido por ano com pagamento de juros da dívida pública. (...)

pagando bom exemplo com mau exemplo 

A transicao de governo do PSDB para o PT em 2002 foi um espetaculo de civilidade e maturidade. A transicao de governo do PT para o PSDB esta sendo um festival de infantilidade e torpeza. Golpes baixos, artimanhas juridico-contabeis, enfim, todos os truques para complicar a vida do Serra no seu primeiro ano de governo. Coisa de gente pequena que so' pensa em crescer, mas nao cresce.

Marta cancela pagamento de serviços realizados
http://www.primeiraleitura.com.br/auto/leia.php?id=37833

Decreto da prefeita anula despesas autorizadas, mas ainda não reconhecidas; calote é de no mínimo R$ 400 milhões e pode chegar a R$ 1 bilhão

Depois de vender a sua gestão como exemplo de excelência administrativa, a prefeita Marta Suplicy oficializou nesta quarta-feira o primeiro calote explícito do seu governo, no valor de R$ 400 milhões. A prefeita publicou um decreto no Diário Oficial do Município cancelando o pagamento de obras e serviços contratados e até já empenhados junto à Secretaria de Finanças. É possível que esse valor de empenhos não liquidados e cancelados chegue a R$ 1 bilhão.

Essas contas ficarão para o próximo prefeito pagar — o tucano José Serra —, o que significa que Marta pode vir a ter problemas judiciais por desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A lei determina que um prefeito não deixe restos a pagar para a administração seguinte se não houver receita reservada para cobrir esses débitos. “Os empenhos não liquidados deverão ser anulados até o final deste exercício”, diz o decreto, que excetua as despesas constitucionais e os encargos gerais supervisionados pelas secretarias de Gestão Pública e de Finanças. (...)

quarta-feira, dezembro 29, 2004

retrospectiva 2004 de algumas idiotices idiotas realmente estupitas feitas pelo molusco acefalo 

Relação de conflito
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/miriam.asp
Miriam Leitão

A plácida foto de fim de ano do presidente com os jornalistas da cobertura diária do Planalto nada revela do que foi este ano a relação entre o governo e a imprensa. O presidente Lula, que continua sem dar uma entrevista coletiva formal, chamou os jornalistas de covardes; quis criar um conselho para controlar os jornalistas, expulsar um correspondente do país e ainda não desistiu da agência do audiovisual que, de tão extensa, ameaça também o jornalismo feito nas televisões.

Este foi um ano em que o governo exibiu a face autoritária do PT e recebeu como resposta a rejeição de um país com convicções democráticas amadurecidas. O Conselho Federal de Jornalismo, se fosse aceito como foi proposto, significaria que um grupo de jornalistas, militantes do PT, escolheria indiretamente a primeira diretoria com poderes ilimitados para definir as regras de funcionamento do conselho, o código de ética, e como “controlar, orientar e punir” o exercício da profissão. Bombardeada pelos jornalistas e por outros formadores de opinião, a proposta foi arquivada pela Câmara dos Deputados. O ministro José Dirceu incluiu o CFJ como um dos erros cometidos durante o ano; e o assunto foi enterrado. Mas antes veio aquela infeliz declaração do presidente chamando os jornalistas de “um bando de covardes” por não terem defendido o conselho.

Em outro momento marcante dessa relação, no Dia do Jornalista, o ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, quis ensinar o ofício aos profissionais da área e exortou-os a dar notícias boas e a não explorar o contraditório. Isso num governo tão cheio de explícitos contraditórios. Ao longo do ano, houve outras exibições desse mesmo apelo por um jornalismo cor-de-rosa que contornasse os assuntos desconfortáveis para quem está no exercício do poder.

O correspondente Larry Rother, do “The New York Times”, escreveu sobre os hábitos etílicos do presidente, os quais ele mesmo vinha propagando ao longo dos anos, distraído de como este tipo de apologia de bebidas fortes pode estragar sua própria imagem e ser um mau exemplo. O alcoolismo é problema grave que destrói pessoas e famílias, autoridades deveriam ter todo o cuidado com o tema. Para se ter uma idéia de como a compreensão disso já avançou na sociedade, o AfroReggae, sobre o qual escrevi dias atrás, não aceita patrocínio de empresas de bebidas ou de cigarros. A reportagem do “NYT” foi considerada exagerada por muitos que a leram e o presidente recebeu a solidariedade geral em artigos na imprensa e declarações até da oposição. Não achou suficiente e, numa reunião de um pequeno grupo, contando com o notável apoio do jornalista André Singer, o governo decidiu expulsar o jornalista. O repúdio foi instantâneo e o governo recuou.

Uma questão ainda em aberto é a Ancinav, a proposta de criar uma agência para regular, fiscalizar e punir o exercício do audiovisual na televisão e no cinema. Nessa, o governo está insistindo. Simula um debate com os setores interessados, altera termos e forma do projeto de lei, mas mantém a essência. Na Agência, cinco diretores decidirão por maioria simples, ou seja, três votos, questões controversas como a de controlar os meios de comunicação para que: “defendam os valores éticos da pessoa e da família; observem a diversidade de fontes de informação e a liberdade de expressão; e tenham responsabilidade editorial e de programação”. São questões subjetivas que só podem ser decididas pelos três poderes da República: jamais por três indicados do Planalto. Há várias armadilhas escondidas atrás dos seus artigos, incisos e remissões legais.

O antropólogo Roberto da Matta acha que, na Ancinav, estão expressos vários perigos:

— Ela é centralizadora e tudo o que é centralizador estimula o clientelismo. O mercado decide de forma impessoal; um órgão centralizador fortalece a busca das relações pessoais, uma fonte dos problemas que já tivemos no passado. Tenta defender o regionalismo e a cultura nacional da forma equivocada. É bobagem achar que é possível deter a velocidade de circulação da informação. Eu cresci exposto aos produtos culturais americanos, no cinema e na música, e passei a vida inteira escrevendo, pensando e entendendo o Brasil. O regional sempre sobrevive e hoje, após todos os avanços da integração do país, eu sei mais, estou mais exposto e sou mais simpático ao que é típico de cada região do Brasil do que nos anos 60. É muito perigoso tentar interferir em processos criativos, porque a sociedade tem uma dinâmica cultural mais complexa do que está expresso nos textos da Ancinav.

Durante o ano, o governo lançou uma campanha de marketing para elevar a auto-estima do brasileiro e agora quer lançar outra para aumentar a taxa de afeto nas famílias. A idéia de campanhas assim é equivocada. A auto-estima do brasileiro tem sido recuperada com fatos. O fim da superinflação, que nos tornava esquisitos num mundo estabilizado, foi um passo importante para isso, a retomada do crescimento sustentado, o enfrentamento dos agudos problemas do cotidiano é que farão isso e não os filmetes encomendados a cineastas. A campanha do afeto na família é outra patética tentativa de simplificação do complexo.

O que ficou expresso em todos esses episódios é que o governo gostaria de controlar a opinião. Falhou, recuou. Segundo Roberto da Matta, o governo atual tem aprendido no poder como ser democrático. Tomara que tenha aprendido bastante neste tumultuado ano de 2004.

governar o mundo custa caro 

Alguns comentarios que recebi sobre o trecho de reportagem abaixo.

A Organização das Nações Unidas alerta que o número de mortos na Ásia, já superior a 60 mil, poderá dobrar se a comunidade internacional não agir com rapidez para evitar que epidemias se espalhem pelas regiões afetadas pelo tsunami em oito países diferentes. Ontem, em Genebra, a ONU reuniu representantes de 120 governos e instituições para debater uma estratégia de socorro às nações afetadas. A conclusão da reunião também foi alarmante: o custo das operações humanitárias irá superar toda o esforço para a reconstrução do Iraque, até hoje a maior operação internacional registrada e que já custou US$ 1,6 bilhão.

cometario 1
Esforco para a reconstrucao do Iraque ?

comentario 2
Eu acho que os EUA devem ser proibidos de mandarem ajuda humanitaria pois isto seria intervencionismo e unilateralismo.

Deixa os europeus mostrarem sua "solidariedade". Quantos bois Bove doará para os novos sem-casa? e chirac? Schroeder?

Bin laden mandou ajuda? O mundo islamico ficou feliz com a morte dos infieis? O que os aliados de bin laden no iraque acham do acidente? E' obra de Alá?

IBGE : o Copernico do seculo 21 

Depois de mostrar que nao ha desnutricao, mas obesidade; agora o IBGE mostra que as cidades tem menos habitante que os prefeitos declaram. Em ambos os casos, os governantes de plantao preferem a inquisicao dos cientistas do que analisar os numeros. Ridiculo.

Prefeitos de cidades que perderam população contestam a pesquisa
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/148047533.asp


BRASÍLIA. Assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou da pesquisa do IBGE que mostrou a redução do número de famintos no Brasil, prefeitos de cidades que tiveram queda na população contestaram ontem a análise demográfica do instituto. Dois prefeitos de municípios que encolheram ameaçaram até recorrer à Justiça. Por trás disso está o temor de ter reduzido também o volume de verbas repassadas pela União e pelos estados.

Haroldo Naves, do município goiano de Campos Verdes, e Humberto Grossi, de Baliza, também em Goiás, ameaçaram recorrer à Justiça para contestar os dados oficiais, que apontaram queda no número de habitantes das duas cidades nos últimos anos. Segundo os prefeitos, no período ocorreu exatamente o contrário, com os municípios recebendo novos moradores. Naves e Grossi também vão pedir ao IBGE a recontagem da população de suas cidades.

— Estou perdendo dinheiro por causa desses censos malfeitos — queixou-se Grossi.

— O IBGE está prejudicando o município — disse Naves.


Para os prefeitos, o que chamam de erro teria sido causado por causa da projeção feita pelo IBGE com base nos índices de aumento ou de diminuição das populações das cidades detectados em 2000. Como não foi feita nova contagem de habitantes este ano, o IBGE trabalhou com estimativas. Mas não levou em consideração peculiaridades locais e mudanças nos rumos de cada cidade nos últimos quatro anos.

Mineração em crise seria causa
No caso de Campos Verdes, foi diagnosticada em 2000 uma crise na principal atividade econômica do município: a mineração. Com isso, a população, formada principalmente por garimpeiros saídos do Nordeste, teria retornado a seus estados de origem. O que o IBGE não levou em consideração, segundo Humberto Naves, foi o esforço empreendido pela prefeitura para incentivar a mineração. Segundo o prefeito, os investimentos, iniciados em 2001, atraíram de volta a população que partira nos anos anteriores.

Naves diz ainda que, em 2000, a população de Campos Verdes era de oito mil habitantes. Hoje, segundo ele, estaria na faixa dos 12 mil — o que representa um aumento de 50%. Entretanto, os dados do IBGE apontaram um decréscimo de 7,8%.

Caso similar ocorreu em Baliza. Lá, desde 2000, foram assentadas mil famílias de sem-terra em fazendas desapropriadas pela União. Isso teria colaborado, alega o prefeito, para um aumento populacional de 30% na cidade. Mas o IBGE divulgou que, no município, houve queda populacional de 6,5%.

— No ano que vem, outras duas mil famílias deverão ser assentadas no município. Estou tendo problemas para administrar tanta gente com os recursos planejados de acordo com os números do IBGE, que não são verdadeiros — contestou Humberto Grossi.

A capital onde o IBGE detectou maior crescimento populacional foi Palmas. Segundo a projeção feita pelo órgão, a população da capital do Tocantins cresceu 21,4% em relação ao número de habitantes contabilizados em 2000. A prefeita Nilmar Ruiz disse ontem não ter ficado surpresa com o número. Para ela, o crescimento é natural, já que a capital tem apenas 15 anos e apresenta índices atrativos de segurança pública e qualidade de vida.

Nilmar apontou o fato de Palmas ficar no centro do país, o que seria mais um atrativo para a população de outros estados.

— O grande atrativo de Palmas é a qualidade de vida. O potencial turístico do estado também cooperou para desenvolver e diversificar mais a economia de Palmas — disse a prefeita.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

se trata de uma daquelas verdades científicas que arrasam ideologias, crenças, mitos e teses políticas baseadas em slogans 

Não são famintos, são gordos
Carlos Alberto Sardenberg

O ESTADO DE S.PAULO
ECONOMIA
Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2004
É preciso escrever com todas as letras: não existe o problema da fome no Brasil. Essa é a conclusão inevitável da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. Num universo de 95,5 milhões de pessoas de 20 anos ou mais, diz a pesquisa, foram encontradas 3,8% com déficit de peso. Isso significa que a "população adulta brasileira não está exposta ao risco da desnutrição", pois taxas entre 3% e 5% de pessoas abaixo de peso estão dentro da "proporção esperada de indivíduos que são constitucionalmente magros".

Repetindo, portanto, não existe o problema da fome no Brasil. Trata-se de uma extraordinária notícia para qualquer país. Por que, então, foi tão pouco celebrada por aqui e até posta sob suspeita, como fez o presidente Lula?

Resposta simples: porque se trata de uma daquelas verdades científicas que arrasam ideologias, crenças, mitos e teses políticas baseadas em slogans.

Às vezes, essas ideologias e crenças se tornam tão dominantes na cena política que mesmo aqueles que sabem ou desconfiam da farsa se sentem incomodados ou com medo de desmascará-la. Pega mal, não é politicamente correto.

Vamos repetir, portanto, o que diz o IBGE: "A população adulta brasileira não está exposta ao risco da desnutrição."

Há 30 anos, o problema existia. Hoje, porém, depois de sucessivos políticas e programas, o País está muito próximo de ter erradicado a fome. Não se trata mais de uma emergência, nem de uma questão estrutural. Há pessoas com fome, especialmente no Nordeste, mas em número muito inferior, por exemplo, ao de pessoas com excesso de peso.

De novo, o IBGE: naquele universo de 95,5 milhões de pessoas, foram encontrados 40% (38,8 milhões) com excesso de peso, dos quais 10,5 milhões são obesos. Há mais obesos do que famintos, sendo o crescimento da obesidade mais rápido nas populações mais pobres. Eis aí, números que não mentem: 3,6 milhões de adultos abaixo do peso e 38,8 milhões de gordos.

Era, portanto, apenas um slogan a afirmação de que o Brasil "tem 53 milhões de famintos", como Lula repetia durante a campanha eleitoral. Disso saiu um equívoco de política pública, o Fome Zero. Este, na sua versão original, incluía a exigência de que o beneficiário comprovasse gastos com a compra de alimentos. Errado e inútil. O problema real não estava ali, estava na pobreza, que é diferente do problema da fome.

Por isso, é muito superior a idéia das bolsas, uma renda entregue à pessoa em troca de contrapartidas, como manter as crianças na escola, ter as vacinas em dia, as mães regularmente nos postos de saúde e assim por diante. A renda, para ser usada no que a família julgar mais importante, de roupas a material escolar ou um aparelho de TV, além de comida, reduz a pobreza imediatamente. As contrapartidas, como a educação escolar, combatem a pobreza estrutural, no médio prazo.

Fica, assim, evidente o tamanho do equívoco do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, de suspender a exigência das contrapartidas e justificar isso com o argumento de que o mais importante era matar a fome. Errado, muito errado. É muitíssimo mais importante garantir a presença na escola, pois está provado que, quanto mais escolaridade, menos pobreza.

É certo, por outro lado, que se pode discutir o estudo do IBGE. Mas não com base na absoluta ignorância revelada pelo presidente Lula quando comparou a Pesquisa de Orçamentos Familiares com pesquisas do Ibope ou Datafolha, que fazem perguntas aos entrevistados. Segundo Lula, as pessoas teriam respondido que não passam por fome por vergonha de admitir sua verdadeira condição.

Mas o pesquisador da POF não pergunta se a pessoa tem passado fome. Ele acompanha a família pesquisada por vários dias, vai junto às compras, checa o que se compra e o que se consome e, finalmente, mede e pesa as pessoas pesquisadas. Também pergunta, e as respostas mostram que o presidente Lula está de novo equivocado. Mais de 40% das pessoas dizem que não comem na quantidade suficiente. Não têm vergonha de admitir o problema.

Na verdade, os técnicos que lidam com esses temas dizem que acontece o contrário - os entrevistados pintando um quadro pior do que efetivamente é. Ou seja, em famílias com pessoas acima do peso se reclama da falta de mais comida.

Isso vale para o País. De um modo geral, nós nos vemos piores do que efetivamente somos. Quando alguns analistas das questões sociais disseram que o Brasil não é um país pobre, foram acusados de neoliberais ou de elite insensível. Mas o Brasil, considerada a renda per capita, medida no sistema da Paridade do Poder de Compra, está no grupo dos 30% países mais ricos. Com a última pesquisa do IBGE, pode-se dizer que o Brasil não é miserável, nem faminto.

É, entretanto, um país com muitos pobres e uma desigualdade incompatível com o nível de renda nacional. Isso é um enorme problema a resolver, mas muito diferente e, de certo modo, mais fácil do que fome e miséria. Exige uma agenda diferente, na qual o Fome Zero está longe de ser prioridade.

Disso tudo resulta uma questão política interessante: como o presidente Lula pode ter obtido tanto apoio aqui e no exterior com base numa agenda equivocada? E outra: estando o presidente a mudar sua agenda, qual o risco de perder seu prestígio?

Assunto para outra conversa.
Em tempo: a POF pesquisou a situação da população adulta. Falta uma pesquisa específica sobre as pessoas abaixo dos 20 anos. Mas parece improvável que crianças cronicamente desnutridas se tenham tornado adultos acima do peso.

De onde vem outro em tempo: ao contrário do que diz o governo Lula, que desde o Descobrimento as elites deixaram o povo à míngua, as questões da pobreza no Brasil vêm sendo enfrentadas há décadas e com razoável sucesso. A situação hoje é muito melhor. O governo do PT já faria muito se não estragasse os bons programas.

domingo, dezembro 26, 2004

os resultados se mantêm muito aquém do esperado 

http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/nacional/81723.html

O Relatório 2004 da Social Watch contém uma crítica ao governo Luiz Inácio Lula da Silva: “Desde o início da atual gestão nacional, contudo, os resultados (das políticas de segurança pública) se mantêm muito aquém do esperado. Por exemplo, a criação da Ouvidoria da Polícia Federal, que até hoje não se efetivou, depende, exclusivamente, do ministro Márcio Thomaz Bastos. Se o governo quer mostrar que o controle externo da polícia é fundamental num país em que grassam a corrupção e a violência nas forças policiais, o mínimo esperado é que criasse sua própria Ouvidoria", diz o documento.

sábado, dezembro 25, 2004

sinal de desconfianca  

Lucro tipo exportação
http://oglobo.globo.com/jornal/Economia/147898055.asp

O forte ritmo da atividade econômica brasileira, puxada pela retomada da demanda interna e pela vigorosa expansão das exportações, proporcionará lucros históricos às empresas em 2004 e também um novo recorde para o país na área externa. As remessas de lucros e dividendos feitas por companhias multinacionais e por empresas brasileiras que têm ações negociadas em bolsas internacionais somavam US$ 7,154 bilhões de janeiro até novembro deste ano, cifra 32,57% maior que a do mesmo período de 2003. (...)

Natal da Viúva 

http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
26/12/2004

Uma das políticas de inclusão social mais bem sucedidas do governo Lula é a do seu próprio usufruto do mundo das doces mordomias.

Numa lei natalina, o companheiro alterou o decreto que regula o custeio das comitivas presidenciais em viagens ao exterior (940/93). Pelo critério antigo, fixado no governo de Itamar Franco, a Viúva pagava a hospedagem e as diárias do presidente e “dos servidores componentes de equipe de apoio”.

A mudança feita por Lula tirou a palavra “servidores” do decreto. Ficou entendido que agora a Viúva pagará as contas dos “integrantes de equipe de apoio”.

Numa leitura generosa (e todas as leituras são generosas com o dinheiro da boa senhora) a mulher de um servidor da equipe de apoio pode ser considerada uma “integrante” da equipe.

O companheiro Delúbio Soares, tesoureiro do PT, não é servidor, mas quando estiver numa comitiva presidencial poderá ser classificado como “integrante da equipe de apoio”.

molusco airlines 

Uma das diversoes dos entao opositores da abertura comercial, do Real caro em relacao ao dolar, dos juros altos, do PROER, das reformas institucionais, do excesso de medidas provisorias, etc, etc, era alegar que FHC ficava mais tempo viajando que governando.

As estimativas mais conservadoras revelam que o molusco ficara' fora do pais pelo menos uma vez em todos os meses de 2005. Se, ao inves de gastar uma baba com aviao importado, viajasse em voos comerciais, Lula acumularia milhagens para os proximos 195 presidentes viajarem de graca!


Lula fará pelo menos 13 viagens internacionais em 2005
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/144349.html

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra no seu terceiro ano de mandato com uma extensa agenda de viagens internacionais, do vizinho Uruguai ao Japão. Lula vai se ausentar do País pelo menos 13 vezes, sendo a primeira já no mês que vem, quando vai a Davos participar do Fórum Econômico Mundial. O número de destinos pode aumentar ainda mais, se confirmada a ida à África. Os destinos no continente, provavelmente, serão Senegal, Nigéria e Tunísia.

De maneira geral, o objetivo da diplomacia brasileira é reforçar a aliança entre as economias em desenvolvimento – a estratégia Sul-Sul – e explorar as ambições de liderança na América Latina e de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Como missão prática, o presidente continuará a conduzir a propaganda do País como destino seguro para os investimentos estrangeiros no setor produtivo.

O grande desafio para Lula será a reunião de cúpula da América do Sul e do mundo árabe, nos dias 10 e 11 de maio. O interesse do Brasil está concentrado na atração de investimentos dos países com elevado volume de reservas internacionais do Oriente Médio e da África do Norte nos projetos de integração física e energética sul-americana e no aumento do magro comércio entre os países envolvidos.

O evento deverá ser precedido por um exame da efetividade da recém-criada Comunidade Sul-Americana de Nações, cujos presidentes tenderão a se reunir previamente ao encontro com os líderes árabes. Construída sob a liderança e a insistência do Brasil, a comunidade é um projeto de integração e de aliança estratégica que teve o seu lançamento, no início de dezembro, marcado pela ausência de quatro dos 12 chefes de Estado envolvidos.

Fórum mundial

A programação de Lula no exterior começará em Davos. Paralelamente, está em montagem um encontro com cerca de 150 presidentes de grandes corporações empresariais – todos potenciais investidores no País.

No primeiro semestre, Lula viajará ainda ao Japão e à Coréia do Sul, como retribuição às visitas do primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizume, e do presidente coreano, Roh Moo-Hyun. Esse roteiro terá igualmente um forte objetivo de atrair investimentos e motivar o comércio.

O Palácio do Planalto espera, ainda, um convite para Lula participar da reunião de cúpula do G-8 – o grupo das sete maiores economias do mundo, mais a Rússia -, como observador. O encontro deverá ocorrer na Escócia, em junho, sob o comando britânico. Até o momento, no entanto, o convite não chegou.

Embora tenda a ser mais trabalhada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a agenda em favor da reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança deverá receber o reforço discreto de Lula, tanto na reunião do G-8 como nas suas demais visitas ao exterior e naquelas que receberá, como a do primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero.

Seu esforço tenderá a se tornar mais visível na abertura dos trabalhos da Assembléia-geral da ONU, em setembro, e, dias antes durante o encontro de cúpula convocado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para discutir as Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Mercosul

Na terceira semana de fevereiro, o presidente deverá embarcar aos dois únicos países sul-americanos que ainda não visitou – a Guiana e o Suriname. Nesse último país, participará como convidado da reunião de cúpula do Caricom, o bloco dos países caribenhos, com o qual o Mercosul pretende iniciar negociações de redução de tarifas de importação.

Em março, o foco será voltado para o Mercosul. No dia 1º, Lula desembarca em Montevidéu para a posse do novo presidente, Tabaré Vásquez. Na última semana do mês, Vásquez retribuirá a visita. A frágil integração entre os quatro sócios do Mercosul e as possíveis decisões para superá-la levarão o presidente brasileiro às costumeiras reuniões de cúpula do bloco, em Assunção, em junho, e em Montevidéu, em dezembro.

A agenda presidencial prevê que Lula esteja presente às celebrações da data nacional da França, 14 de julho, em Paris, ao lado do presidente Jacques Chirac. A perspectiva inicial é que ele siga para Lisboa, em Portugal, onde se dará a reunião de cúpula da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). No segundo semestre, a perspectiva de ampliação de trocas comerciais será mais uma vez trabalhada com a Rússia, a partir da retribuição de Lula à visita recebida de Vladimir Putin.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Assembléias gastam milhões com as convocações extraordinárias 

http://oglobo.globo.com/jornal/pais/147596404.asp

Com o fim do ano legislativo e as pautas ainda repletas de temas a serem votados, assembléias legislativas de vários estados fizeram convocação extraordinária de seus deputados e estão gastando milhões com o pagamento de salários extras.

Convocados pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, os deputados distritais vão faturar R$ 19,2 mil por cinco dias de trabalho. No total, o Distrito Federal desembolsará R$ 460 mil pela convocação extraordinária dos 24 deputados.

No período da convocação estavam na pauta de votação 20 projetos, nenhum deles considerados de urgência. Na prática, cada deputado receberá R$ 3.840 ou 14 salários-mínimos por dia de trabalho.

Os deputados Chico Leite (PT) e Eurídes Britto (PMDB) se recusaram a receber a gratificação que corresponde a dois salários mensais dos parlamentares. Os deputados distritais recebem R$ 9.600 por mês. Deputado de primeiro mandato, Chico Leite foi o único a devolver o dinheiro da convocação no ano passado.

— Faço isso por uma questão de princípio. Como qualquer outro trabalhador brasileiro, o parlamentar deve receber apenas 13 salários por ano e não 17 como tem acontecido.

No Ceará, deputados ganham extra de R$ 28.620
No Ceará, a convocação extraordinária da Assembléia Legislativa custará R$ 915.840. Por sete dias úteis de trabalho, os 46 deputados estaduais vão ganhar R$ 28.620 cada, desde que compareçam a dois terços das sessões. O valor corresponde ao 14 e 15 salários do ano, além da segunda parcela do décimo terceiro. A convocação foi feita pelo Executivo. A mensagem enviada à Assembléia definiu o período extraordinário entre os dias 20 e 30 deste mês. Mas, na prática, os trabalhos só começaram no dia 21.

No Amazonas e em Sergipe, os deputados estaduais também receberão salários extras totalizando R$ 19 mil. Os parlamentares amazonenses estão convocados para trabalhar até 3 de janeiro. Já os sergipanos receberão os R$ 19 mil por apenas quatro dias de trabalho.

Já a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul encerrou ontem sua primeira convocação extraordinária no atual recesso e no início da próxima semana iniciará outro período de convocação extraordinária, sem que isto tenha qualquer custo para os cofres do estado. A cada sessão o custo seria de aproximadamente R$ 1 milhão, mas foi incluído em maio na Constituição do estado um artigo estabelecendo que não haverá, em qualquer circunstância, pagamento por convocação extraordinária.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

homem primata, capitalismo selvagem (e sem riscos) 

PPP é "capitalismo sem risco", critica economista da USP
http://www.estadao.com.br/economia/noticias/2004/dez/22/4.htm

O projeto de Parcerias Público-Privadas (PPPs), aprovado hoje pelo Senado, não deve solucionar o problema de investimentos no Brasil. Na opinião do economista Nelson Barrizelli, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, o governo brasileiro deveria investir na "privatização pura e simples", porque as PPPs criam uma situação de retrocesso, "de um capitalismo sem riscos", abrindo brechas para o governo intervir quando bem entender.

Em entrevista ao Conta Corrente, da "Globo News", Barrizelli salienta que, para privatizar, o Brasil precisa solucionar a questão de sua inconstância jurídica. "Não conseguimos provar para o exterior que cumprimos contratos e precisamos provar isso para atrair investimento estrangeiro em nível adequado para ajudar o crescimento", salienta. (...)

Lendo certo 

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=308CIR001

A notícia está nos jornais: como o PPS decidiu romper com o governo, os deputados Agnaldo Muniz, de Roraima, e Lupércio Ramos, do Amazonas, vão para o PP.

Agora, a leitura correta (e engraçadíssima): como os comunistas romperam com Lula, dois de seus parlamentares se mudam para o partido de Paulo Maluf, para ficar ao lado de Lula.

Fome, marketing e voto  

Mauro Malin
http://www.diariosp.com.br/colunistas/materia.asp?Editoria=18&id_coln=621&me

O programa Fome Zero tem um pé em impulsos sinceros de solidariedade e outro em cálculos frios de política. Nasceu cidadão e virou bandeira de Governo, objeto de uma megaoperação de marketing. Acionaram-se os mais poderosos holofotes da mídia. Quando se ilumina intensamente determinado ponto da cena, tudo em volta fica na penumbra: há cada vez menos clareza sobre a questão da fome no Brasil. Pudera. Duda Mendonça entende tanto de fome quanto José Graziano sabe mexer com emoções.

Viva a democracia, mas seria conveniente não confundir pobreza, fome e desnutrição. O professor Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da USP, ensina na revista “Estudos Avançados” (maio/agosto 2003) que pobreza se mede pela insuficiência de renda para satisfazer necessidades básicas — comer é só uma delas — e ter fome crônica é não dispor de alimento que produza energia suficiente. Já o conceito de desnutrição abrange a fome crônica, mas afeta também quem não consegue dar aproveitamento biológico adequado aos alimentos ingeridos, em particular crianças, geralmente devido a doenças infecciosas, como diarréias e parasitoses intestinais. Nesses e noutros casos — como o dos obesos — só dar comida não resolve.

Os especialistas medem a desnutrição pela proporção de crianças com baixa estatura. E medem a fome, ou deficiência energética crônica, pela proporção de adultos magros.

Segundo o professor Monteiro, a pobreza diminuiu substancialmente na década de 70 e muito pouco, ou nada, nas décadas de 80 e 90. Em 1999, alcançava 27,8% da população brasileira e era maior nas áreas rurais do Nordeste (59,7%). Como se sabe, a concentração de renda, das piores do mundo, pouco mudou nesse período, e graves desigualdades regionais persistiram.

A desnutrição e a fome crônica diminuem desde 1974/5.

Em 1996, a desnutrição alcançava cerca de 10% das crianças (0 a 5 anos) e sua distribuição no território nacional acompanhava a da pobreza, com diferenças regionais ainda mais acentuadas — o Centro-Sul urbano, com 4,6%, tendia ao padrão dos Estados Unidos, onde a prevalência é de 2,3%; o Nordeste rural, com 25,2%, se parecia com o Peru (25,8%).

Já a fome crônica afetava, em 1996/7, 4,9% dos adultos — em países onde não há fome, adultos magros chegam a até 5% da população. Do ponto de vista da saúde pública, só o Nordeste rural é vulnerável à fome crônica (tinha prevalência de 7,1% em 1996/7; Haiti, Etiópia e Índia estão nas faixas de 20%, 40% e 50%, respectivamente).

Entre as causas da desnutrição — que provoca aumento da mortalidade e das doenças infantis —, algumas das mais graves são baixa escolaridade materna, falta de cuidados adequados no pré-natal, desmame precoce e falta de conhecimentos básicos de higiene, segundo a professora Ana Lydia Sawaya, da Escola Paulista de Medicina. Nos barracos de favelas estudadas por Sawaya o que mais faz diferença é falta de piso em pelo menos um cômodo e falta de água encanada. Por que o piso sem revestimento é tão nocivo? “O esgoto contamina o solo, onde crianças pequenas pisam descalças e se sentam”, ela responde. Em certas favelas 60% das crianças têm parasitas. Algumas, cinco tipos diferentes de parasitas.

A professora defende atenção integral à saúde infantil, expansão dos programas de agentes comunitários de saúde e de saúde da família, reforço das experiências sérias de combate à pobreza, prioridade para o saneamento básico e a criação de centros de recuperação e educação nutricional. Ela se indigna ao constatar que o dinheiro gasto em distribuição de alimentos faz falta em todas essas frentes.

Misturar os três graves problemas — pobreza, desnutrição e fome —, como acaba de fazer José Graziano na “Folha de S. Paulo” (21/12), serve mal para dar respostas eficazes e bem para engazopar os menos advertidos. Esse marketing renderá votos principalmente em redutos distantes e coronelizados onde dá prestígio distribuir comida. A meta do PT em 2004 é conquistar 1.000 prefeituras, alavanca preciosa para que a reeleição em 2006 dependa menos de alianças com outros partidos.

a espetacularização dos problemas sociais 

NÚMEROS DO IBGE
Nem fome nem obesidade: desigualdade


Mauro Malin
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=308IPB001

Embora o Jornal Nacional de quinta-feira (16/12) tenha feito uma edição admirável com os dados da Pesquisa sobre Orçamento Familiar do IBGE – que permitiu calcular em 3,8 milhões, ou 4%, o número de subnutridos no país, parte deles simplesmente magros –, a mídia toda perdeu mais uma oportunidade de tratar seriamente o problema da desigualdade no Brasil.

Perdeu também a oportunidade de acertar contas, num assunto fundamental, com a espetacularização dos problemas sociais.

Que os números da fome eram exagerados já se sabia há muito. Na segunda edição deste Observatório na internet [julho de 1996] isso era dito com todas as letras. E também não surgiu agora a constatação de que a obesidade, por nutrição desbalanceada e/ou falta de exercício físico, virou epidemia [vide, por exemplo, Diário de S. Paulo, 23/12/2003].

O destaque dado pela TV Globo ao assunto foi um golpe político sério nas manipulações estatísticas que estão por trás da jogada de marketing denominada Fome Zero. A emissora mostrou vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva falando em "43 milhões ou 50 milhões de pessoas passando fome no Brasil", ao lançar o programa, em 2003.

Nem Lula acredita
Quem viu o documentário Entreatos, de João Moreira Salles, que mostra o dia-a-dia da campanha presidencial petista de 2002, sabe que nem Lula acredita nesses números. Mas convinham, e foram usados. O presidente se baseou em dados fornecidos pelo então ministro extraordinário da Segurança Alimentar, José Graziano, e em argumentação publicada numa cartilha divulgada pelo Instituto Ethos em fevereiro de 2003 ("Como as empresas podem apoiar e participar do combate à fome").

A Globo entrevistou o professor Simon Schwartzman – ex-presidente do IBGE –, que apontou a origem das confusões: o mapa da fome elaborado pelo Ipea em 1993, no qual se baseou Betinho para lançar, naquele ano, a Campanha contra a Fome. Betinho, por sinal, foi capa de Veja na ocasião (29/12/1993, "Betinho, o grão da cidadania").

Os veículos impressos não chegaram perto da edição redonda da Globo, que tratou os telespectadores como adultos (isso está longe de ser freqüente...), embora se deva registrar que a Folha de S. Paulo ofereceu, entre os jornais, a melhor cobertura.

Caldeirão de maluquices
Por que a mídia errou na cobertura dos resultados da Pesquisa sobre Orçamento Familiar?

** Primeiro, porque substituiu uma "lebre", a medonha fome de "50 milhões de indigentes", por outra: a epidemia de obesidade. Trombetear é preciso, informar não é preciso (verbo e adjetivo). Há distintos problemas de saúde pública relacionados com a obesidade. Uns são de pobres, outros dos que têm dinheiro bastante para comer à vontade. E tudo foi misturado num caldeirão, para dar lead e manchete. O excesso e a falta de peso. De algum jeito, as coisas têm que andar mal.

** Segundo, porque evita reconhecer sua poderosa e inesquecível contribuição para a veiculação dessas maluquices estatísticas (o mais provável é que a maior parte dos atuais editores – mas não todos – nem tenha consciência plena do problema).

Maluquices que jogam o país para baixo, tornam as soluções quase "impossíveis" (se o problema é "imenso", como resolvê-lo?), desanimam os pesquisadores sérios, abrem as portas para todo tipo de demagogia e patetadas regidas por boas intenções. E vigarices.

Dados incorretos
No domingo (19/12), a Folha, parabéns, dava na capa: "Déficit oficial de moradias é exagerado, afirma estudo". A diferença é de 7,2 milhões de casas, número com que trabalha o Ministério das Cidades, baseado em estudos da Fundação João Pinheiro, para 4,1 milhões, total apurado em estudo do IBGE e da Unicamp. Quanto custa essa diferença, ainda que apenas no plano da percepção?

O maior problema dos dados inflacionados é que eles constituem uma espécie de lastro para atuação sem critério de entes públicos e não-governamentais, e impedem uma avaliação correta, mediante participação democrática, das políticas públicas.

** Terceiro, porque ela, a mídia, leu as estatísticas e não viu o dado mais relevante, que esteve, está e continuará no centro dos dilemas brasileiros: a fome e a desnutrição recuaram espetacularmente – não acabaram, e as estimativas da desnutrição de crianças se somarão em breve às dos adultos –, mas a concentração de renda permaneceu inabalável, e desigualdades regionais sérias persistem. Nisso os resultados de 2002-03 são semelhantes aos de 1973-74. Nem as políticas sociais dos últimos dez anos conseguiram alterar o quadro.

A manchete mais espetacular seria: "Mídia se despede da década de 1990" – durante a qual se usou e abusou de dados incorretos sobre os dramas, nunca suficientemente descritos ou avaliados, da população brasileira.

trata-se da continuação do modelo neoliberal  

Senado aprova Parcerias Público-Privadas
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/143952.html

O Senado Federal aprovou, com 50 votos favoráveis e dois contrários, o substitutivo da Casa ao projeto de lei que permite a criação das Parcerias Público-Privadas (PPPs), iniciativa apontada pelo governo federal como uma alternativa à falta de recursos públicos para investimentos em obras de infra-estrutura, como a construção de rodovias, portos e ferrovias.

O projeto trata das regras para viabilizar investimentos conjuntos do setor produtivo (dinheiro privado) e dos governos (dinheiro público). Entre os pontos mais polêmicos, está a garantia de prioridade no Orçamento aos pagamentos de obras e serviços tocados mediante parcerias--a chamada cláusula de precedência. A medida é defendida pelos fundos de pensão e pelas empreiteiras, potenciais parceiros nas PPPs.

Os senadores debateram por mais de três horas antes de votar o texto. O debate entre a base do governo e a oposição colocou a aprovação do projeto em risco, já que muitos parlamentares utilizaram o direito de comentar o texto.

Um dos principais críticos do modelo apresentado de PPPs, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), disse que estava perplexo com a proposta , pois ela não representava a trajetória do PT como partido de esquerda.

"Trata-se da continuação do modelo neoliberal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)", disse o parlamentar. Em resposta, o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que, ao contrário do que afirmou o senador Pedro Simon, as PPPs não são a continuação do projeto neoliberal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Iremos atrair o investimento privado assegurando que o patrimônio voltará ao povo brasileiro, em um período de cinco a 35 anos", afirmou o senador. O texto aprovado é resultado de um acordo entre governo e oposição, que gerou uma série de mudanças no projeto aprovado pela Câmara dos Deputados.

Com as alterações, o texto aprovado no Senado retornará à Câmara para novas votações. Os deputados, no entanto, devem votar o projeto somente no ano que vem.

Acerto de contas  

Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/12/2004

A punição de três policiais federais que participaram da prisão do publicitário Duda Mendonça há dois meses, numa rinha de galos no Rio de Janeiro, não é mera coincidência. Trata-se de um claro acerto de contas, cujo efeito mais evidente é a sinalização de que o espírito "republicano"proclamado pelo ministro da Justiça, Mário Thomaz Bastos, como norte das ações da Polícia Federal, tem seus limites.

De agora em diante, os policiais que integrarem equipes de investigação e prisão de gente com estreitas ligações no centro do poder, ficam sabendo de uma coisa: suas ações podem gerar reações de vingança e, portanto, talvez seja conveniente pensar duas vezes antes de agir.

O ministro Thomaz Bastos e o superintendente-geral da PF, Paulo Lacerda, sempre ciosos na defesa da corporação ante suspeitas de ingerências políticas em suas ações, ficaram calados quando os agentes Luiz Amado e Marcelo Guimarães foram transferidos de seus postos, em novembro, e assim permaneceram agora em relação ao afastamento do delegado Antônio Carlos Rayol.

Rayol comandou a operação da qual participaram Amado e Guimarães e foi ele quem recebeu de Duda Mendonça, no momento da prisão, a valiosa informação de que estava diante de um "assessor do presidente". "Pensei que fosse assessor do presidente do clube", diria o delegado depois, referindo-se à agremiação clandestina objeto da operação e desmoralizando o "sabe com quem está falando".

Na ocasião, doutor Márcio Thomaz Bastos também reagiu, como ele gosta de dizer, com "espírito republicano". Chamado por Duda ao telefone na frente dos p+oliciais, orientou que ele procurasse um advogado.

Muito se especulou a respeito da ligação entre a prisão e a proximidade do segundo turno da eleição em São Paulo - a PF teria feito de propósito, só para prejudicar a candidatura de Marta Suplicy -, mas o governo ficou impassível, como de resto tem ficado em relação às complicações de seus amigos e aliados com a polícia.

Por isso mesmo a retaliação nesse caso destoa do comportamento geral. Bem como o silêncio do ministro e do superintendente não combina com a loquacidade habitual quando se trata de capitalizar as ações da PF como exemplo da eficiência governamental.

Talvez ambos pensem que assim, lidando com o assunto com a naturalidade reservada aos atos de rotina, a vindita passe despercebida. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, a transferência repentina de três agentes integrantes de uma mesma operação que flagrou em ato ilegal um "assessor do presidente". Da República, bem entendido.

Além do que o afastamento dos policiais deu-se até agora sem explicações de caráter funcional. Como a alegação de ocorrência de irregularidade legal na prisão dos sócios do clube de brigas de galo está fora de cogitação, pois a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra os acusados, sobram razões de outra ordem. Mas dificilmente de outra origem que não a prisão de Duda Mendonça.

Enquanto não forem expostos os motivos e, se o comando da PF e o ministério da Justiça continuarem achando desnecessário fazer pelo menos um gesto de reverência ao discernimento alheio, fica patente a consecução da represália.

E, com ela, o forte indício de que algum fundamento realmente há nas suspeitas sobre a preservação de critérios de impessoalidade no trabalho da Polícia Federal. Não por infiltrações na base, como se fala de quando em vez, mas por orientação da cúpula.

terça-feira, dezembro 21, 2004

porque temos que entregar estas coisas de mao beijada ? 

Brasil vai transferir tecnologia de álcool e biodiesel para o Paraguai

http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/143913.html

O Brasil começa a passar o conhecimento que adquiriu nos últimos 30 anos na área de combustíveis renováveis e não poluentes para outros países: o governo assinou convênio com o Paraguai que vai permitir a transferência de técnicas para aquele país, que vão desde o plantio até a produção de álcool ou biodiesel, produzido a partir de óleos de mamona, dendê, girassol e outros tipos de planta.

De acordo com o secretário adjunto de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Antônio Sérgio Martins Mello, essa parceria demonstra a liderança do pais no setor de combustíveis renováveis e não poluentes.

"Na realidade, o Brasil tem liderança no mundo no acúmulo de conhecimento. Temos capacidade de fornecer tecnologia, equipamentos e produtos para qualquer país interessado em iniciar a produção de combustíveis alternativos" informa o secretário.

O secretário destacou que o maior benefício será para a natureza, com a redução da emissão de gás carbônico na atmosfera, que reduz a poluição do ar. O gás carbônico aumenta a temperatura da terra e está fazendo um buraco na camada de ozônio, que protege o planeta dos raios do sol.

"Um outro fator relevante é que o plantio da biomassa dará a possibilidade de o Brasil ter a venda do crédito de carbono no âmbito do Protocolo de Kioto, tratado internacional que pretende, entre outras coisas, que os países reduzam a emissão de gases poluentes no planeta. Nós ainda não temos os cálculos de quanto vai representar isso de recursos para o país, mas sem dúvida é um grande atrativo. Ao liberar a produção de biomassa, o Brasil se enquadra no Protocolo de Kioto, explica o secretário Antônio Sérgio Martins Mello.

O Secretário informou ainda que países como China, Índia e Japão estão interessados na tecnologia brasileira de desenvolvimento de combustíveis alternativos.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

inutilidade inutil realmente sem utilidade 

Claro, esta informacao serve para fabricantes de roupas, movies, imoveis, automoveis; treinadores de times de volei, basquete; empresas especializdas em pintura de rodape', etc.

http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/nacional/143143.html

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002-2003 revela que a altura média do brasileiro não ultrapassa 1,70 m. Entre os homens, o peso médio é de 69,4 kg e a altura, de 1,69 m. Já as mulheres têm peso médio de 59,6 kg e altura de 1,58 m.

No meio urbano, homens e mulheres são mais altos e mais pesados. A média de altura entre as mulheres fica em 1,58 m e entre os homens, em 1,70 m. O peso médio dos homens é de 70,6 kg e o das mulheres, de 59,8 kg.

No campo, a altura dos homens fica em 1,67 m e o peso, em 64,3 kg. Entre as mulheres, o peso médio é de 57,9 kg e a altura, de 1,56 m.

desempenho da economia e violencia 

Hummmm ! Os cucaratias tambem tem seus problemas com criminalidade.
Sera' que e' por isso que fizeram aquelas reportagens sobre o Brasil ?

Revanche `a parte, nao e' so' desempenho economico que influencia violencia, mas os numeros sugerem que, no minimo, ha' forte correlacao entre baixo desempenho economico e alto indice de violencia.


Argentina registra 143 denúncias de violência por hora
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/internacional/143511.html

A sensação de insegurança cresce na Argentina, onde estão sendo denunciados 143 crimes a cada hora, entre assaltos, assassinatos, estupros, acidentes de trânsito e lesões causadas por brigas, segundo as últimas estatísticas do Departamento de Polícia Criminal (DPC). Os dados revelam que o nível de violência no país, depois de um pico histórico atingido durante as crises econômicas de 2001/2002, retrocede muito lentamente.

Segundo as estatísticas, o crime teve uma diminuição de pouco mais de 1% de acordo com uma projeção feita no primeiro semestre deste ano em relação a todo o ano de 2003 e de quase 5% se forem comparados os primeiros semestres de cada ano, mas a sensação de segurança continuou crescendo. Para Mariano Ciafardini, diretor de Política Criminal do Ministério da Justiça, o retrocesso está vinculado à gestão do Estado. As estatísticas sobre assassinatos, por exemplo, revelam 6,32 homicídios para cada 100.000 habitantes, muito distante dos índices observados no Chile (3 pontos) e Canadá (1,8 ou 1,7 ponto).

No entanto, ainda guarda uma considerável distância dos índices observados no Brasil (19 para cada cem mil habitantes) ou da Colômbia, que registrou 65 pontos em 2000.

O resultado que as autoridades destacam como mais positivo é a diminuição dos assassinatos, em particular na província de Buenos Aires, onde fica a Grande Buenos Aires (periferia da capital), considerada o local mais perigoso do país.

Na província, em 2003 foram registrados 115 assassinatos por mês e entre janeiro e junho dste año, a cifra se reduziu a 89,5. Já os seqüestros, um fenômeno ampliado desde a crise, tem um baixíssimo índice de denúncias.

Em 2003, contra 300 seqüestros denunciados, Ciafardini calcula que houve 3.000 casos e nada indica que tenham diminuído este ano.

no longo prazo, necas de pitibiribas 

http://www.financeone.com.br/noticia.php?lang=br&nid=12284

A histórica incapacidade de formação de capital impedirá o crescimento sustentado do Brasil e o governo Lula, apesar de bem-sucedido na política macroeconômica de curto prazo, não terá condições nem tempo para deflagrar um processo de mudança até 2006. A afirmação é do economista e professor do Ibmec São Paulo, Eduardo Gianetti da Fonseca.

Ele afirma que o Estado brasileiro cresceu demais nos últimos anos e é preciso mudar a estrutura fiscal do País para que famílias e empresas possam investir uma parcela maior de suas rendas, em vez de repassá-la ao setor público.

"O verdadeiro teste do governo Lula ainda está por vir, e a hora da verdade vai ser o momento em que a sociedade brasileira se der conta de que, com a atual estrutura fiscal e todos os problemas de microeconomia que não ainda conseguimos resolver, o crescimento sustentado possível hoje no Brasil é, na melhor das hipóteses, de moderado a baixo", afirma Gianetti.

"Aí será uma nova etapa no debate público porque teremos de entender que não é a golpes de política monetária e cambial que retomaremos o caminho do crescimento sustentado. Vamos ter de mexer em coisas estruturais que até agora não foram objeto da atenção do governo."

Segundo ele, quando essa discussão estiver mais presente entre os brasileiros, no entanto, o governo estará na fase final do seu atual mandato e, dessa forma, terá pouco capital político para promover reformas microeconômicas em caráter profundo. "A popularidade do Lula tende a cair à medida que o baixo crescimento mostrar os limites do possível no Brasil."

Gianetti elogia a política monetária conduzida pelo Banco Central, dizendo que é "muito bem-sucedida e está funcionando exatamente como os manuais de economia ensinam", pois foi capaz de domar a inflação em aceleração em 2002, quando o governo Lula tomou posse, e conduzir o País à recuperação cíclica vivida neste ano.

Ele ressalva, porém, que, no longo prazo, a fórmula utilizada até agora será ineficaz. O que mais preocupa Gianetti é a baixa formação bruta de capital fixo no Brasil, que chega a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), um nível baixo em relação aos primeiros anos do Plano Real e ainda menor quando comparado a países asiáticos de alta crescimento econômico, como a China, onde a poupança chega a 40% do PIB.

"Se nós incorporarmos o capital humano nesta equação, o quadro brasileiro fica ainda pior. Para que haja crescimento sustentado elevado, uma série de pendências, de problemas terão de ser resolvidos. É questão da agenda microeconômica, da baixa poupança, de investimento em infra-estrutura, de regulamentação", afirma o professor, acrescentando que o Estado ganhou proporções demasiadas e acabou absorvendo recursos que, se estivessem no setor privado, estariam sendo investidos em ampliação de capacidade produtiva.

Os elevados juros pagos sobre a dívida, o déficit da Previdência e o crescimento dos níveis subalternos de governo - a multiplicação de municípios e o aumento do funcionalismo municipal e estadual - representam juntos uma quantidade enorme de dinheiro que não chega ao contribuinte na forma de educação, saúde, infra-estrutura e segurança pública.

"Somando a carga tributária com o déficit nominal chegamos perto de 40% do PIB. Preocupa o fato de, apesar da enorme fatia de recursos que o Estado extrai do setor privado, ele contribui com uma faixa de apenas 2% a 2,5% do PIB para a formação de capital."

O picadeiro do Itamaraty 

Augusto Antunes
No Minimo
18.12.2004

Teoricamente, faz um ano e quatro meses que Itamar Franco é embaixador do Brasil na Itália. Teoricamente, vale insistir, sublinhando o advérbio com traços vistosos. Na prática, a representação em Roma está virtualmente acéfala desde o momento em que o Senado aprovou a indicação do ex-presidente da República. Há um ano e quatro meses.

Amuado com o volume considerável de senadores que votaram contra a indicação, Itamar reagiu como de praxe: zangado como um moleque que não encontra o estilingue, o setentão briguento enfurnou-se em Juiz de Fora. Ficou vadiando por ali nos quatro meses seguintes, já recebendo o salário calculado em 8 mil dólares. Só então se animou a embarcar rumo ao presente recebido de Lula.

É o que se pode chamar de empregão, não só pelo salário invejável. A embaixada ocupa o Palazzo Pamphilli, uma das preciosidades quinhentistas que garantem a presença da Piazza Navona em qualquer lista das principais relíquias arquitetônicas de Roma. A agenda do chefe não é de deixar estressado nem hipertensos de carteirinha. Não existem pendências graves entre os dois países. Questões a resolver surgem só de vez em quando: nada que um segundo-secretário não possa administrar. O embaixador tem tempo de sobra (além de dinheiro) para constatar que, em certos postos e lugares, a vida de fato vale a pena.

Mas Itamar é Itamar. Monoglota radical, evita até perguntar como está o tempo ao porteiro italiano que fala português com sotaque. Radicado no coração do planeta, só pensa nas miudezas de Juiz de Fora, de Minas e do Brasil. Nessa ordem. Segue fazendo o que tem feito desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu transformá-lo em diplomata, na tentativa de manter à distância o antecessor inconveniente: nada. Trancado na embaixada, fica planejando a próxima viagem ao Brasil.

Foram várias as feitas neste ano em que Itamar teoricamente habitou o palácio romano. (Teoricamente, repita-se.) Algumas semanas do primeiro semestre foram consumidas em Minas. Em julho, reapareceu na terra decidido a eleger prefeito de Juiz de Fora o amigo Custódio de Mattos, deputado federal pelo PSDB. Derrotado, Itamar foi ficando. Agora comunicou ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que não quer mais a embaixada na Itália. Ouviu do chanceler que, se for do seu gosto, voltará a chefiar a representação brasileira na Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington.

É o fim do mundo? O fim da picada? É só o Brasil de sempre, constatação que, simultaneamente, atenua as coisas e as agrava. Atenua por lembrar que todos os governantes republicanos mancharam o Itamaraty com nomeações baseadas em critérios políticos, sem levar em conta os interesses nacionais. Agrava por reafirmar que, nesse campo, FH e Lula seguem quesitos e métodos lastimavelmente parecidos.

A invenção do Itamar embaixador não foi o único absurdo diplomático produzido por Fernando Henrique. A permanência do formidável topete nos quadros do Itamaraty não foi a única bofetada desferida por Lula na face da instituição outrora respeitável. Deve-se ao atual presidente, entre outras audácias, a indicação do ex-deputado Paes de Andrade para o posto de embaixador do Brasil em Portugal.

Como Itamar, o inverossímil fundador da República de Mombaça está na praça há meses. Ganha milhares de dólares graças ao emprego em Lisboa, mas não dá as caras no serviço. Primeiro encarapitado em palanques do Ceará, agora combatendo em favor do governo nas escaramuças domésticas do PMDB, Paes de Andrade não está pensando no dia da volta.

Preocupado com a preservação da própria imagem, o Itamaraty mantém em sigilo velhos documentos considerados confidenciais. Alguns envolvem a Guerra do Paraguai, outros tratam de negociações sobre demarcação de fronteiras nas quais diplomatas nativos usaram argumentos em espécie. Enquanto guarda essas velharias em segredo, permite (e patrocina) a exposição pública de embaixadores como Itamar ou Paes de Andrade.

Não há imagem que resista a um picadeiro desses.

domingo, dezembro 19, 2004

Contas de Palocci prefeito são rejeitadas  

Sem comentarios ...

http://www.estadao.com.br/nacional/noticias/2004/dez/19/1.htm

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo(TCE) rejeitou na sexta-feira as contas do ex-prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci Filho, no exercício de 2002, ano em que ele renunciou ao cargo que ocupava pela segunda vez para assumir o Ministério da Fazenda, para o qual fora convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu vice, Gilberto Maggioni (PT), que assumiu a prefeitura no dia 21 de novembro de 2002, também foi atingido pela decisão do TCE.

Foram constatadas, segundo o relatório do tribunal, 20 irregularidades administrativas, entre elas um elevado déficit orçamentário, o crescente endividamento e a insuficiente aplicação de recursos em educação.

Segundo a oposição ao governo petista, o maior rombo nas contas públicas do município aconteceu no projeto “Vale dos Rios”, que previa - entre outras obras - a construção de uma ponte pênsil, num custo de R$ 12 milhões. Somente o projeto consumiu R$ 4,6 milhões e o local desapropriado para iniciar a obra da ponte abriga hoje uma praça pública.

"Fora isso a atual administração vai deixar um déficit de R$ 37 milhões de restos a pagar do exercício de 2003 e de cerca de R$ 50 milhões de janeiro a novembro deste ano. Vamos ver de quanto será o prejuízo em dezembro”, afirma o vereador Nicanor Lopes (PSDB).

O relatório do TCE deverá ser votado pela Câmara de Ribeirão Preto até 2006. Caso os vereadores referendem o relatório, a lei estabelece que Palocci e Maggioni podem ficar inelegíveis por até oito anos, além de serem multados pelos danos causados aos cofres públicos. Maggioni e seus assessores não foram encontrados para comentar o assunto.

cartorios protestam contra burocracia 

Burocracia e papelada no Brasil incomodam até mesmo os cartórios
http://oglobo.globo.com/jornal/Economia/147554604.asp

A burocracia brasileira é tanta que até os cartórios, principais beneficiários do sistema, reclamam. A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), entidade representativa do setor, defende a uniformização das regras que orientam o trabalho dos 22 mil cartórios no país. Atualmente, cada estado tem normas diferentes, definidas pelas corregedorias dos respectivos Tribunais de Justiça. Para a Anoreg, há excessos.

— As pessoas pensam que os cartórios é que burocratizam. Mas às vezes é a própria lei ou as corregedorias — diz o presidente da entidade, Rogério Portugal Bacellar.

Ele cita o caso do Paraná, onde, numa compra e venda de imóvel, é preciso apresentar certidões negativas de débito em dois momentos distintos: na assinatura da escritura e no registro.

— É excesso de burocracia. Por que apresentar as mesmas certidões ao assinar a escritura e, depois, ao registrar o imóvel? — reclama Bacellar.

Em Minas Gerais, a Anoreg apoiou ação judicial para contornar outra exigência considerada descabida: motoristas com multas de trânsito a pagar não recebiam do governo estadual a certidão negativa de débito. Sem ela, não podiam vender seus imóveis.

Regras diferentes em cada estados

A Prefeitura de Uberlândia ajuizou ação direta de inconstitucionalidade e obteve liminar favorável do Tribunal de Justiça de Minas suspendendo a exigência da certidão negativa estadual.

— A liminar acabou com uma burocracia que só atrapalhava — diz o presidente da Anoreg-MG, Wolfgang Jorge Coelho.

Em Brasília, o tabelião do 6 Ofício de Notas do Distrito Federal, José Eduardo Guimarães Alves, faz coro:

— Não somos nós que exigimos reconhecimento de firma ou autenticação de cópias. São os órgãos públicos, as partes. A principal função de um tabelião é dar segurança aos atos.

Ele lembra que os cartórios devem indenizar eventuais prejuízos, caso atestem como verdadeiro um documento falso.

— Você compraria o carro de um desconhecido sem firma reconhecida? — reforça Bacellar.

Crítico ferrenho da burocracia e do apreço a certidões e carimbos no país, o professor de administração da Universidade de Brasília (UnB) José Matias Pereira relativiza a segurança enfatizada pelo tabelião e rebate o argumento, usando o mesmo exemplo do carro:

— Se o veículo está ilegal no Detran, não é um carimbo que mudará isso. Ainda mais num país com corrupção endêmica como o Brasil. O que há é uma falsa sensação de segurança — diz o professor Pereira.

A existência de normas diferentes para o funcionamento dos cartórios nos estados dificulta a vida de advogados, tabeliães e das partes, argumenta o presidente da Anoreg. Um exemplo é a divisão de bens de uma herança, quando há imóveis em mais de um estado. Para Bacellar, o Ministério da Justiça ou os próprios corregedores dos Tribunais de Justiça poderiam tomar a iniciativa da uniformização.

A falta de um padrão nacional resulta em diferentes tabelas de preços. Impostos e taxas também variam de um estado para outro. Segundo Bacellar, o governo estadual e a Justiça abocanham 53% do que se paga aos cartórios em São Paulo, percentual que fica em apenas 0,2% no Paraná.

A Anoreg não divulga estimativas de faturamento do setor, que gera 500 mil empregos diretos no país. A entidade agora oferece serviços via internet em oito estados, os chamados cartórios 24 horas. Pelo computador, é possível obter certidões sem a necessidade de deslocamento.

protesto etilico contra a corrupcao 

http://oglobo.globo.com/jornal/rio/147554418.asp

Tudo começou como uma brincadeira , mas agora a coisa está ficando séria. Desde que o ator Otávio Augusto sugeriu que o Belmonte mudasse o nome do chope garotinho (aquele servido em copo pequeno) para oscarito, em protesto contra o ex-governador e atual secretário de Governo e Coordenação Anthony Garotinho (...) as adesões não param de se multiplicar. Clientes e donos de bares estão se unindo numa campanha que já rebatizou o chope pequeno de moleque, getulinho, grande othelo, manezinho, brasileirinho, robertinho e miúdo. (...)

— Esse apelido estava me dando indigestão. O chope é muito bom, é inadmissível usar um nome com um significado tão corrupto — desabafa Otávio Augusto. (...)

o balofismo retórico do PT, uma espécie de versão cinta-larga da economia política 

Lula gorducho

Por Reinaldo Azevedo
http://www.primeiraleitura.com.br/auto/entenda.php?id=5102
Edição nº 1332, 18 / 12 / 2004

O Brasil, como Lula, está gordo demais. Precisa é emagrecer. Todos já sabiam disso. Lula talvez não o soubesse de fato. Mas não sabia, como não sabe, um monte de outras coisas. A Presidência lhe serve para animar o auditório, não para encaminhar soluções. O PT talvez soubesse. A pregação de um país faminto servia a seu projeto de poder sem programa de governo. Não faz tempo, vimos o presidente pregar o seu Fome Zero Mundial. Anseia espalhar a bobagem nativa mundo afora.

O jornalismo é culpado de muita coisa. Porque omisso e condescendente com o PT. Não é assim? Peço aos senhores que leiam o trecho que segue em itálico. Foi escrito por Rui Nogueira e publicado neste Primeira Leitura no dia 28 de janeiro de 2003. Sim, é isto mesmo: Lula estava no poder havia apenas 28 dias. Prestem atenção: “Os descaminhos do Fome Zero provam que o PT chegou ao poder sem saber, ao menos, o que não queria fazer. E insiste em dizer que o Brasil tem 46 milhões de esfomeados. Não tem. A maioria dos pobres brasileiros pode não consumir todas as calorias recomendáveis, mas não passa fome. A falta de renda permite apenas que eles comam. Há entre 46 milhões e 54 milhões de pobres, população de baixa renda onde estão incluídos 25 milhões de muito pobres, gente que vive com menos de US$ 1/dia. Entre esses, um contingente difícil de dimensionar é que passa fome — em bolsões do interior nordestino, a fome assemelha-se à fome africana.”

Dois anos depois, eis o que diz o médico Carlos Monteiro comentando a pesquisa do IBGE que evidencia o problema da obesidade no país: “A deficiência de calorias vem diminuindo no país e está praticamente restrita às áreas rurais do Nordeste, o que torna o problema mais fácil de ser eliminado”. Sim, orgulho-me bastante do site que publicou aquele trecho e da revista Primeira Leitura, que, em setembro de 2003, estampou em sua capa: “O Fome Zero não existe”. Não recupero a patrulha de que a revista foi vítima, inclusive de suspostos jornalistas do apparatchik petista, porque sua irrelevância não justifica o esforço.

Escandalizo-me sempre: Lula não tem superego. Qualquer outro morreria de vergonha de botar o nariz fora da porta. Ao contrário, ele exibe orgulho e está a um passo de se julgar portador dos dons carismáticos. O Brasil que ele dizia existir para se eleger não existia. As soluções que ele dizia existir para a economia não existiam. E certo jornalismo o ajudou nisso com seu misto de consciência politicamente correta e ignorância. E agora embarca em outra mentira, a de que este é um governo de mera continuidade. Na condução econômica, até agora, é, sim. Na questão social, assiste-se a um misto de paralisia com desmonte da máquina do Estado. Uma vergonha! Mas, agora como antes, afirmá-lo é considerado um gesto de deselegância.

A companheirada petista, diga-se, é um bom exemplo de retórica e de corpo gorduchos. Basta atentar para a circunferência das cinturas e dos discursos. Nesse caso, mesmo o festejado e discreto Antonio Palocci, por cujo temperamento e desempenho (nos marcos dados) também tenho simpatia, não escapa. Se eu fosse militante petista, iria cobrar do ministro quando e em que circunstâncias a economia reunirá as pré-condições para o desenvolvimento sustentado de fato e para uma recuperação consistente da renda dos trabalhadores. Palocci não é bobo. Até que o brutal superávit não dê conta nem de pagar a conta dos juros, está numa encalacrada. Até que a economia dependa exclusivamente, como depende, da boa vontade de estranhos, a aplaudida estabilidade não passa de retórica balofa.

Mas, admito, o ministro cumpre o seu papel. O jornalismo que lhe faz as mesuras sem questionamento é que deveria ter vergonha. Mas não tem. Como não teve em silenciar antes diante dos descalabros do Fome Zero e, pior, de declarar a sua adesão — sim, isto aconteceu em alguns casos — ao programa. O balofismo retórico do PT, uma espécie de versão cinta-larga da economia política, seduz. Vejam o caso do salário mínimo, anunciando com cinco meses (!) de antecedência.

Área externa
Mas em nenhum outro setor o acúmulo de gordura venosa é tão grande quanto na política externa. O caso Brasil-Mercosul-Argentina fala por si mesmo. Trata-se de um fracasso retumbante. E Néston Kirchner, da combalida (mas em recuperação, o que o Brasil se nega a reconhecer) Argentina faz picadinho das pretensões hegemônicas brasileiras. Os ditadores Hu Jintao (China) e Putin (Rússia) vieram ao Brasil, levaram tudo o que pediram e não nos deram nada em troca.

O Chinês criou algumas facilidades adicionais para a carne brasileira, levou no bolso o nosso apoio ao status de “economia de mercado” — uma piada grotesca — e deu uma vistosa banana para a indústria. Já o Torquemada da Chechênia, o infanticida da Ossétia do Norte, arrancou nosso apoio para o ingresso na OMC, manteve o embargo à carne e ainda quer nos vender aviões. O Itamaraty, que anseia negociar sozinho, sem o concurso de outros ministérios (Desenvolvimento e Agricultura), foi humilhado em solo pátrio e ainda deu tapinha nas costas de seus verdugos.

No caso da China, o empresariado nativo foi solenemente desprezado. Estamos dando corda àqueles que pretendem nos enforcar logo adiante. O “sucesso” adicional da diplomacia fica por conta dessa calamidade que é o envio de soldados brasileiros ao Haiti. Mas quem, afinal de contas, ousa dizer, como disse o ex-presidente FHC, que o rei está nu? A retórica gorducha oficial afaga e afoga o jornalismo.

De volta ao social
O Brasil, como se sabe agora, engordou bastante nos últimos 20 anos, seja na tal década perdida, a dos anos 1980, seja naquela do suposto neoliberalismo, a dos 1990. Houve redução drástica da mortalidade infantil e aumento significativo da expectativa de vida. Todo o discurso do PT para o social pertencia, de fato, aos anos 60. O partido articulava-se como uma soma de vários atrasos. Nas áreas urbanas e na dimensão propriamente econômica de sua militância, juntava o discurso socialista (imaginem só: socialismo em plenos 80!) com corporativismo sindical. No seu, vamos dizer, imaginário rural, via um exército de famintos cercando as cidades. Conversa mole.

Por isso, no dia 21 de maio de 2003, escrevi no site: “Chegou comida aonde tinha de chegar? Não! Criou-se o tal cadastro de famélicos? Não! O máximo que o governo conseguiu na área foi uma redução estatística formidável. Lula falava em quase 50 milhões de miseráveis na campanha, e o PT agora diz que são pouco mais de 20 milhões. Aonde foram parar os quase 30 milhões? Sabe-se lá... Em algum exagero retórico preparado para ganhar eleições e influenciar incautos.”

Ocorre que o erro de diagnóstico — ou pilantragem política — não é irrelevante, não. Sabe-se agora que a fome, fome mesmo, está restrita a alguns bolsões do país. Exterminá-la é questão de eficiência administrativa mínima. Uma política assistencialista decente chega lá. Basta tirar do meio do caminho a corja de vagabundos que desvia os recursos, mas que hoje constitui a base política de aliados do Planalto. E, claro, é prciso dar o bilhete azul a Patrus Ananias.

Se e quando a fome, que é mínima, acabar no país, os nossos reais problemas estarão apenas começando. A unificação dos programas sociais — outra balela do balofismo — destruiu o programa Bolsa Escola. A incompetência oficial ainda não se deu conta de que os rigores da desigualdade social brasileira não se revelam, pois, na fome extrema, mas na educação de baixa qualidade, no precário atendimento à saúde, na insegurança pública, que entrega os milhões de brasileiros que vivem na periferia das metrópoles ao controle do crime organizado.

Enquanto a burocracia está mobilizada para combater um problema que não existe, o futuro do país vai sendo cotidianamente condenado. A primeira e urgente tarefa seria destacar do conjunto dos programas sociais o Bolsa Escola, submetendo-o a um gerenciamento profissional. Lula conseguiu a façanha de transformar os recursos destinados à escolaridade em demagogia gordurosa.

Finalmente...
Vivemos realmente dias interessantes! Lula inventou um país no qual só ele poderia ser presidente. Era o país da fome africana, conduzido por malvados que praticavam política de juros para enriquecer banqueiros e extorquir o povo; que dava de mão beijada, a preço de banana, as estatais brasileiras; que mantinha, por pura malvadeza, a pão e água o funcionalismo público; que queria, por crueldade, fazer a reforma da Previdência, só para punir os velhinhos; que impunha a Lei de Responsabilidade Fiscal (contra a qual o PT recorreu ao Supremo) aos Estados e municípios só para fazer as vontades do FMI; que buscava fabricar um superávit primário mínimo para satisfazer as vontades da banca financista.

Esse era a Lulolândia. Pois bem. O balofismo retórico chegou ao poder. A fome africana está mais para gordura americana. Os juros altos provam que o presidente não é um aventureiro. As regras claras da privatização foram substituídas pelas obscuras regras das Parcerias Público-Privadas; os servidores hão de entender que o governo não pode gastar o que não tem; a reforma da Previdência é um ato de coragem; a Lei de Responsabilidade Fiscal prova que o governo é sério, e o superávit primário maior do que cobra o FMI é condição para o Fundo deixar o país em paz.

Os nem tão lampedusianos assim, dedicados à tarefa de conservar anéis e dedos, dão graças aos céus que assim seja. Antes o Lula conservador, com laivos de reacionarismo, do que aquele da Lulolândia. E eu, no entanto, lhes digo. Estamos contratando, neste exato momento, algumas tragédias futuras. A máquina brasileira de gerar desigualdades — sem fome! — está a plena carga. E, desta feita, destruindo o que já chegou a funcionar, a exemplo do Bolsa Escola.

Mas eles estão felizes e rechonchudos. E muito orgulhosos de sua obra. Se querem saber, posso me orgulhar, mas não ficar feliz, de tudo o aque aqui se escreveu em 2003. Sensações que certamente terei em 2006 do que se está escrevendo nos estertores de 2004.

Vai dar certo? Pode ser mero prurido moral, mas duvido que algo que nasce da mentira e se constrói no erro possa nos conduzir a um futuro cintilante. Cintilantes mesmo são as bochechas gorduchas do discurso oficial.

sábado, dezembro 18, 2004

o assunto precisa ser despido de toda a demagogia para ser encarado de forma séria  

Pesos e medidas

O Globo On Line
Sábado, 18 de dezembro de 2004

A reflexão do então candidato Lula, às vésperas da eleição de 2002, sobre a dimensão da fome no Brasil é uma das maiores contribuições ao jornalismo do filme “Entreatos”, de João Moreira Salles. Ele consegue a declaração que contraria todas as outras feitas durante 20 anos pelo presidente e por seus correligionários. O exagero dos problemas sociais sempre foi um dos obstáculos para que o Brasil supere esses problemas.

Procurar a dimensão exata de um problema é o primeiro passo, indispensável, para enfrentá-lo. Durante anos, o grupo que está atualmente no poder brandiu números inflacionados da pobreza e da fome no Brasil e reagiu contra qualquer análise para encontrar dimensões mais realistas dos problemas sociais brasileiros.

A confissão de Lula no filme de que não acreditava no próprio número que dizia em todas as entrevistas e textos de campanha revela que o assunto precisa ser despido de toda a demagogia para ser encarado de forma séria no Brasil.

“Quantas pessoas passam fome neste país, Gilberto? Eu acho o número de 53 milhões tão absurdo! Ou de 40 milhões tão absurdo!”, disse Lula.

Semana passada, o IBGE informou a existência de quatro milhões de adultos vulneráveis à desnutrição. O número vai crescer no ano que vem quando for divulgado o cálculo sobre crianças e adolescentes com sinais de desnutrição.

Durante a campanha, Lula divulgava números nos quais não acreditava, como os que estavam no programa Fome Zero, que garantia que era de quase 50 milhões de pessoas o número de brasileiros que deveriam ser abrigados no programa de combate à fome que propunha como carro-chefe de suas políticas sociais. Ele já sabia e mesmo assim manteve o número inflacionado ou discutiu com seus assessores e perdeu a discussão? Essa é a dúvida.

Há exageros também até em números apresentados com roupagem de veracidade técnica. Como cada instituto de pesquisa usa terminologias diferentes, isso aumenta a confusão em que o cidadão brasileiro fica quando o assunto é a dimensão dos miseráveis, indigentes, famintos. Parece haver um estranho campeonato entre os políticos — e infelizmente até entre alguns estudiosos — sobre quem consegue o pior número sobre as nossas misérias.

Como palavras como miserável, indigente parecem, no senso comum, iguais a “pessoas que não têm sequer o que comer”, isso só faz aumentar o ruído. Usar expressões como “pobres” e “extremamente pobres” pode ser mais eficiente do ponto de vista da comunicação.

Sempre haverá um grau de arbitrariedade em qualquer análise. Ao definir os critérios de medição, o analista escolherá uma linha abaixo da qual as pessoas se enquadram num grupo e acima da qual, mesmo que sejam poucos reais de renda a mais, o cidadão estará no outro grupo. Mostrar essas pequenas diferenças para tentar desmoralizar a idéia de haver um ponto de corte é ignorar o fato de que qualquer estudo, aqui ou em qualquer lugar do mundo, estabelece uma linha arbitrária. Esta é a única forma de dar o primeiro passo em qualquer avaliação. Mas o Brasil precisa de um esforço dos institutos de análise para que as medidas conversem entre si, um esforço que neutralize o interesse político de produzir números artificiais apenas para confirmar a retórica eleitoral. Um amigo meu, jornalista bem informado mas não especializado em políticas sociais, costuma dizer que nunca sabe se deve lamentar ou comemorar cada número novo que aparece, de tantas e tão contraditórias que são as estatístic as que ocupam as manchetes dos jornais. Esse é o sentimento de qualquer pessoa que tenta se manter informada sobre o tema.

O número de desnutridos divulgado ajuda a pôr um pouco de ordem nessa confusão, mas isso não quer dizer que, medida e pesada, a extrema pobreza brasileira tem apenas quatro milhões de adultos; e que esses sejam os únicos com os quais as políticas públicas devam ter responsabilidade.

O que precisamos é de objetividade neste debate. Não podemos esconder nossa insensibilidade atrás de números “aceitáveis”, nem exagerar o drama por demagogia. E, se fizermos isso e conseguirmos nos pôr de acordo sobre a terminologia e medidas a serem usadas, vamos nos dar conta de algumas verdades como: o Brasil não tem pobreza africana; comparados a países de tamanho médio temos um percentual menor de extremamente pobres; pobre não é o mesmo que pessoa que passa fome, mas ele tem sim restrições de consumo das mais variadas, passa por privações em menor ou maior grau e deve estar no universo dos que precisam de políticas públicas dedicadas à superação de suas dificuldades; eliminar a fome no Brasil está ao alcance das nossas possibilidades como nação e deve ser uma prioridade absoluta; acabar com a fome não esgota nosso rol de obrigações como integrantes da elite brasileira na busca de um país em que seus cidadãos sofram menos privações, de qualquer ordem, e que distribua de for ma mais civilizada a sua renda; as políticas de transferência de renda com contrapartida ainda são o melhor caminho.

Com tudo o que o Brasil tem, com uma população de dimensão razoável, com toda a compreensão que já temos dos problemas sociais, é absurdo que tenhamos brasileiros passando fome, sejam 4, 40 ou 50 milhões. Mas procurar o número mais exato é tecnicamente a melhor forma de construir uma política social eficiente.

R&D and the fat cat effect 

Coisas que o Serra comecou a mexer ...

Pricey Drug Trials Turn Up Few New Blockbusters
By ALEX BERENSON
December 18, 2004
http://www.nytimes.com/2004/12/18/business/18assess.html?th

The worldwide drug industry is ailing.

Three major drug companies - Pfizer, AstraZeneca and Eli Lilly - each disclosed serious problems with important medicines yesterday, throwing a spotlight on the fact that the $500 billion drug industry is stumbling badly in its core business of finding new medicines.

The decline in drug research and development has been an open secret among analysts and scientists for years. But drug company executives have insisted that their industry is fundamentally healthy and their expensive research efforts will pay off.

They have tried, meanwhile, to offset their weakness in creating profitable new drugs by pursuing aggressive campaigns to market existing drugs to doctors and patients, impose big price increases and make efforts to extend patents on existing medicines. Those tactics have protected their profits but irritated consumers and governments that pay for drugs, causing a political reaction in the United States and Europe.

After yesterday's news, the intensity of that reaction seems likely to increase.

In less than 12 hours, Pfizer said that it had found increased risk of heart problems for people taking Celebrex, a painkiller that is one of the world's best-selling medicines. AstraZeneca reported that a trial of Iressa, a lung cancer drug approved in the United States last year, showed that the drug did not prolong lives. And Eli Lilly warned doctors that Strattera, its drug to treat attention deficit disorder, usually in children, had caused severe liver injury in at least two patients.

Investors punished all three companies, sending Pfizer stock down 11.2 percent, AstraZeneca down 7.7 percent and Eli Lilly down 2.4 percent. Collectively, the declines reduced the market value of the three companies by more than $30 billion, worsening the industry's weak performance this year.

The sequence of events is a sign that the companies must confront their difficulties in finding new drugs, said Richard T. Evans, an analyst at Sanford C. Bernstein, a Wall Street research firm.

"Their R.&D. productivity is just terrible," he said.

No major drug company is exempt from the problem. The number of new drugs approved by the Food and Drug Administration has declined sharply since the mid-1990's, falling from 53 in 1996 to 21 in 2003, even as the industry has nearly doubled its annual spending on drug development, to about $33 billion.

Complicating the process, many drugs already on the market do a reasonably good job, so the bar that new therapies must cross is high, especially because most are expensive.

If companies cannot reverse the trend, investors will almost certainly demand that they cut their research spending. Meanwhile, governments, faced with growing drug costs for publicly financed programs like Medicare and Medicaid, may well alter regulations on drug marketing or force the companies to cut prices, Mr. Evans said. A result in the long run may be an industry that is less profitable and less able to produce new drugs for patients.

Still, experts note that progress comes in fits and starts and the flood of newly discovered biomedical information could lead to many new drugs. But traditional drug companies have not yet had much luck with biotechnology, though they have licensed some drugs from biotechnology companies.

While they struggle with new technologies, the companies are facing a steady stream of patent expirations on their most profitable drugs. To combat that, Pfizer and some other companies have used mergers or acquisitions to grow. But those deals do nothing to increase their overall ability to produce new medicines, critics say, and may even hurt the industry as merging companies struggle to integrate their laboratories.

Dr. Jerry Avorn, professor of medicine at Harvard Medical School and author of "Powerful Medicines: The Benefits, Risks and Costs of Prescription Drugs" (Knopf, 2004), said the absence of new drugs had caused companies to try to stoke demand for their existing medicines by marketing them directly to consumers.

"If you don't have a lot of breakthrough drugs in your pipeline, and you're a company, you need to market the hell out of the drugs that you do have," Dr. Avorn said. As a result, many people are taking drugs that have only a moderate benefit for them, or no benefit at all, he said.

At the same time, companies are not closely monitoring the side effects of the medicines that they already sell, because they fear that information about side effects will discourage patients from using new medicines, Dr. Avorn said.

On the surface, the industry seems relatively healthy. Sales are rising strongly both in the United States and worldwide, with revenue up about 9 percent in 2003, to more than $490 billion, according to IMS Health, which tracks drug sales.

And the industry is highly profitable. Excluding one-time charges, Pfizer is expected to earn more than $14 billion this year on sales of $51 billion, a profit margin among the highest of any big company.

Pfizer did get some good news yesterday. Federal regulators approved Macugen, developed by Eyetech Pharmaceuticals Inc. and Pfizer to treat macular degeneration, which causes blindness in the elderly.

Major drug companies have increased research spending. Pfizer spends $7 billion a year on research, according to its filings.

That level of research spending justifies the high prices of many medicines, drug company executives say. Any effort to cap prices, they say, may compromise the discovery of new drugs.

In the 1990's, the companies were able to bring several major new categories of drugs to market. But in this decade, companies have had few major breakthroughs.

Until this year, Wall Street had been relatively patient with the industry, viewing it as a profitable and stable place to invest.

But in the last few months, investors have begun to turn away from the sector. A broad index of pharmaceutical stocks has fallen 7.4 percent this year, while the Standard & Poor's 500-stock index has risen 7.4 percent. The companies that made yesterday's announcements have been among the worst performers this year, with Pfizer shares down 30 percent, AstraZeneca off 22 percent, and Eli Lilly down 20 percent.

There is no simple way to make drug research more productive, said Dr. K. Arnold Chan, a professor at the Harvard School of Public Health. The amount of basic biomedical knowledge has vastly increased in the last few years, but scientists have not yet been able to translate that information into new medicines.

"There's a gap between basic science and clinical science," he said.

Dr. Chan said he hoped the problems were merely a dry spell in a long period of advances.

"If we take 30 years, you could see a lot of progress," Dr. Chan said. "We saw a lot of promise in the 1990's. But the last couple of years have been pretty pathetic."

hummmm !  

Alguem disse uma vez que o PROER era doar dinheiro para banqueiro perdulario e inconsequente, que era tirar comida da boca do povo para dar aos especuladores, bla' , bla' , bla' . Acho que os moluscos mudam de opiniao como mudam de lado do balcao. Que coisa, hein ?

Cotistas já podem pedir resgate de 29 fundos do Banco Santos
http://www.superavit.com.br/noticias.asp?id=31842

A Comissão de Valores Mobiliários informou nesta sexta-feira, em "Comunicado ao Público", que os pedidos de resgate de 29 fundos do Banco Santos, que está sob intervenção do Banco Central, já podem ser feitos pelos cotistas até o dia 26 deste mês, pelos telefones 0800-127000 e 4002-8002.

O Superintendente interino de Relações com Investidores Institucionais da CVM, Luís Felipe Lobianco, explicou que os resgates serão pagos somente no dia 27 deste mês "ou até o dia 27, caso o interventor consiga antecipar esse prazo".

Permanecem fechados para resgate seis outros fundos, oriundos de processos de cisão, mais a parcela dos fundos cindidos que foram provisionados, totalizando 12 fundos, dos quais a metade com ativos líquidos do fundo e outra com ativos não líquidos ou ligados ao Banco Santos. Para deliberar o destino que será dado a esses fundos, deverão ser convocadas assembléias gerais de cotistas até o próximo dia 21.

Luís Felipe Lobianco informou que a proposta do interventor é liquidar esses fundos. Os cotistas podem também suspender o resgate por 180 dias e, findo esse prazo, rever a situação. Nas assembléias, cuja realização é prevista para o início de 2005, os cotistas poderão examinar outras alternativas definidas no Artigo 16 da Instrução CVM número 409, entre as quais a substituição do administrador ou do gestor do fundo, ou de ambos, caso exista um outro administrador com maior facilidade de encontrar comprador para os ativos do fundo; reabertura ou manutenção do fechamento do fundo para resgate (a reabertura é operacionalmente inviável, apesar de prevista, porque os ativos não têm valor, pelo menos nesse momento); possibilidade do pagamento do resgate em títulos ou valores mobiliários, o que só faz sentido para alguns fundos que não têm uma quantidade grande de cotistas; cisão do fundo.

Caso a opção de liquidação seja a preferida, "a partir do momento em que algum ativo do fundo vier a ter valor, esse valor é proporcionalmente devolvido pelos cotistas do fundo", mas não há prazo para que isso ocorra, afirmou Lobianco. A CVM autorizou ainda que os fundos de investimentos administrados pelo Banco Santos-Sob Intervenção continuem fechados para aplicação. Outros 42 fundos já foram transferidos ou se encontram em processo de transferência de administrador.

A quem eles pensam que estão enganando?  

Em economes para surfistas!

Por que os juros são altos ?
VEJA, Edição 1883 .
8 de dezembro de 2004

Num interessante seminário recente sobre o futuro do sistema financeiro, a maior parte do tempo foi dedicada às conseqüências de um fenômeno crucial para que se entenda por que os juros são tão altos no Brasil, mas que, a despeito disso, nem sequer tem tradução para o português. Nem mesmo para o dialeto economês.

É claro que isso não é acidental. Como na "novilíngua" do romance de George Orwell (1984), o idioma pode ignorar determinado fenômeno econômico considerado irrelevante, deslocado, heresia, ou uma dessas esquisitices de livro-texto americano que não existem no país da jabuticaba.

A expressão crowding out descreve o efeito que o déficit público tem sobre a taxa de juros e sobre os investimentos das empresas. Crowd quer dizer multidão e também aperto, e um lugar está crowded quando muito cheio de gente (aqui, já entramos no idioma dos surfistas). Se alguém é crowded out quer dizer que foi expulso ou deslocado para fora de um lugar porque ele ficou muito cheio.

Pois bem, quando aumentam os gastos do governo, e o Banco Central se recusa a fabricar papel pintado para pagar a conta, o Tesouro precisa se endividar. Ao fazê-lo, vai provocar um aumento nas taxas de juros, pois o Tesouro precisa oferecer mais taxa para captar dinheiro adicional. E, dessa forma, o juro maior "ocupa" uma parcela maior da poupança financeira disponível e "expulsa" ou faz diminuir o desejo das empresas de fazer investimentos.

Trata-se aqui, portanto, de o investimento privado ser "deslocado" para fora do cenário econômico em contrapartida ao crescimento do tamanho do governo, ou mais precisamente da despesa pública não financiada por impostos.

O leitor há de concordar que o "tamanho do governo" nunca foi propriamente um problema no Brasil, senão em anos recentes, quando deixamos de ser o país da inflação e passamos, sintomaticamente, ao status de campeão mundial de taxas de juros. No tempo da inflação, não havia muita atenção sobre as taxas de juros, pois a indexação era muito mais importante. E desde que a inflação foi embora, de 1994 para cá, foi ficando cada vez mais claro que tínhamos limites muito severos para a redução das taxas de juros, limites estes que as pessoas parecem não compreender muito bem.

Nos primeiros anos depois da estabilização firmou-se a crença equivocada de que os juros eram altos para sustentar a política de "âncora cambial". Pois bem, a "âncora cambial" acabou em janeiro de 1999, o câmbio flutua como uma pluma bêbada, o governo é do PT e continuamos campeões mundiais de juros cinco anos depois.

Existem muitas reflexões sobre as razões dos juros altos no Brasil, desde a vilania sistemática de todos os dirigentes do Banco Central, passando por conspirações de toda ordem, e chegando a teorias muito sofisticadas e interessantes sobre o risco de fazer negócios financeiros no Brasil.

A explicação mais simples, todavia, aquela de livro-texto, enfatizando o rombo nas contas públicas e o gigantismo do governo, estranhamente não tem sido muito lembrada. Pode ser o hábito nacionalista, e pré-globalização, de avacalhar os livros-textos americanos, que seriam feitos para um mundo diferente do nosso. Imaginem um mundo onde as pessoas se revoltam contra impostos elevados e entendem que o governo deve ser sempre secundário à iniciativa privada, nada poderia ser mais diferente do Brasil, onde o Estado é a mola mestra do desenvolvimento e todos pagam impostos felizes da vida, não é mesmo?

O fato é que o Brasil reúne todos os sintomas do fenômeno acima descrito: a carga tributária é imensa, os gastos do governo também, assim como a dívida pública e os juros. A recomendação de qualquer livro-texto seria simples: reduzir despesa pública, o que faz cair os juros, e, reduzindo muito a despesa, dá para reduzir também os impostos.

Em termos práticos, isso significa aumentar o superávit primário, e o governo está fazendo o contrário disso ao elevar gastos que não vai contabilizar para fins de apuração do superávit primário. A quem eles pensam que estão enganando?

This page is powered by Blogger. Isn't yours?