terça-feira, junho 29, 2004
SIMBOLISMO
http://www.danielpiza.com.br/interna.asp?texto=1720
Nada contra festas juninas, especialmente pela comida, mas que o Arraial do Lulinha foi simbólico, ah, isso foi. A dança de quadrilhas, por exemplo. A infinidade de bandeiras em cores díspares. As línguas queimadas pelos quentões. A mesma musiquinha ingênua, incessante, como a de Lula dizendo que pretende pagar mais caro por produtos de países mais pobres. Tais ingredientes não formam a cara desse governo?
Nada contra festas juninas, especialmente pela comida, mas que o Arraial do Lulinha foi simbólico, ah, isso foi. A dança de quadrilhas, por exemplo. A infinidade de bandeiras em cores díspares. As línguas queimadas pelos quentões. A mesma musiquinha ingênua, incessante, como a de Lula dizendo que pretende pagar mais caro por produtos de países mais pobres. Tais ingredientes não formam a cara desse governo?
NINGUEM MAIS CONFIA NO PERIGO VERMELHO (2)
Confiança no presidente Lula também está em queda
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115699.html
A redução na confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve a trajetória de queda. Pela primeira vez desde a posse de Lula, o percentual dos que afirmam não confiar se aproxima do número daqueles que confiam no presidente.
De acordo com a pesquisa CNI-Ibope divulgada esta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria, o saldo (que é diferença entre os que confiam e os que não confiam) passou de 24 pontos em março desde ano para 11 pontos em junho, depois de atingir 64 pontos em março de 2003. Do total dos entrevistados em junho, 54% disseram confiar em Lula, contra 43% que afirmaram não confiar. Na pesquisa anterior, os percentuais eram de 60% e 36%, respectivamente. Em março de 2003, logo depois da posse, 80% confiavam no presidente, enquanto 16% não confiavam.
Também caiu o número de pessoas que aprovam a maneira como o presidente está governando. O percentual passou de 54% em março para 51% em junho. O índice dos entrevistados que desaprovam o governo subiu de 39% para 42%. Segundo o consultor da MCI Estratégia, que analisa a pesquisa, Amauri Teixeira, as mulheres se mostraram mais críticas do que os homens em relação ao governo federal.
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115699.html
A redução na confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve a trajetória de queda. Pela primeira vez desde a posse de Lula, o percentual dos que afirmam não confiar se aproxima do número daqueles que confiam no presidente.
De acordo com a pesquisa CNI-Ibope divulgada esta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria, o saldo (que é diferença entre os que confiam e os que não confiam) passou de 24 pontos em março desde ano para 11 pontos em junho, depois de atingir 64 pontos em março de 2003. Do total dos entrevistados em junho, 54% disseram confiar em Lula, contra 43% que afirmaram não confiar. Na pesquisa anterior, os percentuais eram de 60% e 36%, respectivamente. Em março de 2003, logo depois da posse, 80% confiavam no presidente, enquanto 16% não confiavam.
Também caiu o número de pessoas que aprovam a maneira como o presidente está governando. O percentual passou de 54% em março para 51% em junho. O índice dos entrevistados que desaprovam o governo subiu de 39% para 42%. Segundo o consultor da MCI Estratégia, que analisa a pesquisa, Amauri Teixeira, as mulheres se mostraram mais críticas do que os homens em relação ao governo federal.
NINGUEM MAIS CONFIA NO PERIGO VERMELHO
ERA SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO. AGORA A QUEDA É IRREVERSÍVEL. MARTA ESTÁ ATRAS DO MALUF. LULA ESTÁ ATRÁS DA MARTA. ELES AÉ PODEM TROCAR DE POSIÇÕES, MAS TODOS CONTINUAM NA RABEIRA UM DO OUTRO. EM TERMOS DE PESQUISA DE OPINIÃO, CLARO.
Avaliação positiva do governo Lula cai para 29%
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115698.html
A popularidade do governo Lula continua em queda. O índice de avaliação positiva do governo, representado pela soma das respostas ótimo e bom, caiu de 34% em março para 29% em junho deste ano. Em março de 2003, três meses depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 51% dos entrevistados avaliavam o governo como ótimo ou bom. O número de pessoas que qualificavam como ruim ou péssimo subiu de 23% em março deste ano para 26% em junho. Em março do ano passado, o índice de desaprovação era de apenas 7%.
Os dados são da pesquisa CNI-Ibope, divulgada esta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria. O estudo ouviu duas mil pessoas, com mais de 16 anos de idade, em 140 municípios brasileiros entre os dias 17 e 21 de junho. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais e o grau de confiança de 95%. Essa é a sexta pesquisa de opinião CNI-Ibope realizada no atual governo.
A queda da popularidade do governo, segundo a pesquisa, foi influenciada, especialmente, pela discussão em torno do salário mínimo. Mas outros fatores, como o aumento da inflação e do desemprego também pesou na avaliação dos entrevistados.
As piores avaliações do governo foram feitas pelos moradores das regiões Sul e Nordeste. No Sul, 26% da população consideram o governo ótimo ou bom, mesmo percentual dos que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Na pesquisa de março, o índice de aprovação era de 33% e o de desaprovação, de 19%. No Nordeste, a soma dos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 42% em março para 32% em junho. Atualmente, 29% da população nordestina avaliam o governo como ruim ou péssimo.
Avaliação positiva do governo Lula cai para 29%
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115698.html
A popularidade do governo Lula continua em queda. O índice de avaliação positiva do governo, representado pela soma das respostas ótimo e bom, caiu de 34% em março para 29% em junho deste ano. Em março de 2003, três meses depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 51% dos entrevistados avaliavam o governo como ótimo ou bom. O número de pessoas que qualificavam como ruim ou péssimo subiu de 23% em março deste ano para 26% em junho. Em março do ano passado, o índice de desaprovação era de apenas 7%.
Os dados são da pesquisa CNI-Ibope, divulgada esta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria. O estudo ouviu duas mil pessoas, com mais de 16 anos de idade, em 140 municípios brasileiros entre os dias 17 e 21 de junho. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais e o grau de confiança de 95%. Essa é a sexta pesquisa de opinião CNI-Ibope realizada no atual governo.
A queda da popularidade do governo, segundo a pesquisa, foi influenciada, especialmente, pela discussão em torno do salário mínimo. Mas outros fatores, como o aumento da inflação e do desemprego também pesou na avaliação dos entrevistados.
As piores avaliações do governo foram feitas pelos moradores das regiões Sul e Nordeste. No Sul, 26% da população consideram o governo ótimo ou bom, mesmo percentual dos que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Na pesquisa de março, o índice de aprovação era de 33% e o de desaprovação, de 19%. No Nordeste, a soma dos que consideram o governo ótimo ou bom caiu de 42% em março para 32% em junho. Atualmente, 29% da população nordestina avaliam o governo como ruim ou péssimo.
QUEM LEVANTA A VOZ CONTRA O CAPITAL FINANCEIRO INTERNACIONAL É CENSURADO
José Alencar defende padrão internacional para juro da dívida
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115409.html
O vice-presidente da República, José Alencar, disse nesta segunda-feira que os juros sobre a dívida pública precisam ser pagos, "mas têm que ser no padrão do mercado internacional". Ele citou uma pesquisa da Global Invest sobre as taxas de juros reais em 40 países, segundo a qual a taxa média real é de 1,5% ao ano. Nos países emergentes, essa taxa média é de 2,3%, disse Alencar.
"O Brasil continua com 10%. Isso, na minha opinião - talvez eu não tenha grande autoridade para falar isso, porque não sou economista - pela minha experiência, sei que, enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar o custo de capital, não haverá investimento", disse o vice-presidente.
Alencar criticou a carga tributária como um dos fatores que, segundo ele, travam o desenvolvimento. Mas atribuiu a grande carga tributária em boa parte ao peso dos juros. Sobre o assunto ele disse ainda: "Tenho sido vítima de censura". Mas não esclareceu quem o censura. Alencar foi aplaudido na festa de 184 anos da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Ciro defende Alencar e diz que também foi "censurado"
O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) defendeu esta segunda-feira o vice-presidente da República, José Alencar, que voltou a criticar as taxas de juros do País, e disse que assim como o colega de governo, "também já foi censurado". Afirmou também que a censura parte de "articulistas alugados".
Ciro disse que o vice "não era subordinado, como os ministros, e, portanto, pode criticar (as taxas de juros)". Afirmou ainda ser testemunha do entendimento entre Alencar e Lula e do espírito público do vice.
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115409.html
O vice-presidente da República, José Alencar, disse nesta segunda-feira que os juros sobre a dívida pública precisam ser pagos, "mas têm que ser no padrão do mercado internacional". Ele citou uma pesquisa da Global Invest sobre as taxas de juros reais em 40 países, segundo a qual a taxa média real é de 1,5% ao ano. Nos países emergentes, essa taxa média é de 2,3%, disse Alencar.
"O Brasil continua com 10%. Isso, na minha opinião - talvez eu não tenha grande autoridade para falar isso, porque não sou economista - pela minha experiência, sei que, enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar o custo de capital, não haverá investimento", disse o vice-presidente.
Alencar criticou a carga tributária como um dos fatores que, segundo ele, travam o desenvolvimento. Mas atribuiu a grande carga tributária em boa parte ao peso dos juros. Sobre o assunto ele disse ainda: "Tenho sido vítima de censura". Mas não esclareceu quem o censura. Alencar foi aplaudido na festa de 184 anos da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Ciro defende Alencar e diz que também foi "censurado"
O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) defendeu esta segunda-feira o vice-presidente da República, José Alencar, que voltou a criticar as taxas de juros do País, e disse que assim como o colega de governo, "também já foi censurado". Afirmou também que a censura parte de "articulistas alugados".
Ciro disse que o vice "não era subordinado, como os ministros, e, portanto, pode criticar (as taxas de juros)". Afirmou ainda ser testemunha do entendimento entre Alencar e Lula e do espírito público do vice.
QUEM AJUDA O POVO É SUMARIAMENTE PUNIDO
PT pune quem votou contra o mínimo de R$ 260
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115548.html
A Executiva Nacional do PT decidiu suspender os 12 parlamentares que votaram contra o salário mínimo de R$ 260. Em resolução aprovada esta segunda-feira, a Executiva do partido proíbe que os parlamentares "dissidentes" assumam qualquer nova função no Congresso representando o partido. Segundo a resolução, será aberto um "processo de discussão visando a repactuar sua relação com o partido e com as respectivas bancadas".
A suspensão será mantida enquanto perdurar o processo de negociação. Dessa forma, quaisquer outras punições, segundo a Executiva, serão avaliadas somente após as tentativas de repactuação. Os parlamentares atingidos pela medida são: os senadores Paulo Paim (RS), Flávio Arns (PR), Serys Slhessarenko (MT), os deputados Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Doutora Clair (PR), Walter Pinheiro (BA), Maninha (DF), Orlando Fantazzini (SP) João Alfredo (CE), Mauro Passos (SC) e Luiz Alberto (BA).
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/115548.html
A Executiva Nacional do PT decidiu suspender os 12 parlamentares que votaram contra o salário mínimo de R$ 260. Em resolução aprovada esta segunda-feira, a Executiva do partido proíbe que os parlamentares "dissidentes" assumam qualquer nova função no Congresso representando o partido. Segundo a resolução, será aberto um "processo de discussão visando a repactuar sua relação com o partido e com as respectivas bancadas".
A suspensão será mantida enquanto perdurar o processo de negociação. Dessa forma, quaisquer outras punições, segundo a Executiva, serão avaliadas somente após as tentativas de repactuação. Os parlamentares atingidos pela medida são: os senadores Paulo Paim (RS), Flávio Arns (PR), Serys Slhessarenko (MT), os deputados Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Doutora Clair (PR), Walter Pinheiro (BA), Maninha (DF), Orlando Fantazzini (SP) João Alfredo (CE), Mauro Passos (SC) e Luiz Alberto (BA).
domingo, junho 27, 2004
DE ONDE SAIU TANTO DINHEIRO ?
PT tem no mínimo R$ 50 milhões para eleição municipal
Diana Fernandes
http://www.estadao.com.br/eleicoes2004/noticias/2004/jun/27/10.htm
Brasília - Para cumprir a meta de pelo menos dobrar o número de prefeituras administradas por petistas, hoje perto de 200, o PT se prepara para iniciar em julho uma campanha de números grandiosos, voltada prioritariamente para as capitais e grandes cidades. A primeira campanha eleitoral do PT após a eleição de Lula já começa com vantagem financeira em relação aos outros partidos, pois tem orçamento fixo neste ano, fora as doações, de quase R$ 50 milhões.
São recursos garantidos pelo Fundo Partidário e pelas contribuições que os filiados são obrigados a pagar mensalmente. A presença do PT nas eleições municipais será marcada por outros números recordes na sua história: diretórios organizados em mais de 5.300 municípios, 700 mil filiados, 100 mil militantes profissionais, cabeça-de-chapa em 22 das 26 capitais e candidatos próprios em 80 das 90 cidades com segundo turno. Além disso, os candidatos do partido do presidente da República terão o maior tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão a partir da segunda quinzena de agosto
Os recursos do partido, administrados pela executiva nacional, serão usados unicamente na manutenção da estrutura partidária, garante o presidente do PT, José Genoino. "O PT nacional não tem dinheiro para a campanha municipal. O orçamento do partido é para manutenção de suas sedes em São Paulo e Brasília, para pagamento de funcionários e outras despesas com publicações, eventos e viagens", disse ao Estado. Para as campanhas, garante, cada candidato ou diretório municipal terá de buscar doações e outras formas de financiamento.
E para bancar as despesas eleitorais indiretas do partido é preciso mesmo um bom caixa. Só de uma cartilha, com orientações jurídicas e estratégias sobre campanhas, o PT mandou imprimir 50 mil exemplares que serão distribuídos para os candidatos a prefeito e vereador de todo País. Uma publicação especial sobre o governo Lula, em forma de revista, também está sendo concluída e deve ser igualmente distribuída aos candidatos petistas
A revista tem como objetivo primeiro fornecer dados para fundamentar o discurso dos candidatos petistas. Quatro grandes temas serão detalhados na publicação: a política econômica, o modelo de desenvolvimento, com destaque para os incentivos aos pequenos empresários e o programa de Parceria Público-Privada, os programas de inclusão social como Bolsa-Família e Fome Zero, e a política externa
Outra grande despesa prevista pelo presidente do PT para este período de campanha eleitoral será com o transporte e hospedagem dos ministros. "Todo ministro do PT que for participar de algum ato de campanha terá sua despesa custeada pelo partido", disse Genoino. "Garanto que não haverá uso da máquina pública.
São 13 os ministros do PT que despacham durante a semana em Brasília e, em alguns casos, vão para seus Estados nos fins de semana. Difícil, como já verificado em outras campanhas e outros governos, é separar o público do eleitoral. O ministro tem direito a usar avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir passar o fim de semana em seu Estado ou para eventos ligados a seu cargo no Executivo. Como impedir que ele, aproveitando uma viagem dessas, participe de um quase inevitável ato de campanha de seus aliados? "Estaremos de olho, vigiando, para evitar qualquer deslize", respondeu Genoino.
Segundo ele, este ano o orçamento do PT, com receitas fixas, deve repetir os números registrados nas suas contas no ano passado. Na verdade, deve ser um pouco maior, já que o PT ampliou o número de filiados e militantes que contribuem com o dízimo - em 2003, as contribuições partidárias pagas por todo petista eleito e por aqueles com cargos comissionados nas administrações federal, estaduais e municipais renderam ao PT mais de R$ 15 milhões, líquidos.
Diana Fernandes
http://www.estadao.com.br/eleicoes2004/noticias/2004/jun/27/10.htm
Brasília - Para cumprir a meta de pelo menos dobrar o número de prefeituras administradas por petistas, hoje perto de 200, o PT se prepara para iniciar em julho uma campanha de números grandiosos, voltada prioritariamente para as capitais e grandes cidades. A primeira campanha eleitoral do PT após a eleição de Lula já começa com vantagem financeira em relação aos outros partidos, pois tem orçamento fixo neste ano, fora as doações, de quase R$ 50 milhões.
São recursos garantidos pelo Fundo Partidário e pelas contribuições que os filiados são obrigados a pagar mensalmente. A presença do PT nas eleições municipais será marcada por outros números recordes na sua história: diretórios organizados em mais de 5.300 municípios, 700 mil filiados, 100 mil militantes profissionais, cabeça-de-chapa em 22 das 26 capitais e candidatos próprios em 80 das 90 cidades com segundo turno. Além disso, os candidatos do partido do presidente da República terão o maior tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão a partir da segunda quinzena de agosto
Os recursos do partido, administrados pela executiva nacional, serão usados unicamente na manutenção da estrutura partidária, garante o presidente do PT, José Genoino. "O PT nacional não tem dinheiro para a campanha municipal. O orçamento do partido é para manutenção de suas sedes em São Paulo e Brasília, para pagamento de funcionários e outras despesas com publicações, eventos e viagens", disse ao Estado. Para as campanhas, garante, cada candidato ou diretório municipal terá de buscar doações e outras formas de financiamento.
E para bancar as despesas eleitorais indiretas do partido é preciso mesmo um bom caixa. Só de uma cartilha, com orientações jurídicas e estratégias sobre campanhas, o PT mandou imprimir 50 mil exemplares que serão distribuídos para os candidatos a prefeito e vereador de todo País. Uma publicação especial sobre o governo Lula, em forma de revista, também está sendo concluída e deve ser igualmente distribuída aos candidatos petistas
A revista tem como objetivo primeiro fornecer dados para fundamentar o discurso dos candidatos petistas. Quatro grandes temas serão detalhados na publicação: a política econômica, o modelo de desenvolvimento, com destaque para os incentivos aos pequenos empresários e o programa de Parceria Público-Privada, os programas de inclusão social como Bolsa-Família e Fome Zero, e a política externa
Outra grande despesa prevista pelo presidente do PT para este período de campanha eleitoral será com o transporte e hospedagem dos ministros. "Todo ministro do PT que for participar de algum ato de campanha terá sua despesa custeada pelo partido", disse Genoino. "Garanto que não haverá uso da máquina pública.
São 13 os ministros do PT que despacham durante a semana em Brasília e, em alguns casos, vão para seus Estados nos fins de semana. Difícil, como já verificado em outras campanhas e outros governos, é separar o público do eleitoral. O ministro tem direito a usar avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir passar o fim de semana em seu Estado ou para eventos ligados a seu cargo no Executivo. Como impedir que ele, aproveitando uma viagem dessas, participe de um quase inevitável ato de campanha de seus aliados? "Estaremos de olho, vigiando, para evitar qualquer deslize", respondeu Genoino.
Segundo ele, este ano o orçamento do PT, com receitas fixas, deve repetir os números registrados nas suas contas no ano passado. Na verdade, deve ser um pouco maior, já que o PT ampliou o número de filiados e militantes que contribuem com o dízimo - em 2003, as contribuições partidárias pagas por todo petista eleito e por aqueles com cargos comissionados nas administrações federal, estaduais e municipais renderam ao PT mais de R$ 15 milhões, líquidos.
mais um desumano resultado do governo do PERIGO VERMELHO
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
27/06/2004
Graças à corretora Merrill Lynch sabe-se que o principal produto do primeiro ano de governo do PT Federal foram milionários do papelório. Cresceram 6% num ano em que o PIB contraiu-se em 0,2%. A ekipekonômica produziu dois milhões de desempregados no andar de baixo e cinco mil novos milionários (em dólares) no de cima. Isso em 2003, mas 2004 promete. É o ano da retomada.
Na Região Metropolitana de São Paulo, os números de março, comparados com os do mesmo mês de 2003, ensinam que os 10% mais pobres perderam 5,4% da renda, mas os 10% mais ricos ganharam 4,2%.
Isso significa que o doutor Antonio Palocci e seus brilhantes rapazes poderão acabar com a renda do andar de baixo da Região Metropolitana de São Paulo em 33 anos. Enquanto isso, os 10% mais ricos ficarão com 84% da renda.
27/06/2004
Graças à corretora Merrill Lynch sabe-se que o principal produto do primeiro ano de governo do PT Federal foram milionários do papelório. Cresceram 6% num ano em que o PIB contraiu-se em 0,2%. A ekipekonômica produziu dois milhões de desempregados no andar de baixo e cinco mil novos milionários (em dólares) no de cima. Isso em 2003, mas 2004 promete. É o ano da retomada.
Na Região Metropolitana de São Paulo, os números de março, comparados com os do mesmo mês de 2003, ensinam que os 10% mais pobres perderam 5,4% da renda, mas os 10% mais ricos ganharam 4,2%.
Isso significa que o doutor Antonio Palocci e seus brilhantes rapazes poderão acabar com a renda do andar de baixo da Região Metropolitana de São Paulo em 33 anos. Enquanto isso, os 10% mais ricos ficarão com 84% da renda.
IMPAGAVEL (2)
AGAMENON MENDES PEDREIRA
brizolista de direita
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/agamenon.asp
27 de junho de 2004
BRIZOLA TINHA RAZÃO!
Pode-se questionar o homem, podemos não concordar com as suas idéias, pode-se discordar do político, podemos criticar o fazendeiro, podemos até mesmo combater ferozmente as suas sobrancelhas. Mas uma coisa não podemos negar: sem o Brizola, a política no Brasil não tem mais graça nenhuma.
A maioria dos gaúchos sai do Rio Grande do Sul para ser enterrada no Rio de Janeiro, São Paulo ou São Francisco na Califórnia, mas Brizola, discreto, preferiu ser enterrado em São Borja. O enterro de Brizola, assim como os de Getúlio Vargas e de Carmen Miranda, vai entrar para a história funerária brasileira. Centenas de políticos, de todos os matizes, da extrema-direita à extrema-esquerda, fizeram questão de comparecer ao velório do Brizola para se certificar pessoalmente do falecimento do caudilho gaúcho. Alguns, mais exaltados, queriam reforçar com uns pregos a tampa do caixão, com medo que o líder populista, tal e qual um zumbi, voltasse do Além.
O que poucos sabem é que eu, Agamenon Mendes Pedreira, estive ombro a ombro com Brizola em momentos importantes da História do Brasil. Quando Jânio, num gesto tresloucado, resolveu renunciar à cachaça, os militares, sempre reacionários, não queriam que o Jango Goulart, enquanto gaúcho, assumisse na frente de todo mundo. Foi aí que o Brizola, corajosamente, organizou a Cadeia da Legalidade, que eu, Agamenon Mendes Pedreira, tive a honra de inaugurar, ficando preso, três dias, por atentado violento ao pudor.
Brizola foi primeiro a se levantar contra a ditadura militar e os livros do Élio Gaspari. Perseguido pelos sanguinários militares, Brizola só teve uma alternativa: comprou o Uruguai, onde amargou terrível exílio e se dedicou à criação de ovelhas e brizolistas, não necessariamente nesta ordem. Sempre preocupado com a educação, Brizola, na sua fazenda, criou com Darcy Ribeiro um protótipo do que seria o Ciep: um galpão onde as ovelhas entravam de manhã e só saíam à tarde, tosquiadas e de banho tomado.
Sempre combativo, o Velho Briza resolveu enfrentar a ditadura.
Assim, apesar de não ser gaúcho, fui em viado especial a Cuba para descolar algum do Fidel Castro e organizar a guerrilha na Serra do Caparaó. Até hoje Brizola é acusado injustamente de ter dado uma volta no ditador cubense , desaparecendo com a grana que seria utilizada para comprar as armas e as camisetas de Che Guevara. Mas aí eu quero fazer uma confissão, já que no Brasil ninguém vai preso mesmo, nem o Silveirinha. Fui eu, Agamenon Mendes Pedreira, que sumiu com a grana do Fidel Castro. No meio do caminho fui visitar a minha mãe, que, junto de outras colegas, tinha aberto um negócio num garimpo no interior do Pará. E naquela confraternização amazônica acabei torrando todo o dinheiro com mulheres e Benzetacil.
Na volta do exílio, fiz questão de receber o Brizola no aeroporto, levando o caudilho nas minhas costas tal e qual um cavalo gaúcho alazão. Em 1982, no Rio de Janeiro em campanha memorável, Brizola, junto com a Fiocruz, foi eleito governador, acabou com o chaguismo e instituiu o brizolismo. Infelizmente, a Ciência ainda não descobriu a cura para esta insidiosa moléstia epidêmica.
Apesar de morto e defunto, o Brizola continua o mesmo. Logo que chegou no Céu, o velho líder trabalhista foi direto para a oposição, requisitou horário em cadeia celestial de televisão, tascou o prefixo musical do PDT e começou o seu discurso:
— Esse São Pedro... francamente!
brizolista de direita
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/agamenon.asp
27 de junho de 2004
BRIZOLA TINHA RAZÃO!
Pode-se questionar o homem, podemos não concordar com as suas idéias, pode-se discordar do político, podemos criticar o fazendeiro, podemos até mesmo combater ferozmente as suas sobrancelhas. Mas uma coisa não podemos negar: sem o Brizola, a política no Brasil não tem mais graça nenhuma.
A maioria dos gaúchos sai do Rio Grande do Sul para ser enterrada no Rio de Janeiro, São Paulo ou São Francisco na Califórnia, mas Brizola, discreto, preferiu ser enterrado em São Borja. O enterro de Brizola, assim como os de Getúlio Vargas e de Carmen Miranda, vai entrar para a história funerária brasileira. Centenas de políticos, de todos os matizes, da extrema-direita à extrema-esquerda, fizeram questão de comparecer ao velório do Brizola para se certificar pessoalmente do falecimento do caudilho gaúcho. Alguns, mais exaltados, queriam reforçar com uns pregos a tampa do caixão, com medo que o líder populista, tal e qual um zumbi, voltasse do Além.
O que poucos sabem é que eu, Agamenon Mendes Pedreira, estive ombro a ombro com Brizola em momentos importantes da História do Brasil. Quando Jânio, num gesto tresloucado, resolveu renunciar à cachaça, os militares, sempre reacionários, não queriam que o Jango Goulart, enquanto gaúcho, assumisse na frente de todo mundo. Foi aí que o Brizola, corajosamente, organizou a Cadeia da Legalidade, que eu, Agamenon Mendes Pedreira, tive a honra de inaugurar, ficando preso, três dias, por atentado violento ao pudor.
Brizola foi primeiro a se levantar contra a ditadura militar e os livros do Élio Gaspari. Perseguido pelos sanguinários militares, Brizola só teve uma alternativa: comprou o Uruguai, onde amargou terrível exílio e se dedicou à criação de ovelhas e brizolistas, não necessariamente nesta ordem. Sempre preocupado com a educação, Brizola, na sua fazenda, criou com Darcy Ribeiro um protótipo do que seria o Ciep: um galpão onde as ovelhas entravam de manhã e só saíam à tarde, tosquiadas e de banho tomado.
Sempre combativo, o Velho Briza resolveu enfrentar a ditadura.
Assim, apesar de não ser gaúcho, fui em viado especial a Cuba para descolar algum do Fidel Castro e organizar a guerrilha na Serra do Caparaó. Até hoje Brizola é acusado injustamente de ter dado uma volta no ditador cubense , desaparecendo com a grana que seria utilizada para comprar as armas e as camisetas de Che Guevara. Mas aí eu quero fazer uma confissão, já que no Brasil ninguém vai preso mesmo, nem o Silveirinha. Fui eu, Agamenon Mendes Pedreira, que sumiu com a grana do Fidel Castro. No meio do caminho fui visitar a minha mãe, que, junto de outras colegas, tinha aberto um negócio num garimpo no interior do Pará. E naquela confraternização amazônica acabei torrando todo o dinheiro com mulheres e Benzetacil.
Na volta do exílio, fiz questão de receber o Brizola no aeroporto, levando o caudilho nas minhas costas tal e qual um cavalo gaúcho alazão. Em 1982, no Rio de Janeiro em campanha memorável, Brizola, junto com a Fiocruz, foi eleito governador, acabou com o chaguismo e instituiu o brizolismo. Infelizmente, a Ciência ainda não descobriu a cura para esta insidiosa moléstia epidêmica.
Apesar de morto e defunto, o Brizola continua o mesmo. Logo que chegou no Céu, o velho líder trabalhista foi direto para a oposição, requisitou horário em cadeia celestial de televisão, tascou o prefixo musical do PDT e começou o seu discurso:
— Esse São Pedro... francamente!
IMPAGAVEL (1)
Agamenon
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/agamenon.asp
27 de junho de 2004
FUNCIONÁRIA PÚBICA DO MÊS
O titulo de Funcionária Púbica do Mês vai para Kelly Melissa, do Ministério da Agricultura, que fez um ensaio fotográfico pornô-erótico no serviço. Kelly é funcionária concursada e está lotada na Seção de Nabos, Mandiocas e Pepinos do Departamento de Vegetais de Duplo Sentido do Ministério. Em sua defesa, Kelly afirma que não tem nada demais posar nua, pois estava na hora do almoço. Só não falou quem foi que comeu. Além do mais, a repartição estava às moscas (que, por sua vez, estão lotadas na Seção de Insetos, Gafanhotos e outras Pragas Agrícolas). Como não pode ser demitida, Kelly será transferida para o Ministério da Pesca, onde ficará lotada na Seção de Piranhas e Outros Peixes de Vida Fácil.
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/agamenon.asp
27 de junho de 2004
FUNCIONÁRIA PÚBICA DO MÊS
O titulo de Funcionária Púbica do Mês vai para Kelly Melissa, do Ministério da Agricultura, que fez um ensaio fotográfico pornô-erótico no serviço. Kelly é funcionária concursada e está lotada na Seção de Nabos, Mandiocas e Pepinos do Departamento de Vegetais de Duplo Sentido do Ministério. Em sua defesa, Kelly afirma que não tem nada demais posar nua, pois estava na hora do almoço. Só não falou quem foi que comeu. Além do mais, a repartição estava às moscas (que, por sua vez, estão lotadas na Seção de Insetos, Gafanhotos e outras Pragas Agrícolas). Como não pode ser demitida, Kelly será transferida para o Ministério da Pesca, onde ficará lotada na Seção de Piranhas e Outros Peixes de Vida Fácil.
sexta-feira, junho 25, 2004
DIMINUIRAM O SALARIO MINIMO, AUMENTARAM O SALARIO MAXIMO
Convocação extraordinária do Congresso vai custar R$ 15,2 milhões
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/114908.html
A convocação extraordinária do Congresso Nacional em julho poderá custar aos cofres públicos R$ 15,2 milhões, elevando para R$ 22,8 milhões os gastos com os salários dos 594 deputados federais e senadores. Independentemente de quem será o autor da convocação – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou os presidentes da Câmara e do Senado -, todos os 594 parlamentares receberão, por alguns dias de trabalho nas férias, o equivalente a três salários: o vencimento mensal de R$ 12.847,20 e outras duas parcelas de igual valor. Na ponta do lápis, cada um deles completará o mês com R$ 38.541,60 no bolso.
A garantia dos dois salários extras está em decreto legislativo de 1996 – reeditado duas vezes. Os parlamentares têm direito a uma parcela equivalente ao salário no início da convocação e outra de mesmo valor no final da votação. No entanto, a segunda parcela só é paga aos deputados e senadores que comparecerem a pelo menos dois terços das sessões plenárias. Quem faltar a mais de um terço recebe proporcionalmente à sua participação nas reuniões.
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/114908.html
A convocação extraordinária do Congresso Nacional em julho poderá custar aos cofres públicos R$ 15,2 milhões, elevando para R$ 22,8 milhões os gastos com os salários dos 594 deputados federais e senadores. Independentemente de quem será o autor da convocação – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou os presidentes da Câmara e do Senado -, todos os 594 parlamentares receberão, por alguns dias de trabalho nas férias, o equivalente a três salários: o vencimento mensal de R$ 12.847,20 e outras duas parcelas de igual valor. Na ponta do lápis, cada um deles completará o mês com R$ 38.541,60 no bolso.
A garantia dos dois salários extras está em decreto legislativo de 1996 – reeditado duas vezes. Os parlamentares têm direito a uma parcela equivalente ao salário no início da convocação e outra de mesmo valor no final da votação. No entanto, a segunda parcela só é paga aos deputados e senadores que comparecerem a pelo menos dois terços das sessões plenárias. Quem faltar a mais de um terço recebe proporcionalmente à sua participação nas reuniões.
quarta-feira, junho 23, 2004
Midia conformista, sociedade amorfa, esculacho socio-ecologico, bandalho juridico-institucional
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=282IMQ001
(...)
O que está acontecendo em nossa imprensa é que ela não está mais interessada em valorizar os exemplos profissionais edificantes que ocorrem em suas paróquias simplesmente porque a bravura, o inconformismo e o espírito crítico ameaçam diretamente o conforto daqueles que fizeram a opção pela complacência e pela acomodação.
Já houve tempo em que nas redações os preferidos eram justamente os encrenqueiros. Hoje, premiam-se aqueles que mantêm seus dilemas morais em casa ou, no máximo, os levam até o botequim.
No mais recente mea-culpa do New York Times, os autores admitiram que seus repórteres e editores não foram suficientemente críticos e céticos. Curvaram-se às fontes e induziram a sociedade americana a cometer um dos seus erros mais clamorosos.
A imprensa brasileira passa pela maior crise da história enquanto os seus altos sacerdotes fazem justamente o contrário do que preconizam seus colegas americanos: não querem repórteres e editores desenvolvendo o seu espírito crítico.
(...)
O que está acontecendo em nossa imprensa é que ela não está mais interessada em valorizar os exemplos profissionais edificantes que ocorrem em suas paróquias simplesmente porque a bravura, o inconformismo e o espírito crítico ameaçam diretamente o conforto daqueles que fizeram a opção pela complacência e pela acomodação.
Já houve tempo em que nas redações os preferidos eram justamente os encrenqueiros. Hoje, premiam-se aqueles que mantêm seus dilemas morais em casa ou, no máximo, os levam até o botequim.
No mais recente mea-culpa do New York Times, os autores admitiram que seus repórteres e editores não foram suficientemente críticos e céticos. Curvaram-se às fontes e induziram a sociedade americana a cometer um dos seus erros mais clamorosos.
A imprensa brasileira passa pela maior crise da história enquanto os seus altos sacerdotes fazem justamente o contrário do que preconizam seus colegas americanos: não querem repórteres e editores desenvolvendo o seu espírito crítico.
terça-feira, junho 22, 2004
fica tudo numa zona cinzenta de “achismos” e profecias emocionais
Nunca a burrice fez tanto sucesso
Arnaldo Jabor
Publicado em 22 de junho de 2004 Versão impressa
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/jabor.asp
Quando vi a cabeça decepada do pobre americano, com seu bigode morto, tristemente olhando o nada, com a sombra do carrasco e seu alfange por trás, pensei horrorizado:
A burrice, a estupidez mais crassa, está tomando o poder no mundo. A crescente complexidade da vida social, a superpopulação, o fracasso de ideologias, o declínio da esperança, tudo leva os homens a uma infinita fome de burrice, seja pela religião fanatizada ou pelo desejo de um populismo autoritário.
Nos anos 60, parecia que o mundo ia descobrir um reencantamento laico, com a glória da juventude, a alegria da democracia criativa, que a inteligência teria um lugar no poder, que a ciência e a arte iam nos trazer uma nova beleza de viver. Em 68, não foram apenas as revoltas juvenis que morreram; começou a nascer uma vida congestionada, sem espaço para sutilezas de liberdade. Os anos 70 foram inaugurados com a frase de Lennon de que o sonho acabara e com a morte sintomática de Janis Joplin e Hendrix, com o fim dos Beatles e com a chegada dos caretas “embalos de sábado à noite”.
Parece bobagem, mas eram sintomas. Uma falsa “liberdade” jorrou do mercado de massas e a volta da burrice foi triunfal. O mercado e o poder começam a programar nosso desejo por simplismos e obviedades. Cresceu na sociedade uma sede da burrice, como mostra a declaração de muitos jovens austríacos que disseram há tempos: “Votamos no Haider (o neonazista) porque não agüentamos mais a monotonia da ‘política’, o tédio do ‘bem’, do ‘correto’, do ‘democrático’!”.
Sente-se no ar também uma grande fome de chefes. Daqui a um tempo pode ser que ninguém queira ser livre. Ninguém quer a liberdade fraternal. O sucesso planetário dos evangélicos, as massas delirando com ídolos de rock mostram que em breve talvez ninguém agüentará a solidão da democracia, todos vão querer exércitos de slogans irracionais e o fundamentalismo da crueldade prática, das “soluções finais”.
A grande sedução do simplismo (e do mal) é que ele é uno, com contornos concretos, visível. Mata-se um sujeito e ele cai, vira uma “coisa nossa”, apropriada como objeto total. Nada mais claro que um cadáver, decapitado no Iraque ou na favela do Rio. Por outro lado, a democracia pressupõe tolerância, autocontrole da parte maldita animal, implica em renúncias, implica numa angustiosa contemplação da diferença, em meio a uma paz hoje sinistra, num tédio de catástrofes sem sangue. A estupidez, não: ela é clara, excitante, eficiente. Há a restauração alegre da parvoíce, da imbecilidade, sempre com a sombra da “direita” ou da “esquerda” por trás. Lá fora, Forrest Gump, o herói-babaca, foi o precursor; Bush é seu efeito.
Ele se orgulha de sua burrice. Outro dia, em Yale, ele disse: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidente dos USA”. É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola, explica. O bom asno é bem-vindo, enquanto o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice, não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia — o erro é sempre do outro. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice até dá mais dinheiro; é mais “comercial”. A burrice ativa parece até uma forma perversa de “liberdade”. A burrice é a ignorância ativa, a burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se “fascismo”.
No Brasil, contaminado pelo ar-do-tempo, a burrice e a fome de simplismo dominam a política, a cultura e a vida social. Vivemos em suspense, pois o pensamento petista é ambivalente e, apesar da base pragmática de Lula no ABC, contém em seu corpo a idéia de “confronto”, de “luta de classes”, contém nas cabeças a idéia de “tomada” de poder, de “revolução”, como tumores inoperáveis. Apesar de o governo tentar aprofundar a herança de FHC, com a reforma do Estado e o respeito à democracia, qualquer marola faz aparecer o maniqueísmo subjacente. Lula é mesmo uma contradição encarnada: operário e presidente, excluído e incluído, ex-revolucionário e reformista, o que faz esse governo pensar e trabalhar com conceitos deterministas que caducaram. Por outro lado, ninguém tem certeza de nada, fica tudo numa zona cinzenta de “achismos” e profecias emocionais. Rola no governo um microbolchevismo e uma mal-ajambrada prática da democracia e das alianças que nos levam a uma paralisia que pode ser chamada de burrice. Essa ambivalência provoca a falta de coragem para tentar, para imaginar, para errar. A mula empaca entre duas estradas. A burrice ideológica atrapalha a vida nacional, retardando processos, escolhendo caminhos tortos. Está na raiz de nosso populismo caipira de “esquerda”. Muita gente acha que a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de “sagrado” na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. “Só os pobres de espírito verão Deus”, reza nossa tradição. Nesta festa caipira que rola no poder petista, há uma grande fome de regressismo , de voltar para a “taba”, ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha. Muitos acham que do simplismo, da santa ignorância viriam a solidariedade, a paz, que deteriam a marcha do mercado voraz, da violência do poder. É a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.
Outro dia, vi na TV um daqueles “bispos” de Jesus de terno-e-gravata clamando para uma multidão de fieis: “Não tenham pensamentos livres: o Diabo é que os inventa!”.
Qualquer programa de uma nova esquerda, de uma terceira via, tem de passar pela aceitação da democracia. Dividido, esquizofrênico, como disse Dirceu — seu lado maníaco — o PT que hoje está no Executivo nos mostra como a luta de classes atua até na microfísica de uma organização política, como um bando de pequeno-burgueses pode atrapalhar seus próprios objetivos.
Nunca a burrice fez tanto sucesso.
Arnaldo Jabor
Publicado em 22 de junho de 2004 Versão impressa
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/jabor.asp
Quando vi a cabeça decepada do pobre americano, com seu bigode morto, tristemente olhando o nada, com a sombra do carrasco e seu alfange por trás, pensei horrorizado:
A burrice, a estupidez mais crassa, está tomando o poder no mundo. A crescente complexidade da vida social, a superpopulação, o fracasso de ideologias, o declínio da esperança, tudo leva os homens a uma infinita fome de burrice, seja pela religião fanatizada ou pelo desejo de um populismo autoritário.
Nos anos 60, parecia que o mundo ia descobrir um reencantamento laico, com a glória da juventude, a alegria da democracia criativa, que a inteligência teria um lugar no poder, que a ciência e a arte iam nos trazer uma nova beleza de viver. Em 68, não foram apenas as revoltas juvenis que morreram; começou a nascer uma vida congestionada, sem espaço para sutilezas de liberdade. Os anos 70 foram inaugurados com a frase de Lennon de que o sonho acabara e com a morte sintomática de Janis Joplin e Hendrix, com o fim dos Beatles e com a chegada dos caretas “embalos de sábado à noite”.
Parece bobagem, mas eram sintomas. Uma falsa “liberdade” jorrou do mercado de massas e a volta da burrice foi triunfal. O mercado e o poder começam a programar nosso desejo por simplismos e obviedades. Cresceu na sociedade uma sede da burrice, como mostra a declaração de muitos jovens austríacos que disseram há tempos: “Votamos no Haider (o neonazista) porque não agüentamos mais a monotonia da ‘política’, o tédio do ‘bem’, do ‘correto’, do ‘democrático’!”.
Sente-se no ar também uma grande fome de chefes. Daqui a um tempo pode ser que ninguém queira ser livre. Ninguém quer a liberdade fraternal. O sucesso planetário dos evangélicos, as massas delirando com ídolos de rock mostram que em breve talvez ninguém agüentará a solidão da democracia, todos vão querer exércitos de slogans irracionais e o fundamentalismo da crueldade prática, das “soluções finais”.
A grande sedução do simplismo (e do mal) é que ele é uno, com contornos concretos, visível. Mata-se um sujeito e ele cai, vira uma “coisa nossa”, apropriada como objeto total. Nada mais claro que um cadáver, decapitado no Iraque ou na favela do Rio. Por outro lado, a democracia pressupõe tolerância, autocontrole da parte maldita animal, implica em renúncias, implica numa angustiosa contemplação da diferença, em meio a uma paz hoje sinistra, num tédio de catástrofes sem sangue. A estupidez, não: ela é clara, excitante, eficiente. Há a restauração alegre da parvoíce, da imbecilidade, sempre com a sombra da “direita” ou da “esquerda” por trás. Lá fora, Forrest Gump, o herói-babaca, foi o precursor; Bush é seu efeito.
Ele se orgulha de sua burrice. Outro dia, em Yale, ele disse: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidente dos USA”. É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola, explica. O bom asno é bem-vindo, enquanto o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice, não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia — o erro é sempre do outro. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice até dá mais dinheiro; é mais “comercial”. A burrice ativa parece até uma forma perversa de “liberdade”. A burrice é a ignorância ativa, a burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se “fascismo”.
No Brasil, contaminado pelo ar-do-tempo, a burrice e a fome de simplismo dominam a política, a cultura e a vida social. Vivemos em suspense, pois o pensamento petista é ambivalente e, apesar da base pragmática de Lula no ABC, contém em seu corpo a idéia de “confronto”, de “luta de classes”, contém nas cabeças a idéia de “tomada” de poder, de “revolução”, como tumores inoperáveis. Apesar de o governo tentar aprofundar a herança de FHC, com a reforma do Estado e o respeito à democracia, qualquer marola faz aparecer o maniqueísmo subjacente. Lula é mesmo uma contradição encarnada: operário e presidente, excluído e incluído, ex-revolucionário e reformista, o que faz esse governo pensar e trabalhar com conceitos deterministas que caducaram. Por outro lado, ninguém tem certeza de nada, fica tudo numa zona cinzenta de “achismos” e profecias emocionais. Rola no governo um microbolchevismo e uma mal-ajambrada prática da democracia e das alianças que nos levam a uma paralisia que pode ser chamada de burrice. Essa ambivalência provoca a falta de coragem para tentar, para imaginar, para errar. A mula empaca entre duas estradas. A burrice ideológica atrapalha a vida nacional, retardando processos, escolhendo caminhos tortos. Está na raiz de nosso populismo caipira de “esquerda”. Muita gente acha que a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de “sagrado” na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. “Só os pobres de espírito verão Deus”, reza nossa tradição. Nesta festa caipira que rola no poder petista, há uma grande fome de regressismo , de voltar para a “taba”, ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha. Muitos acham que do simplismo, da santa ignorância viriam a solidariedade, a paz, que deteriam a marcha do mercado voraz, da violência do poder. É a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.
Outro dia, vi na TV um daqueles “bispos” de Jesus de terno-e-gravata clamando para uma multidão de fieis: “Não tenham pensamentos livres: o Diabo é que os inventa!”.
Qualquer programa de uma nova esquerda, de uma terceira via, tem de passar pela aceitação da democracia. Dividido, esquizofrênico, como disse Dirceu — seu lado maníaco — o PT que hoje está no Executivo nos mostra como a luta de classes atua até na microfísica de uma organização política, como um bando de pequeno-burgueses pode atrapalhar seus próprios objetivos.
Nunca a burrice fez tanto sucesso.
Popularidade de Lula despenca
de 56,6% em janeiro para 29,4% em junho
http://oglobo.globo.com/online/pais/143149758.asp
BRASÍLIA - A popularidade do governo Lula caiu de 34,6% em maio para 29,4%, para os que avaliam a administração federal como ótima e boa, na pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, encomendada ao Instituto Sensus, divulgada nesta terça-feira. Em janeiro de 2003, a popularidade do governo era de 56,6%, a avaliação regular era de 27,7% e a negativa (ruim e péssimo), de 12,3%. A avaliação regular de maio para junho cresceu de 43,5% para 44,2% e a negativa subiu de 20,6% para 24,1%. Ao todo foram entrevistadas duas mil pessoas, em 24 estados nas cinco regiões do país entre os dias 15 e 17 de junho. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.
http://oglobo.globo.com/online/pais/143149758.asp
BRASÍLIA - A popularidade do governo Lula caiu de 34,6% em maio para 29,4%, para os que avaliam a administração federal como ótima e boa, na pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, encomendada ao Instituto Sensus, divulgada nesta terça-feira. Em janeiro de 2003, a popularidade do governo era de 56,6%, a avaliação regular era de 27,7% e a negativa (ruim e péssimo), de 12,3%. A avaliação regular de maio para junho cresceu de 43,5% para 44,2% e a negativa subiu de 20,6% para 24,1%. Ao todo foram entrevistadas duas mil pessoas, em 24 estados nas cinco regiões do país entre os dias 15 e 17 de junho. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.
"você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão".
http://oglobo.globo.com/online/pais/143148249.asp
RIO - Políticos e admiradores do ex-governador Leonel Brizola, morto na noite desta segunda-feira após uma parada cárdio-respiratória, aos 82 anos, fazem fila no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, para se despedir do líder trabalhista.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou pouco depois das 13h e ficou por apenas cinco minutos com a família de Brizola, no Salão Nobre do palácio. A chegada de Lula causou muita confusão. O presidente foi recebido com vaias e gritos de traidor pelos admiradores de Brizola, que gritavam também o nome do presidente nacional do PDT. Junto aos gritos de traidor, os brizolistas cantavam para o presidente Lula versos de um sucesso de Beth Carvalho: "você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão".
(...)
O presidente Lula decretou luto oficial de três dias no país. Brizola e Lula foram adversários e, também, aliados. Na campanha presidencial de 1989, Lula recebeu apoio de Brizola contra Fernando Collor no segundo turno, assim como em 2002, contra José Serra. Em 1998, os dois foram companheiros de chapa contra Fernando Henrique Cardoso: Lula como candidato a presidente e Brizola a vice
RIO - Políticos e admiradores do ex-governador Leonel Brizola, morto na noite desta segunda-feira após uma parada cárdio-respiratória, aos 82 anos, fazem fila no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, para se despedir do líder trabalhista.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou pouco depois das 13h e ficou por apenas cinco minutos com a família de Brizola, no Salão Nobre do palácio. A chegada de Lula causou muita confusão. O presidente foi recebido com vaias e gritos de traidor pelos admiradores de Brizola, que gritavam também o nome do presidente nacional do PDT. Junto aos gritos de traidor, os brizolistas cantavam para o presidente Lula versos de um sucesso de Beth Carvalho: "você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão".
(...)
O presidente Lula decretou luto oficial de três dias no país. Brizola e Lula foram adversários e, também, aliados. Na campanha presidencial de 1989, Lula recebeu apoio de Brizola contra Fernando Collor no segundo turno, assim como em 2002, contra José Serra. Em 1998, os dois foram companheiros de chapa contra Fernando Henrique Cardoso: Lula como candidato a presidente e Brizola a vice
domingo, junho 20, 2004
GOVERNO LULA VAI ACABAR COM A FOME COM BOMBARDEIO NUCELAR
Alimentos irradiados podem reforçar Fome Zero
Evandro Éboli
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/143127250.asp
BRASÍLIA. O Exército propôs ao Ministério do Desenvolvimento Social que uma tecnologia de irradiação de alimentos, pesquisada pelos militares há alguns anos, seja utilizada no programa Fome Zero. Os militares, que já dominam a técnica, querem aproveitá-la para conservar os alimentos, evitar o desperdício e melhorar a qualidade dos produtos arrecadados pelo programa do governo federal.
A irradiação de alimentos é feita a partir de fontes como o cobalto e o césio 137. A proposta do comando do Exército foi levada semana passada a técnicos da Secretaria de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Fome Zero.
Apesar de aprovada por organismos internacionais, a tecnologia provoca polêmica, e os militares sabem disso. A Alemanha, por exemplo, não aceita esse tipo de alimento. No encontro em Brasília, os representantes do Exército disseram que teriam de vencer resistências na população, que associa irradiação a contaminação.
Evandro Éboli
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/143127250.asp
BRASÍLIA. O Exército propôs ao Ministério do Desenvolvimento Social que uma tecnologia de irradiação de alimentos, pesquisada pelos militares há alguns anos, seja utilizada no programa Fome Zero. Os militares, que já dominam a técnica, querem aproveitá-la para conservar os alimentos, evitar o desperdício e melhorar a qualidade dos produtos arrecadados pelo programa do governo federal.
A irradiação de alimentos é feita a partir de fontes como o cobalto e o césio 137. A proposta do comando do Exército foi levada semana passada a técnicos da Secretaria de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Fome Zero.
Apesar de aprovada por organismos internacionais, a tecnologia provoca polêmica, e os militares sabem disso. A Alemanha, por exemplo, não aceita esse tipo de alimento. No encontro em Brasília, os representantes do Exército disseram que teriam de vencer resistências na população, que associa irradiação a contaminação.
É como colocar um quimono para recepcionar uma comitiva japonesa
Arraial faz arder polêmica
http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/politica/51928.html
Não foi somente a fogueira de Santo Antônio que ardeu na festa junina na Granja do Torto em pleno dia dos namorados, 12 de junho, para comemorar os 30 anos de casamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, Marisa. Uma outra fogueira reacendeu a polêmica sobre os limites que o cargo impõe ao casal presidencial. Brega para alguns, autenticamente regional para outros, o arraial que obrigou ministros a se vestirem a caráter e a levarem comidas típicas, transformou-se em prato cheio para a oposição, que terminaria a semana jantando o governo na votação da Medida Provisória do salário mínimo no Senado.
“Se o Brasil ainda estivesse numa brutal prosperidade, essas excentricidades do presidente seriam toleradas, mas, para um governo cheio de defeitos, uma festa dessas só faz piorar a imagem”, critica o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O tucano critica principalmente o fato de o presidente ter se vestido de caipira. “Um presidente não se fantasia. Usa de modo geral, paletó e gravata e nas suas viagens um traje esporte discreto. Se Lula fosse ao arraial de calça jeans e camisa pólo, ainda caberia. Tentei ver o Fernando Henrique naquela fantasia e não consegui”, disse.
A comparação com o ex-presidente, cuja imagem de intelectual e ex-chanceler não foi arranhada nem quando colocou um chapéu de couro numa feira nordestina e provou uma buchada de bode, foi uma constante nas críticas a festa junina do Torto. “Lula acabou transmitindo uma mensagem jocosa, projetando a imagem de um Brasil caipira. O cargo de presidente exige um ritual. O presidente Fernando Henrique Cardoso sabia muito bem se portar e hoje é lembrado por isso no exterior, assim como dona Ruth, que sempre teve uma presença suave e discreta”, lembra a vice-diretora do Comitê Nacional do Cerimonial Público, Maria Íris Teixeira de Freitas, autora do livro “Cerimonial e Etiqueta”, lançado em 2001. Para ela, Lula ultrapassou os limites até de outros presidentes que se tornaram folclóricos como Jânio Quadros – “que se vestia de safári e impedia as funcionárias públicas de usarem calça comprida” – ou Itamar Franco, “que levou um pouco da cultura caipira também para o Planalto, como se o Brasil fosse o interior”.
O cientista político Rubens Figueiredo ameniza: “O presidente tem direito de fazer uma festa”. Ele só não concorda que todas as festas do novo governo tenham que ser feitas para chamar a atenção para a figura popular do presidente. “Acaba saturando a opinião pública”, acredita. Para Figueiredo, o que segurou o governo até o escândalo Waldomiro Diniz foi a figura carismática de Lula. “Depois do escândalo Waldomiro, houve uma mudança de patamar. Esse excesso de exposição, no momento em que o governo está em baixa, é contraproducente. Não se faz festa, quando há recorde de desemprego”, argumenta. O cientista político também condena quem vê populismo nas ações de Lula. Se fosse assim, segundo ele bastava ao presidente dar um salário mínimo maior, mesmo que fosse para estourar o caixa.
O exagero das festas do presidente segue, segundo Rubens Figueiredo, uma linha adotada pelo PT, que acaba confundindo o público com o privado. “Quando dona Marisa manda fazer uma estrela no jardim, também mistura o público com o particular. Começou com o Lula levando os ministros para a cidade mais pobre do País e continua quando a farra se vira para o loteamento da máquina pública entre os partidos que apóiam o governo”, critica.
Caricatura Especialista há 30 anos em imagem pública, o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Assessores Eleitorais (ABCOP), o publicitário e jornalista Carlos Manhanelli disse que ficou chocado com a foto do casal presidencial vestido de caipira. “O povo brasileiro gosta de ter orgulho dos seus símbolos nacionais e o presidente da República é um símbolo nacional”, afirma. Segundo ele, desde Arthur Bernardes nunca houve na história da República uma atitude como esta. Mesmo considerando que a imagem de homem simples com que Lula foi eleito poderia atenuar a atitude, Manhanelli lembra que o presidente foi eleito na quarta vez que concorreu ao cargo, depois de se apresentar com “ternos impecáveis, barba aparada, uma imagem ponderada, como um estadista”. Para ele, o caipira do último dia 12 destrói a imagem da campanha.
O presidente que joga futebol e faz churrasco não interfere na simbologia, porque o povo também joga bola e faz churrasco. “Mas quando o presidente veste uma caricatura, extrapolando o dia-a-dia do homem simples é diferente”, acentua. Para o especialista é diferente do fato de um presidente colocar um boné do movimento hip-hop como fez FHC quando recepcionou artistas ou do próprio Lula ao colocar o chapéu do MST. “É como colocar um quimono recebido de presente de um líder oriental. Veste um pouco, em agradecimento, dá empatia naquele momento e o quimono vai para o museu do Planalto. É bem diferente de o presidente colocar um quimono para recepcionar uma comitiva japonesa. Vira gozação”, garante. Manhanelli ironiza o constragimento dos convidados que não puderam dizer não ao convite do presidente: “Alguns que não foram convidados devem ter respirado aliviados. Já imaginou uma Marta Suplicy, que durante a campanha não tirou o tailleur e as jóias nem para ir até a favela, sentar num caixote, se vestir de caipira?”
http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/politica/51928.html
Não foi somente a fogueira de Santo Antônio que ardeu na festa junina na Granja do Torto em pleno dia dos namorados, 12 de junho, para comemorar os 30 anos de casamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, Marisa. Uma outra fogueira reacendeu a polêmica sobre os limites que o cargo impõe ao casal presidencial. Brega para alguns, autenticamente regional para outros, o arraial que obrigou ministros a se vestirem a caráter e a levarem comidas típicas, transformou-se em prato cheio para a oposição, que terminaria a semana jantando o governo na votação da Medida Provisória do salário mínimo no Senado.
“Se o Brasil ainda estivesse numa brutal prosperidade, essas excentricidades do presidente seriam toleradas, mas, para um governo cheio de defeitos, uma festa dessas só faz piorar a imagem”, critica o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O tucano critica principalmente o fato de o presidente ter se vestido de caipira. “Um presidente não se fantasia. Usa de modo geral, paletó e gravata e nas suas viagens um traje esporte discreto. Se Lula fosse ao arraial de calça jeans e camisa pólo, ainda caberia. Tentei ver o Fernando Henrique naquela fantasia e não consegui”, disse.
A comparação com o ex-presidente, cuja imagem de intelectual e ex-chanceler não foi arranhada nem quando colocou um chapéu de couro numa feira nordestina e provou uma buchada de bode, foi uma constante nas críticas a festa junina do Torto. “Lula acabou transmitindo uma mensagem jocosa, projetando a imagem de um Brasil caipira. O cargo de presidente exige um ritual. O presidente Fernando Henrique Cardoso sabia muito bem se portar e hoje é lembrado por isso no exterior, assim como dona Ruth, que sempre teve uma presença suave e discreta”, lembra a vice-diretora do Comitê Nacional do Cerimonial Público, Maria Íris Teixeira de Freitas, autora do livro “Cerimonial e Etiqueta”, lançado em 2001. Para ela, Lula ultrapassou os limites até de outros presidentes que se tornaram folclóricos como Jânio Quadros – “que se vestia de safári e impedia as funcionárias públicas de usarem calça comprida” – ou Itamar Franco, “que levou um pouco da cultura caipira também para o Planalto, como se o Brasil fosse o interior”.
O cientista político Rubens Figueiredo ameniza: “O presidente tem direito de fazer uma festa”. Ele só não concorda que todas as festas do novo governo tenham que ser feitas para chamar a atenção para a figura popular do presidente. “Acaba saturando a opinião pública”, acredita. Para Figueiredo, o que segurou o governo até o escândalo Waldomiro Diniz foi a figura carismática de Lula. “Depois do escândalo Waldomiro, houve uma mudança de patamar. Esse excesso de exposição, no momento em que o governo está em baixa, é contraproducente. Não se faz festa, quando há recorde de desemprego”, argumenta. O cientista político também condena quem vê populismo nas ações de Lula. Se fosse assim, segundo ele bastava ao presidente dar um salário mínimo maior, mesmo que fosse para estourar o caixa.
O exagero das festas do presidente segue, segundo Rubens Figueiredo, uma linha adotada pelo PT, que acaba confundindo o público com o privado. “Quando dona Marisa manda fazer uma estrela no jardim, também mistura o público com o particular. Começou com o Lula levando os ministros para a cidade mais pobre do País e continua quando a farra se vira para o loteamento da máquina pública entre os partidos que apóiam o governo”, critica.
Caricatura Especialista há 30 anos em imagem pública, o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos e Assessores Eleitorais (ABCOP), o publicitário e jornalista Carlos Manhanelli disse que ficou chocado com a foto do casal presidencial vestido de caipira. “O povo brasileiro gosta de ter orgulho dos seus símbolos nacionais e o presidente da República é um símbolo nacional”, afirma. Segundo ele, desde Arthur Bernardes nunca houve na história da República uma atitude como esta. Mesmo considerando que a imagem de homem simples com que Lula foi eleito poderia atenuar a atitude, Manhanelli lembra que o presidente foi eleito na quarta vez que concorreu ao cargo, depois de se apresentar com “ternos impecáveis, barba aparada, uma imagem ponderada, como um estadista”. Para ele, o caipira do último dia 12 destrói a imagem da campanha.
O presidente que joga futebol e faz churrasco não interfere na simbologia, porque o povo também joga bola e faz churrasco. “Mas quando o presidente veste uma caricatura, extrapolando o dia-a-dia do homem simples é diferente”, acentua. Para o especialista é diferente do fato de um presidente colocar um boné do movimento hip-hop como fez FHC quando recepcionou artistas ou do próprio Lula ao colocar o chapéu do MST. “É como colocar um quimono recebido de presente de um líder oriental. Veste um pouco, em agradecimento, dá empatia naquele momento e o quimono vai para o museu do Planalto. É bem diferente de o presidente colocar um quimono para recepcionar uma comitiva japonesa. Vira gozação”, garante. Manhanelli ironiza o constragimento dos convidados que não puderam dizer não ao convite do presidente: “Alguns que não foram convidados devem ter respirado aliviados. Já imaginou uma Marta Suplicy, que durante a campanha não tirou o tailleur e as jóias nem para ir até a favela, sentar num caixote, se vestir de caipira?”
Lula precisa desativar o FebeaPla
Elio Gaspari
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
20/06/2004
FebeaPla, com permissão de Sérgio Porto, é o Festival de Besteiras que Anima o Planalto.
Lula tornou-se seu principal colaborador e na semana passada pediu o seguinte aos povos do mundo:
“Nós temos que ajudar os países mais pobres, comprando as coisas deles. Se não, como é que eles vão produzir, gerar empregos? (...) Há países menores e temos de facilitar as coisas para que consigam vender os produtos para nós, às vezes até pagando mais caro.”
Tudo bem, fazendo-se de conta que ele não comprou um avião por US$ 56 milhões na pobre Europa quando poderia comprar um piorzinho no riquíssimo Brasil por metade do preço.
Admita-se que, em vez de comprar algodão aos Estados Unidos, um empresário brasileiro pense em comprá-lo no Benin, um país africano tão pobre que ainda não erradicou o tráfico de crianças para a escravidão. Se dois negociantes importarem algodão pensando em ajudar as crianças do Benin e um fizer sua encomenda nos Estados Unidos, é possível que um centavo de dólar dessa transação acabe no Unicef, financiando uma ONG que batalha no Benin. Uma coisa é certa, se a compra for feita aos vendedores do algodão africano, a grana irá, inteirinha, para o andar de cima do Benin, que deposita seu dinheiro em outros paraísos, desde o tempo de Chachá, o sujeito da nota aí de baixo.
Lula gerencia o lucro dos outros como se fosse dele. O governo ganharia bastante em eficiência se em vez de se envolver nas contas dos empresários o presidente cuidasse das compras de sua quitanda.
Uma coisa é Lula dizer que sua mãe nasceu analfabeta ou que Napoleão foi à China e Oswaldo Cruz inventou a vacina contra a febre amarela. São lapsos verbais associados a um conhecimento desordenado. Bem outra é fazer propostas sem nexo no papel de sindicalista do Terceiro Mundo, fumando cigarrilhas holandesas Café Créme, andando num Ômega australiano com batedores montados em motocicletas americanas Harley Davidson, para encanto da poderosa e riquíssima escumalha nacional.
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
20/06/2004
FebeaPla, com permissão de Sérgio Porto, é o Festival de Besteiras que Anima o Planalto.
Lula tornou-se seu principal colaborador e na semana passada pediu o seguinte aos povos do mundo:
“Nós temos que ajudar os países mais pobres, comprando as coisas deles. Se não, como é que eles vão produzir, gerar empregos? (...) Há países menores e temos de facilitar as coisas para que consigam vender os produtos para nós, às vezes até pagando mais caro.”
Tudo bem, fazendo-se de conta que ele não comprou um avião por US$ 56 milhões na pobre Europa quando poderia comprar um piorzinho no riquíssimo Brasil por metade do preço.
Admita-se que, em vez de comprar algodão aos Estados Unidos, um empresário brasileiro pense em comprá-lo no Benin, um país africano tão pobre que ainda não erradicou o tráfico de crianças para a escravidão. Se dois negociantes importarem algodão pensando em ajudar as crianças do Benin e um fizer sua encomenda nos Estados Unidos, é possível que um centavo de dólar dessa transação acabe no Unicef, financiando uma ONG que batalha no Benin. Uma coisa é certa, se a compra for feita aos vendedores do algodão africano, a grana irá, inteirinha, para o andar de cima do Benin, que deposita seu dinheiro em outros paraísos, desde o tempo de Chachá, o sujeito da nota aí de baixo.
Lula gerencia o lucro dos outros como se fosse dele. O governo ganharia bastante em eficiência se em vez de se envolver nas contas dos empresários o presidente cuidasse das compras de sua quitanda.
Uma coisa é Lula dizer que sua mãe nasceu analfabeta ou que Napoleão foi à China e Oswaldo Cruz inventou a vacina contra a febre amarela. São lapsos verbais associados a um conhecimento desordenado. Bem outra é fazer propostas sem nexo no papel de sindicalista do Terceiro Mundo, fumando cigarrilhas holandesas Café Créme, andando num Ômega australiano com batedores montados em motocicletas americanas Harley Davidson, para encanto da poderosa e riquíssima escumalha nacional.
O espetáculo do crescimento
Os homens de bens da Alerj
http://oglobo.globo.com/jornal/rio/143127507.asp
Um levantamento inédito revela que 27 deputados do Rio aumentaram em mais de 100% seu patrimônio, de 1996 a 2001. A análise mostra que quase 80% dos parlamentares, que forneceram ao Tribunal Regional Eleitoral pelo menos duas declarações de renda no período, tiveram algum crescimento nos bens, provando que, além de bons de voto, muitos são empresários bem-sucedidos. Dezessete deputados — declarando ou não atividades empresariais — conseguiram a façanha de superar todos os outros investimentos do mercado no mesmo período. O levantamento mostra que a crise econômica dos últimos anos passou longe do principal endereço político do Rio: o Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa (Alerj).
A pesquisa partiu de uma base de dados públicos fornecidos ao jornal pelo TRE, que recebeu dos próprios deputados documentos oficiais da Receita Federal ou declarações por escrito de seus bens. A análise da evolução patrimonial compreendeu 70 dos 113 parlamentares que ocuparam uma cadeira no Legislativo no período. Do restante, 19 (candidatos apenas uma vez) só tinham uma declaração arquivada; nove afirmam não ter patrimônio; quatro não atribuíram valores aos bens declarados; e outros 11 só informaram os valores dos bens em uma das duas declarações.
Somados, os bens cujos valores foram informados totalizam R$ 49,1 milhões. A análise, feita com a ajuda de especialistas econômicos, mostra que três deputados tiveram um aumento percentual no patrimônio superior a 1.000%. E mais: um seleto grupo de oito parlamentares atingiu a casa do milhão de reais. Líder do PMDB, Paulo Melo, que chegou ao seu primeiro milhão, diz que o ingresso na política pesou a seu favor:
— O fato de ser notório lhe dá credibilidade. O cara tem confiança em você. Ser deputado virou uma profissão. É como se fosse título nobre, dá prestígio. Tenho consciência de que sou um bom deputado. Mas eu sou um empresário bem-sucedido.
Os deputados apostaram em atividades empresariais que deram certo: da compra e venda de imóveis em Saquarema até comércio de gado melhorado geneticamente, passando pela criação de cavalos de raça.
O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), por exemplo, faturou num único dia, no ano passado, R$ 938 mil com a venda de embriões e sêmen bovino no leilão Ópera & Bilara, no Copacabana Palace.
— As rendas principais do deputado Picciani não guardam relação com sua atividade política. Ele é um empresário de sucesso — disse o advogado Sérgio Mazzillo, que apresentou documentos sobre o crescimento patrimonial de seu cliente.
Entre 1996 e 2001, período compreendido pelo levantamento, o Brasil atravessou crises financeiras. Segundo o IBGE, a renda média do trabalhador caiu 8,7%. Os 5% mais ricos tiveram queda ainda maior: 9,9%. O Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento ínfimo, pouco mais de 10%, devido ao fraco desempenho do setor produtivo, área onde os deputados alegam ter ganhado dinheiro.
O setor da economia que conseguiu os maiores rendimentos foi a área financeira. Quem investiu nos CDIs, que são remunerados com base nos juros do governo, teve ganhos de 175%. O valor das ações da Petrobras, consideradas um dos melhores negócios do período, cresceu 218%. Dezessete parlamentares, de acordo com o levantamento, conseguiram rentabilidade superior a todos esses investimentos.
Marco Gazel, consultor de uma empresa de São Paulo, afirma que um investimento é considerado bom quando consegue render de 10% a 12% acima da inflação. Segundo ele, a partir desse patamar, os negócios são de grande risco, como no mercado de ações, ou provavelmente ilegais.
http://oglobo.globo.com/jornal/rio/143127507.asp
Um levantamento inédito revela que 27 deputados do Rio aumentaram em mais de 100% seu patrimônio, de 1996 a 2001. A análise mostra que quase 80% dos parlamentares, que forneceram ao Tribunal Regional Eleitoral pelo menos duas declarações de renda no período, tiveram algum crescimento nos bens, provando que, além de bons de voto, muitos são empresários bem-sucedidos. Dezessete deputados — declarando ou não atividades empresariais — conseguiram a façanha de superar todos os outros investimentos do mercado no mesmo período. O levantamento mostra que a crise econômica dos últimos anos passou longe do principal endereço político do Rio: o Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa (Alerj).
A pesquisa partiu de uma base de dados públicos fornecidos ao jornal pelo TRE, que recebeu dos próprios deputados documentos oficiais da Receita Federal ou declarações por escrito de seus bens. A análise da evolução patrimonial compreendeu 70 dos 113 parlamentares que ocuparam uma cadeira no Legislativo no período. Do restante, 19 (candidatos apenas uma vez) só tinham uma declaração arquivada; nove afirmam não ter patrimônio; quatro não atribuíram valores aos bens declarados; e outros 11 só informaram os valores dos bens em uma das duas declarações.
Somados, os bens cujos valores foram informados totalizam R$ 49,1 milhões. A análise, feita com a ajuda de especialistas econômicos, mostra que três deputados tiveram um aumento percentual no patrimônio superior a 1.000%. E mais: um seleto grupo de oito parlamentares atingiu a casa do milhão de reais. Líder do PMDB, Paulo Melo, que chegou ao seu primeiro milhão, diz que o ingresso na política pesou a seu favor:
— O fato de ser notório lhe dá credibilidade. O cara tem confiança em você. Ser deputado virou uma profissão. É como se fosse título nobre, dá prestígio. Tenho consciência de que sou um bom deputado. Mas eu sou um empresário bem-sucedido.
Os deputados apostaram em atividades empresariais que deram certo: da compra e venda de imóveis em Saquarema até comércio de gado melhorado geneticamente, passando pela criação de cavalos de raça.
O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), por exemplo, faturou num único dia, no ano passado, R$ 938 mil com a venda de embriões e sêmen bovino no leilão Ópera & Bilara, no Copacabana Palace.
— As rendas principais do deputado Picciani não guardam relação com sua atividade política. Ele é um empresário de sucesso — disse o advogado Sérgio Mazzillo, que apresentou documentos sobre o crescimento patrimonial de seu cliente.
Entre 1996 e 2001, período compreendido pelo levantamento, o Brasil atravessou crises financeiras. Segundo o IBGE, a renda média do trabalhador caiu 8,7%. Os 5% mais ricos tiveram queda ainda maior: 9,9%. O Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento ínfimo, pouco mais de 10%, devido ao fraco desempenho do setor produtivo, área onde os deputados alegam ter ganhado dinheiro.
O setor da economia que conseguiu os maiores rendimentos foi a área financeira. Quem investiu nos CDIs, que são remunerados com base nos juros do governo, teve ganhos de 175%. O valor das ações da Petrobras, consideradas um dos melhores negócios do período, cresceu 218%. Dezessete parlamentares, de acordo com o levantamento, conseguiram rentabilidade superior a todos esses investimentos.
Marco Gazel, consultor de uma empresa de São Paulo, afirma que um investimento é considerado bom quando consegue render de 10% a 12% acima da inflação. Segundo ele, a partir desse patamar, os negócios são de grande risco, como no mercado de ações, ou provavelmente ilegais.
sexta-feira, junho 18, 2004
Governo perde (e o povo ganha) batalha do mínimo no Senado
.
Oposição consegue aprovar, por 44 votos a favor, 31 contra e uma abstenção, substitutivo que eleva para R$ 275 o salário, apesar da intervenção de Lula e do esforço dos líderes aliados.
p.s. pode até ser que mude, mas eles vão ter que se explicar nas eleiçoes municipais. He ! He! Sarney e ACM foram geniais !
Oposição consegue aprovar, por 44 votos a favor, 31 contra e uma abstenção, substitutivo que eleva para R$ 275 o salário, apesar da intervenção de Lula e do esforço dos líderes aliados.
p.s. pode até ser que mude, mas eles vão ter que se explicar nas eleiçoes municipais. He ! He! Sarney e ACM foram geniais !
DISSERAM " VAI SER BURRO ASSIM LÁ NA CHINA" . ELE FOI !!!
Lula tem de ser processado por administração lesiva. Ele e seus Platões de meia-tigela
O golpe chinês da “tolerância zero”
O preço das ousadas e escalafobéticas mudanças geográficas, comerciais, políticas, filosóficas, sentimentais e ideológicas promovidas por Luiz Inácio “Marco Polo” da Silva começou a desembarcar no Brasil.
O golpe chinês da “tolerância zero”
O preço das ousadas e escalafobéticas mudanças geográficas, comerciais, políticas, filosóficas, sentimentais e ideológicas promovidas por Luiz Inácio “Marco Polo” da Silva começou a desembarcar no Brasil.
domingo, junho 13, 2004
TRABALHADOR LIDERA PERDAS E BANCOS LUCRAM NO GOVERNO LULA
http://www.superavit.com.br/noticias.asp?id=27025
(...) Os assalariados lideram as perdas nos primeiros 16 meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Já os bancos não têm do que se queixar. (...) as instituições financeiras são os agentes econômicos que colecionam os melhores resultados no governo petista. A queda da taxa básica de juros, que remunera os compradores de títulos públicos (os principais são os próprios bancos), foi insuficiente para mudar um quadro que alia alta lucratividade do setor financeiro ao baixo retorno nas atividades da chamada economia real.
Desempenho dos bancos é bem melhor do que o da indústria, comércio, agropecuária e do rendimento dos assalariados
(...) comparou dados da indústria, comércio, agropecuária, bancos e mercado de trabalho. Entre esses cinco agentes econômicos, quatro apresentam ganhos em relação ao início do governo Lula. No caso da indústria e do comércio, o saldo final só é positivo graças à pequena retomada ocorrida a partir deste ano. O resultado pior cabe aos trabalhadores, cuja renda caiu continuamente nos últimos 16 meses. Foi analisado o período que compreende a chegada de Lula à presidência, em janeiro do ano passado, até os últimos dados disponíveis para cada setor. A fonte das informações são as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, no caso dos bancos, o próprio balanço das empresas.
De acordo com os números do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas) nos cinco últimos trimestres (os quatro de 2003 e o primeiro deste ano), a produção industrial cresceu 2,85% no governo Lula. O comércio e a agropecuária conseguiram desempenho melhor, com expansão de 5,14% e 6,45%, respectivamente. No caso do mercado de trabalho, buscaram-se os dados sobre o rendimento médio dos empregados, divulgados todo mês pelo IBGE: eles refletem uma queda nos salários de 5,2%. Já os bancos apresentaram, entre o 1° trimestre de 2003 e o mesmo período deste ano, um crescimento de 23% em seus lucros.
As conclusões não têm caráter científico, já que comparam diferentes variáveis de desempenho. Mas dão pistas seguras sobre a realidade desses setores no período analisado. A comparação entre o ritmo da produção da indústria e a lucratividade dos bancos mostra que o lucro das instituições financeiras cresceu bem mais do que a produção industrial (23% a 2,85%). Se a amostra levasse em conta o lucro da indústria, o resultado não seria diverso, já que a perda do poder de compra da população inibiu a margem de lucro das empresas do setor. “É possível fazer a comparação de diversas formas, mas as conclusões seriam muito parecidas”, afirma o economista Marcelo Ávila, da empresa de consultoria Global Invest.
A alta lucratividade dos bancos é explicada principalmente pela elevada taxa de juros fixada pelo Banco Central no País. A Selic, como o mercado chama essa taxa, remunera os compradores de papéis vendidos pelo Tesouro Nacional. Quando tomou posse, em janeiro de 2003, a taxa básica era de 25% ao ano. Em março, a Selic era de 26,5%. Ainda assim, os maiores bancos do País lucraram 23% a menos naquele período, comparado aos três primeiros meses deste ano. A explicação é que os juros continuaram muito altos, acima de 16% ao ano entre janeiro e março de 2004. Além disso, a receita com tarifas não pára de crescer. Segundo a ABM Consulting, para compensar a redução dos ganhos com títulos públicos, os bancos elevaram suas tarifas – apenas nas três maiores instituições financeiras do País, a participação das tarifas no total das receitas cresceu em média 2,4 pontos percentuais no primeiro trimestre deste ano.
Indústria, comércio, agricultura e trabalhadores não puderam fazer essa manobra financeira. “É uma bola de neve, com um setor dependendo do outro”, diz o presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Fernandes. “Se um vai mal, acaba contagiando os demais.” Os trabalhadores perderam poder de compra entre janeiro de 2003 e abril deste ano, segundo os últimos números do IBGE, já que seu rendimento médio real recuou 5,2%. Com isso, indústria e comércio – e, em menor escala, o setor agropecuário – tiveram dificuldade de vender suas mercadorias. Também não puderam reduzir perdas na margem de lucro, uma vez que o consumo retraído impediu reajuste nos preços. Em dificuldades, passaram a demitir ou a conceder aumentos salariais menores a seus empregados, reiniciando o círculo vicioso.
(...) Os assalariados lideram as perdas nos primeiros 16 meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Já os bancos não têm do que se queixar. (...) as instituições financeiras são os agentes econômicos que colecionam os melhores resultados no governo petista. A queda da taxa básica de juros, que remunera os compradores de títulos públicos (os principais são os próprios bancos), foi insuficiente para mudar um quadro que alia alta lucratividade do setor financeiro ao baixo retorno nas atividades da chamada economia real.
Desempenho dos bancos é bem melhor do que o da indústria, comércio, agropecuária e do rendimento dos assalariados
(...) comparou dados da indústria, comércio, agropecuária, bancos e mercado de trabalho. Entre esses cinco agentes econômicos, quatro apresentam ganhos em relação ao início do governo Lula. No caso da indústria e do comércio, o saldo final só é positivo graças à pequena retomada ocorrida a partir deste ano. O resultado pior cabe aos trabalhadores, cuja renda caiu continuamente nos últimos 16 meses. Foi analisado o período que compreende a chegada de Lula à presidência, em janeiro do ano passado, até os últimos dados disponíveis para cada setor. A fonte das informações são as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, no caso dos bancos, o próprio balanço das empresas.
De acordo com os números do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas) nos cinco últimos trimestres (os quatro de 2003 e o primeiro deste ano), a produção industrial cresceu 2,85% no governo Lula. O comércio e a agropecuária conseguiram desempenho melhor, com expansão de 5,14% e 6,45%, respectivamente. No caso do mercado de trabalho, buscaram-se os dados sobre o rendimento médio dos empregados, divulgados todo mês pelo IBGE: eles refletem uma queda nos salários de 5,2%. Já os bancos apresentaram, entre o 1° trimestre de 2003 e o mesmo período deste ano, um crescimento de 23% em seus lucros.
As conclusões não têm caráter científico, já que comparam diferentes variáveis de desempenho. Mas dão pistas seguras sobre a realidade desses setores no período analisado. A comparação entre o ritmo da produção da indústria e a lucratividade dos bancos mostra que o lucro das instituições financeiras cresceu bem mais do que a produção industrial (23% a 2,85%). Se a amostra levasse em conta o lucro da indústria, o resultado não seria diverso, já que a perda do poder de compra da população inibiu a margem de lucro das empresas do setor. “É possível fazer a comparação de diversas formas, mas as conclusões seriam muito parecidas”, afirma o economista Marcelo Ávila, da empresa de consultoria Global Invest.
A alta lucratividade dos bancos é explicada principalmente pela elevada taxa de juros fixada pelo Banco Central no País. A Selic, como o mercado chama essa taxa, remunera os compradores de papéis vendidos pelo Tesouro Nacional. Quando tomou posse, em janeiro de 2003, a taxa básica era de 25% ao ano. Em março, a Selic era de 26,5%. Ainda assim, os maiores bancos do País lucraram 23% a menos naquele período, comparado aos três primeiros meses deste ano. A explicação é que os juros continuaram muito altos, acima de 16% ao ano entre janeiro e março de 2004. Além disso, a receita com tarifas não pára de crescer. Segundo a ABM Consulting, para compensar a redução dos ganhos com títulos públicos, os bancos elevaram suas tarifas – apenas nas três maiores instituições financeiras do País, a participação das tarifas no total das receitas cresceu em média 2,4 pontos percentuais no primeiro trimestre deste ano.
Indústria, comércio, agricultura e trabalhadores não puderam fazer essa manobra financeira. “É uma bola de neve, com um setor dependendo do outro”, diz o presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Fernandes. “Se um vai mal, acaba contagiando os demais.” Os trabalhadores perderam poder de compra entre janeiro de 2003 e abril deste ano, segundo os últimos números do IBGE, já que seu rendimento médio real recuou 5,2%. Com isso, indústria e comércio – e, em menor escala, o setor agropecuário – tiveram dificuldade de vender suas mercadorias. Também não puderam reduzir perdas na margem de lucro, uma vez que o consumo retraído impediu reajuste nos preços. Em dificuldades, passaram a demitir ou a conceder aumentos salariais menores a seus empregados, reiniciando o círculo vicioso.
sábado, junho 12, 2004
Dialética da empulhação e otimismo fatalista
Por Reinaldo Azevedo
(...) Depois da leitura que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez da governança do ministro Gilberto Gil, essa frase passa a ser o emblema do governo. No relançamento do Projeto Pixinguinha, Lula brindou seu ministro da Cultura com um elogio devastador. Seguem entre aspas as palavras do chefe: “A gente tem um ministro da Cultura que é a síntese da cara cultural deste país, um ministro que não tem que provar que entende de cultura, um ministro que não tem que provar que tem compromisso com a cultura, um ministro que tem que ter apenas a paciência de deixar as coisas irem acontecendo, de acordo com o tempo que as coisas têm que acontecer”. É lapidar. Ninguém poderia dizer palavras mais sóbrias, precisas e sensatas sobre o governo.
É isso aí, gente: pode parecer que nada está acontecendo, mas é justamente o contrário. E é preciso que o presidente não seja injusto no elogio: ele cabe a boa parte de seu gigantesco ministério. Convenhamos: Olívio Dutra não precisa provar que entende de Cidades. Patrus Ananias não precisa provar que entende de Desenvolvimento Social. Miguel Rosseto não precisa provar que entende de Reforma Agrária. Aquele senhor que cuida da pesca não precisa provar que entende de peixes (o presidente que os multiplique com seu verbo imantado pela vocação divina). E nem Lula precisa provar que entende de Presidência da República. Nesse governo, ninguém precisa provar que entende de coisa nenhuma. O negócio é deixar rolar. Estamos diante da dialética da empulhação a serviço do otimismo fatalista.
(...) Depois da leitura que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez da governança do ministro Gilberto Gil, essa frase passa a ser o emblema do governo. No relançamento do Projeto Pixinguinha, Lula brindou seu ministro da Cultura com um elogio devastador. Seguem entre aspas as palavras do chefe: “A gente tem um ministro da Cultura que é a síntese da cara cultural deste país, um ministro que não tem que provar que entende de cultura, um ministro que não tem que provar que tem compromisso com a cultura, um ministro que tem que ter apenas a paciência de deixar as coisas irem acontecendo, de acordo com o tempo que as coisas têm que acontecer”. É lapidar. Ninguém poderia dizer palavras mais sóbrias, precisas e sensatas sobre o governo.
É isso aí, gente: pode parecer que nada está acontecendo, mas é justamente o contrário. E é preciso que o presidente não seja injusto no elogio: ele cabe a boa parte de seu gigantesco ministério. Convenhamos: Olívio Dutra não precisa provar que entende de Cidades. Patrus Ananias não precisa provar que entende de Desenvolvimento Social. Miguel Rosseto não precisa provar que entende de Reforma Agrária. Aquele senhor que cuida da pesca não precisa provar que entende de peixes (o presidente que os multiplique com seu verbo imantado pela vocação divina). E nem Lula precisa provar que entende de Presidência da República. Nesse governo, ninguém precisa provar que entende de coisa nenhuma. O negócio é deixar rolar. Estamos diante da dialética da empulhação a serviço do otimismo fatalista.
segunda-feira, junho 07, 2004
BNDES: um poder paralelo no governo
É COMO SE A DIRETORIA TIVESSE MANDATO PARA AGIR ISOLADAMENTE E DECIDIR O QUE BEM ENTENDER
ECONOMIA
O ESTADO DE S.PAULO
Domingo, 6 de junho de 2004
SUELY CALDAS
O mundo mudou, o Muro de Berlim caiu, os países do Leste Europeu e da ex-União Soviética viraram capitalistas sem detonar um único tiro, a globalização avançou - até agora em desvantagem para os países pobres. O Brasil também mudou, saiu da ditadura para a democracia, modernizou sua indústria, abriu a economia, revogou reservas de mercado, importar produtos deixou de ser pecado, eliminou subsídios às empresas, o Estado assumiu papéis de regulador e provedor de educação, saúde, segurança, programas sociais e deixou de intervir na vida privada dos cidadãos e das empresas.
Mudanças se processam empurradas pela evolução do progresso - econômico, tecnológico, científico, social. É um processo natural para o qual governos e governados devem estar abertos e preparados para enfrentá-lo no sentido do usufruto e bem-estar coletivo.
Sempre há, porém, os resistentes, os saudosistas, que grudam como carrapatos em modelos e métodos que podem ter sido adequados no quadro econômico do País dos anos 70 e politicamente amparados por uma ditadura militar autoritária e centralizadora, mas hoje estão ultrapassados, não fazem nenhum sentido. No governo Lula os resistentes e seus modelos estão presentes na direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na última quinta-feira o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, anunciou um novo plano estratégico para atuação do banco, cujo modelo - segundo ele próprio declarou - é baseado na experiência dos anos 70, quando o País era governado pelos militares e atos econômicos não passavam pelo Congresso, bastava a caneta do general ou do burocrata civil com poder de decisão.
Tempos em que o BNDES concedia créditos subsidiados (e sustentados por impostos pagos pela população), escolhia as empresas contempladas, deixando de fora outras, sem critérios esclarecidos de escolha porque não precisava dar explicações a ninguém. No estilo negado por André Lara Resende ao tomar posse na presidência do banco, em 1997: "Não vim aqui para escolher vencidos e vencedores."
O orçamento do BNDES na época era alimentado por recursos do Tesouro. Ou seja, sem meios de controlar ou interferir, a população pagou por muitas decisões erradas. E pagou caro. A Ferrovia do Aço, por exemplo, sugou recursos bilionários do banco, sua construção arrastou-se por 20 anos e mesmo assim sem completar o trajeto original. Na Caraíba Metais o banco enterrou US$ 1 bilhão e nunca conseguiu atingir a megalômana meta de dar auto-suficiência em cobre ao País. A Vibasa, uma indústria de bens de capital, foi outro fiasco a consumir dinheiro público. A lista é grande, não cabe neste espaço.
Dinheiro farto e concedido sem controle, o banco não se preocupava com avaliações de risco: socorreu empresas falidas - as famosas operações hospital -, tornou-se sócio de empreendimentos exóticos (um hotel, por exemplo) e acumulou a maior inadimplência de sua história.
O plano estratégico de Darc Costa vai criar sete câmaras setoriais e 43 grupos de trabalho para cuidar de áreas econômicas específicas. Dessas cabeças iluminadas e poderosas serão extraídas decisões de aplicar vultosos recursos públicos e escolhas dos que serão e os que não serão premiados com créditos (os vencedores e os vencidos), segundo critérios que esses mesmos iluminados irão definir. Tem razão Darc Costa, no melhor estilo centralizador e intervencionista dos anos 70 e um método de tomar decisões intrinsecamente permeável aos erros do passado.
O vice-presidente não esclareceu se consultou ou não o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para tocar seu plano estratégico. Mas no governo não é segredo que a diretoria do banco age e decide isoladamente, sem dar satisfações ao ministro a quem está subordinada. Como aconteceu em muitos outros episódios, inclusive na compra das ações da Valepar, onde o banco aplicou R$ 1,5 bilhão sem consultar Furlan nem o governo. É como se o BNDES tivesse recebido mandato (sabe-se lá de quem) para exercer um poder paralelo e discricionário para decidir o que bem entender, descolado do resto do governo.
Com seu plano de dividir o banco em sete câmaras setoriais, quer não só executar, mas também planejar uma nova política industrial para o País, ignorando completamente que o País já tem uma, aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e definida pelos Ministérios da Fazenda, Desenvolvimento e Planejamento, depois de muita discussão no governo, inclusive com a participação do BNDES. Por qual das duas vai optar Lula?
ECONOMIA
O ESTADO DE S.PAULO
Domingo, 6 de junho de 2004
SUELY CALDAS
O mundo mudou, o Muro de Berlim caiu, os países do Leste Europeu e da ex-União Soviética viraram capitalistas sem detonar um único tiro, a globalização avançou - até agora em desvantagem para os países pobres. O Brasil também mudou, saiu da ditadura para a democracia, modernizou sua indústria, abriu a economia, revogou reservas de mercado, importar produtos deixou de ser pecado, eliminou subsídios às empresas, o Estado assumiu papéis de regulador e provedor de educação, saúde, segurança, programas sociais e deixou de intervir na vida privada dos cidadãos e das empresas.
Mudanças se processam empurradas pela evolução do progresso - econômico, tecnológico, científico, social. É um processo natural para o qual governos e governados devem estar abertos e preparados para enfrentá-lo no sentido do usufruto e bem-estar coletivo.
Sempre há, porém, os resistentes, os saudosistas, que grudam como carrapatos em modelos e métodos que podem ter sido adequados no quadro econômico do País dos anos 70 e politicamente amparados por uma ditadura militar autoritária e centralizadora, mas hoje estão ultrapassados, não fazem nenhum sentido. No governo Lula os resistentes e seus modelos estão presentes na direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na última quinta-feira o vice-presidente do BNDES, Darc Costa, anunciou um novo plano estratégico para atuação do banco, cujo modelo - segundo ele próprio declarou - é baseado na experiência dos anos 70, quando o País era governado pelos militares e atos econômicos não passavam pelo Congresso, bastava a caneta do general ou do burocrata civil com poder de decisão.
Tempos em que o BNDES concedia créditos subsidiados (e sustentados por impostos pagos pela população), escolhia as empresas contempladas, deixando de fora outras, sem critérios esclarecidos de escolha porque não precisava dar explicações a ninguém. No estilo negado por André Lara Resende ao tomar posse na presidência do banco, em 1997: "Não vim aqui para escolher vencidos e vencedores."
O orçamento do BNDES na época era alimentado por recursos do Tesouro. Ou seja, sem meios de controlar ou interferir, a população pagou por muitas decisões erradas. E pagou caro. A Ferrovia do Aço, por exemplo, sugou recursos bilionários do banco, sua construção arrastou-se por 20 anos e mesmo assim sem completar o trajeto original. Na Caraíba Metais o banco enterrou US$ 1 bilhão e nunca conseguiu atingir a megalômana meta de dar auto-suficiência em cobre ao País. A Vibasa, uma indústria de bens de capital, foi outro fiasco a consumir dinheiro público. A lista é grande, não cabe neste espaço.
Dinheiro farto e concedido sem controle, o banco não se preocupava com avaliações de risco: socorreu empresas falidas - as famosas operações hospital -, tornou-se sócio de empreendimentos exóticos (um hotel, por exemplo) e acumulou a maior inadimplência de sua história.
O plano estratégico de Darc Costa vai criar sete câmaras setoriais e 43 grupos de trabalho para cuidar de áreas econômicas específicas. Dessas cabeças iluminadas e poderosas serão extraídas decisões de aplicar vultosos recursos públicos e escolhas dos que serão e os que não serão premiados com créditos (os vencedores e os vencidos), segundo critérios que esses mesmos iluminados irão definir. Tem razão Darc Costa, no melhor estilo centralizador e intervencionista dos anos 70 e um método de tomar decisões intrinsecamente permeável aos erros do passado.
O vice-presidente não esclareceu se consultou ou não o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para tocar seu plano estratégico. Mas no governo não é segredo que a diretoria do banco age e decide isoladamente, sem dar satisfações ao ministro a quem está subordinada. Como aconteceu em muitos outros episódios, inclusive na compra das ações da Valepar, onde o banco aplicou R$ 1,5 bilhão sem consultar Furlan nem o governo. É como se o BNDES tivesse recebido mandato (sabe-se lá de quem) para exercer um poder paralelo e discricionário para decidir o que bem entender, descolado do resto do governo.
Com seu plano de dividir o banco em sete câmaras setoriais, quer não só executar, mas também planejar uma nova política industrial para o País, ignorando completamente que o País já tem uma, aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e definida pelos Ministérios da Fazenda, Desenvolvimento e Planejamento, depois de muita discussão no governo, inclusive com a participação do BNDES. Por qual das duas vai optar Lula?
A culpa é do Brasil !
ESPAÇO ABERTO
O ESTADO DE S.PAULO
Sexta-feira, 4 de junho de 2004
JOÃO MELLÃO NETO
jornalista
E-mail: j.mellao@uol.com.br
Site: www.mellao.com.br
Fax: (11) 3845-1794
"Economia estagnada, desemprego crescente, dívidas interna e externa astronômicas, escalada da violência, desigualdade social insustentável, juros escorchantes enriquecendo os banqueiros, governo insensível e inoperante, desperdício de dinheiro público, corrupção desenfreada, não, não dá mais! Está chegando o dia em que todos os cidadãos dignos se rebelarão contra 'tudo isso que está aí!' Basta!"
Não, não estamos falando do presente. Esse diagnóstico-desabafo era o que se fazia, no final dos anos 1970, pelos pré-petistas, para justificar a criação do novo partido. Eu, então, era estudante universitário e nos diretórios acadêmicos só se falava nisso. Eu me entendia, ideologicamente, como um socialista democrático com pendores à social-democrata. Naquela época maniqueísta, isso já era o bastante para ser tido pelos colegas "politizados" como um odioso conformista ou, no máximo, um "reformista alienado". O politicamente correto, naqueles tempos, era ser marxista-leninista, ou trotskista, defensor da luta de classes e simpatizante da ditadura do proletariado. A História era "científica", diziam eles. E as contradições capitalistas haveriam necessariamente de desembocar no comunismo.
Tive a oportunidade, na ocasião, de conviver com numerosos estudantes e mestres que, pouco tempo depois, iriam ajudar a fundar o PT, um partido que, como eles mesmo diziam, seria o primeiro de origem verdadeiramente popular da História do Brasil. Eu, ironicamente, os provocava: se o partido era realmente popular, o que pretendiam tantos professores e universitários com ele? Não era o seu grande líder, Lula, um iletrado? Eu quase apanhava quando dizia essas coisas. Mas alguma razão eu tinha. Lula nunca lera um livro marxista. Os intelectuais o adotaram tão-somente porque eles, por si sós, não tinham nenhum apelo popular e ele, por seu lado, era uma espontânea e autêntica liderança de massas. Haveriam de "fazer a cabeça" dele depois, acreditavam. Afinal, eles eram a "vanguarda". E foi assim, com essa esdrúxula mescla de intelectuais, clérigos e metalúrgicos, que se haveria de formar o PT.
Continuei a manter relações esparsas com meus ex-colegas, agora petistas, pela vida afora. Nossas convicções se foram distanciando. Enquanto eu, pelo contato com a realidade, me ia tornando um liberal, eles, por só conversarem entre si mesmos, foram reforçando os seus ideais revolucionários. Durante anos e anos a fio eles acreditaram que, quando "o povo", por intermédio do PT, chegasse ao poder, um novo Estado, uma nova sociedade e, por conseqüência, um novo homem haveriam de surgir. A lógica era, mais ou menos, a seguinte:
O Estado, uma vez controlado por pessoas realmente honestas e bem-intencionadas, expropriaria os meios de produção estratégicos, cuidaria de acabar com a pobreza e a exploração, promoveria um desenvolvimento econômico justo e coibiria as tendências gananciosas das elites dominantes.
A sociedade, assim, se tornaria mais humana e solidária, trocaria a concorrência pela cooperação e se voltaria para a promoção do bem-estar geral.
Os homens, por fim, ao serem criados e educados para viverem numa sociedade lastreada em valores comunitários, naturalmente deixariam de ser individualistas e ambiciosos e se tornariam cidadãos cordiais, harmoniosos, altruístas e verdadeiramente fraternos.
Viável ou não, detalhes ideológicos à parte, foi esse o sonho básico que embalou e motivou milhares de militantes petistas por mais de duas décadas.
Pois bem, não se trata mais de sonhar. Lula chegou à Presidência da República, o PT já está no poder há 18 meses, o aparelho do Estado foi totalmente tomado pelos militantes do partido e, surpreendentemente, tudo aquilo que foi enunciado no primeiro parágrafo está acontecendo aqui e agora.
Tenho vontade, às vezes, de ligar para algum daqueles ex-colegas de escola - que se acreditavam tão "moralmente superiores" - e indagar o que eles estão achando disso tudo.
Já que "o povo" finalmente está no poder e a dita "vanguarda" ocupa agora quase todos os cargos de direção do governo, cadê o novo Estado, a nova sociedade e o novo homem?
Vocês ainda acreditam que tudo no mundo se resolve tão-somente com vontade política?
Vocês ainda afirmariam, como no passado, que "os números foram feitos para servir aos homens, e não os homens para servir aos números"?
Vocês estão se sentindo enganados? Ou, ao contrário, acreditam que, por serem bem-intencionados, estão previamente perdoados por fazer tudo o que os outros governos faziam e vocês tanto condenavam?
Na propaganda eleitoral vocês nos mostraram o Lula cercado de um monte de intelectuais trabalhando, como se estivessem montando um grandioso plano de governo. Cadê esse plano? Qual é, afinal, o projeto de vocês?
Agora que "a esperança venceu o medo" e não temos mais "medo de ser felizes", cadê a felicidade por tantos anos prometida?
O "governo do povo", paradoxalmente, está despencando nas pesquisas com o próprio povo. O que está ocorrendo? Vocês não estavam maduros para gerir o Brasil? Ou será que acreditam que é o Brasil que não estava maduro para ser gerido por vocês?
Para vocês, meus caros ex-colegas de escola, resta ao menos um consolo. O prognóstico de vocês estava corretíssimo: "Está chegando o dia em que todos os cidadãos dignos se rebelarão contra 'tudo isso que está aí!' Basta!"
O ESTADO DE S.PAULO
Sexta-feira, 4 de junho de 2004
JOÃO MELLÃO NETO
jornalista
E-mail: j.mellao@uol.com.br
Site: www.mellao.com.br
Fax: (11) 3845-1794
"Economia estagnada, desemprego crescente, dívidas interna e externa astronômicas, escalada da violência, desigualdade social insustentável, juros escorchantes enriquecendo os banqueiros, governo insensível e inoperante, desperdício de dinheiro público, corrupção desenfreada, não, não dá mais! Está chegando o dia em que todos os cidadãos dignos se rebelarão contra 'tudo isso que está aí!' Basta!"
Não, não estamos falando do presente. Esse diagnóstico-desabafo era o que se fazia, no final dos anos 1970, pelos pré-petistas, para justificar a criação do novo partido. Eu, então, era estudante universitário e nos diretórios acadêmicos só se falava nisso. Eu me entendia, ideologicamente, como um socialista democrático com pendores à social-democrata. Naquela época maniqueísta, isso já era o bastante para ser tido pelos colegas "politizados" como um odioso conformista ou, no máximo, um "reformista alienado". O politicamente correto, naqueles tempos, era ser marxista-leninista, ou trotskista, defensor da luta de classes e simpatizante da ditadura do proletariado. A História era "científica", diziam eles. E as contradições capitalistas haveriam necessariamente de desembocar no comunismo.
Tive a oportunidade, na ocasião, de conviver com numerosos estudantes e mestres que, pouco tempo depois, iriam ajudar a fundar o PT, um partido que, como eles mesmo diziam, seria o primeiro de origem verdadeiramente popular da História do Brasil. Eu, ironicamente, os provocava: se o partido era realmente popular, o que pretendiam tantos professores e universitários com ele? Não era o seu grande líder, Lula, um iletrado? Eu quase apanhava quando dizia essas coisas. Mas alguma razão eu tinha. Lula nunca lera um livro marxista. Os intelectuais o adotaram tão-somente porque eles, por si sós, não tinham nenhum apelo popular e ele, por seu lado, era uma espontânea e autêntica liderança de massas. Haveriam de "fazer a cabeça" dele depois, acreditavam. Afinal, eles eram a "vanguarda". E foi assim, com essa esdrúxula mescla de intelectuais, clérigos e metalúrgicos, que se haveria de formar o PT.
Continuei a manter relações esparsas com meus ex-colegas, agora petistas, pela vida afora. Nossas convicções se foram distanciando. Enquanto eu, pelo contato com a realidade, me ia tornando um liberal, eles, por só conversarem entre si mesmos, foram reforçando os seus ideais revolucionários. Durante anos e anos a fio eles acreditaram que, quando "o povo", por intermédio do PT, chegasse ao poder, um novo Estado, uma nova sociedade e, por conseqüência, um novo homem haveriam de surgir. A lógica era, mais ou menos, a seguinte:
O Estado, uma vez controlado por pessoas realmente honestas e bem-intencionadas, expropriaria os meios de produção estratégicos, cuidaria de acabar com a pobreza e a exploração, promoveria um desenvolvimento econômico justo e coibiria as tendências gananciosas das elites dominantes.
A sociedade, assim, se tornaria mais humana e solidária, trocaria a concorrência pela cooperação e se voltaria para a promoção do bem-estar geral.
Os homens, por fim, ao serem criados e educados para viverem numa sociedade lastreada em valores comunitários, naturalmente deixariam de ser individualistas e ambiciosos e se tornariam cidadãos cordiais, harmoniosos, altruístas e verdadeiramente fraternos.
Viável ou não, detalhes ideológicos à parte, foi esse o sonho básico que embalou e motivou milhares de militantes petistas por mais de duas décadas.
Pois bem, não se trata mais de sonhar. Lula chegou à Presidência da República, o PT já está no poder há 18 meses, o aparelho do Estado foi totalmente tomado pelos militantes do partido e, surpreendentemente, tudo aquilo que foi enunciado no primeiro parágrafo está acontecendo aqui e agora.
Tenho vontade, às vezes, de ligar para algum daqueles ex-colegas de escola - que se acreditavam tão "moralmente superiores" - e indagar o que eles estão achando disso tudo.
Já que "o povo" finalmente está no poder e a dita "vanguarda" ocupa agora quase todos os cargos de direção do governo, cadê o novo Estado, a nova sociedade e o novo homem?
Vocês ainda acreditam que tudo no mundo se resolve tão-somente com vontade política?
Vocês ainda afirmariam, como no passado, que "os números foram feitos para servir aos homens, e não os homens para servir aos números"?
Vocês estão se sentindo enganados? Ou, ao contrário, acreditam que, por serem bem-intencionados, estão previamente perdoados por fazer tudo o que os outros governos faziam e vocês tanto condenavam?
Na propaganda eleitoral vocês nos mostraram o Lula cercado de um monte de intelectuais trabalhando, como se estivessem montando um grandioso plano de governo. Cadê esse plano? Qual é, afinal, o projeto de vocês?
Agora que "a esperança venceu o medo" e não temos mais "medo de ser felizes", cadê a felicidade por tantos anos prometida?
O "governo do povo", paradoxalmente, está despencando nas pesquisas com o próprio povo. O que está ocorrendo? Vocês não estavam maduros para gerir o Brasil? Ou será que acreditam que é o Brasil que não estava maduro para ser gerido por vocês?
Para vocês, meus caros ex-colegas de escola, resta ao menos um consolo. O prognóstico de vocês estava corretíssimo: "Está chegando o dia em que todos os cidadãos dignos se rebelarão contra 'tudo isso que está aí!' Basta!"
domingo, junho 06, 2004
o Gordo , para os íntimos
Os laboratórios deram veneno ao PT
Elio Gaspari
06 de junho de 2004
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
Ocomissário-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, informou que ao cabo de uma articulação conduzida pelo lobista Laerte de Arruda Correa Jr. (o “Gordo”, para os íntimos), os laboratórios farmacêuticos doaram cerca de R$ 1,5 milhão à campanha de Lula. Isso é o que o companheiro diz e não há por que duvidar dele. A lista dos doadores entregue pelo PT ao Tribunal Superior Eleitoral soma R$ 1 milhão em mimos dos laboratórios. Também não há porque deixar de acreditar nela. Está assinada por Delúbio. As duas cifras não batem e o companheiro anunciou que vai explicar a discrepância.
Acreditando-se no que diz o comissário, os laboratórios farmacêuticos pingaram o equivalente a mais de 20% do custo da campanha de Lula na televisão. Segundo a prestação de contas do PT, todo o serviço de vídeo de Duda Mendonça saiu por R$ 7 milhões.
Fica por conta do comissário Delúbio e do ministro Humberto Costa especular os motivos pelos quais Laerte/Gordo e os laboratórios depositaram suas doações à porta do comitê de Lula.
Começando pelo lobista. Ele foi mandado para a cadeia por estar metido nas fraudes de licitações feitas no ministério da Saúde. Foi solto. A Justiça mandou prendê-lo de novo quando sua sócia tentou sacar R$ 3,5 milhões de uma conta bancária. É o tesoureiro Delúbio quem conta: “Eu o conheci na campanha. Ele ia lá com vários empresários da área. Depois da eleição, veio várias vezes aqui no PT. Disse que queria ficar perto do PT, que queria filiar pessoas ao partido.”
Eremildo é um idiota e há dias se pergunta se há uma semelhança entre Sérgio Buarque de Holanda e o “Gordo”. Ambos decidiram “ficar perto” do PT. O idiota teme que haja uma enorme di$tância entre as duas proximidades. Tem muito petista que não sabe quem são seus atuais companheiros no esforço de recrutamento de novos militantes.
Pode-se admitir que cifras não batam e que os prontuários dos intermediários deixem a desejar. Sobram os doadores, os laboratórios.
Eles nunca revelaram os motivos e as políticas públicas que os estimularam a dar dinheiro à campanha de Lula. Eles financiaram o PT para não terem José Serra no caminho. O candidato tucano encrencara com eles ao tempo em que foi ministro da Saúde. Uma briga na qual Serra defendeu publicamente o interesse da patuléia.
Um dos doadores de Lula , o laboratório Schering — não confundir com Schering Plough — é figurinha carimbada. É aquele do qual em 1998 saíram alguns milhares de cartelas do anticoncepcional Microvlar com farinha dentro. Quando souberam da anomalia, seus diretores calaram. Disso resultou que centenas de consumidoras engravidaram. O Schering deu R$ 100 mil à campanha de Lula. É mais do que pagará a cada uma das vítimas de sua farinha, com as quais combate valentemente na Justiça.
Serra também brigou com o laboratório Novartis, multinacional suíça. Acusou-o de marretar o preço do remédio Glivec, usado contra um tipo de leucemia. Conseguiu baixar a conta de US$ 2.400 por paciente/mês para US$ 1.620. Gente boa essa. Baixaram em um terço o preço da ciclosporina (Sandimmun) logo que o o governo liberou a produção do genérico. Serra atacou o Novartis porque ele aumentou o preço do Cataflan em 35% em apenas dezoito meses. Quando se encontrou com o presidente mundial da empresa, disse-lhe, em boas palavras, que sua filial andava metida em maracutaias no Brasil. O Novartis deu outros R$ 100 mil à campanha de Lula.
O Gordo facilitou para o comissário Delúbio um suplemento alimentar para bombar a campanha do PT. Era veneno para Lula.
Elio Gaspari
06 de junho de 2004
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp
Ocomissário-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, informou que ao cabo de uma articulação conduzida pelo lobista Laerte de Arruda Correa Jr. (o “Gordo”, para os íntimos), os laboratórios farmacêuticos doaram cerca de R$ 1,5 milhão à campanha de Lula. Isso é o que o companheiro diz e não há por que duvidar dele. A lista dos doadores entregue pelo PT ao Tribunal Superior Eleitoral soma R$ 1 milhão em mimos dos laboratórios. Também não há porque deixar de acreditar nela. Está assinada por Delúbio. As duas cifras não batem e o companheiro anunciou que vai explicar a discrepância.
Acreditando-se no que diz o comissário, os laboratórios farmacêuticos pingaram o equivalente a mais de 20% do custo da campanha de Lula na televisão. Segundo a prestação de contas do PT, todo o serviço de vídeo de Duda Mendonça saiu por R$ 7 milhões.
Fica por conta do comissário Delúbio e do ministro Humberto Costa especular os motivos pelos quais Laerte/Gordo e os laboratórios depositaram suas doações à porta do comitê de Lula.
Começando pelo lobista. Ele foi mandado para a cadeia por estar metido nas fraudes de licitações feitas no ministério da Saúde. Foi solto. A Justiça mandou prendê-lo de novo quando sua sócia tentou sacar R$ 3,5 milhões de uma conta bancária. É o tesoureiro Delúbio quem conta: “Eu o conheci na campanha. Ele ia lá com vários empresários da área. Depois da eleição, veio várias vezes aqui no PT. Disse que queria ficar perto do PT, que queria filiar pessoas ao partido.”
Eremildo é um idiota e há dias se pergunta se há uma semelhança entre Sérgio Buarque de Holanda e o “Gordo”. Ambos decidiram “ficar perto” do PT. O idiota teme que haja uma enorme di$tância entre as duas proximidades. Tem muito petista que não sabe quem são seus atuais companheiros no esforço de recrutamento de novos militantes.
Pode-se admitir que cifras não batam e que os prontuários dos intermediários deixem a desejar. Sobram os doadores, os laboratórios.
Eles nunca revelaram os motivos e as políticas públicas que os estimularam a dar dinheiro à campanha de Lula. Eles financiaram o PT para não terem José Serra no caminho. O candidato tucano encrencara com eles ao tempo em que foi ministro da Saúde. Uma briga na qual Serra defendeu publicamente o interesse da patuléia.
Um dos doadores de Lula , o laboratório Schering — não confundir com Schering Plough — é figurinha carimbada. É aquele do qual em 1998 saíram alguns milhares de cartelas do anticoncepcional Microvlar com farinha dentro. Quando souberam da anomalia, seus diretores calaram. Disso resultou que centenas de consumidoras engravidaram. O Schering deu R$ 100 mil à campanha de Lula. É mais do que pagará a cada uma das vítimas de sua farinha, com as quais combate valentemente na Justiça.
Serra também brigou com o laboratório Novartis, multinacional suíça. Acusou-o de marretar o preço do remédio Glivec, usado contra um tipo de leucemia. Conseguiu baixar a conta de US$ 2.400 por paciente/mês para US$ 1.620. Gente boa essa. Baixaram em um terço o preço da ciclosporina (Sandimmun) logo que o o governo liberou a produção do genérico. Serra atacou o Novartis porque ele aumentou o preço do Cataflan em 35% em apenas dezoito meses. Quando se encontrou com o presidente mundial da empresa, disse-lhe, em boas palavras, que sua filial andava metida em maracutaias no Brasil. O Novartis deu outros R$ 100 mil à campanha de Lula.
O Gordo facilitou para o comissário Delúbio um suplemento alimentar para bombar a campanha do PT. Era veneno para Lula.
REFLEXÕES REALISTAS DE UM PLANEJADOR SOCIAL BENEVOLENTE
Negócios da China
Fernando Henrique Cardoso
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/fhc.asp
05/05/2004
Os presidentes costumam ser criticados pelas viagens que fazem, especialmente as internacionais. Nem sempre, entretanto, a crítica é justa. Há viagens e viagens, umas mais burocráticas, outras mais políticas e algumas de interesse para a economia do país. No mundo moderno os presidentes precisam viajar cada vez mais e as oposições, quando não têm o sentido da realidade, se aproveitam dessas ocasiões para zombar dos governantes, como se eles estivessem “gozando a vida” ao invés de trabalhar. É do jogo político.
A mais recente viagem do presidente Lula à China teve importância política e econômica. Os deslizes de comunicação sobre possível exportação de urânio enriquecido (processado em fábrica que, por sinal, começou a funcionar durante a gestão profícua do embaixador Sardenberg no Ministério de Ciência e Tecnologia e que não causou pasmo a ninguém) não chegaram a perturbar o sentido positivo da visita.
A China é um parceiro de monta para o Brasil. O reconhecimento de sua importância vem de longa data. No fim do período militar, o general Figueiredo visitou a China. Outra coisa não fez o presidente Sarney, conforme relembrou em artigo recente na “Folha”. No governo do presidente Itamar, fiz pronunciamentos, como chanceler, favoráveis à aproximação com os países do Oriente, entre os quais a China. Jiang Zemin, que depois se tornou presidente, esteve no Brasil em 1993. Já na Presidência encontrei Zhu Rongji, reformador da economia chinesa. Em dezembro de 1995 fui à China, em visita de Estado, para agradecer as múltiplas viagens dos dignitários chineses ao Brasil (dos sete principais líderes chineses de então, cinco haviam estado no Brasil) e para levar adiante tratados de colaboração científica assinados pelos governos anteriores (a fabricação e o lançamento conjunto de satélites), bem como para manter conversas políticas com o presidente Zemin. Este, por sua vez, esteve no Brasil em 2001, retribuindo a visita que lhe fiz.
Portanto, também nessa matéria há inequívoco legado e faz bem o governo atual em aproveitá-lo, assim como é conveniente que continue a usufruir da herança no que se refere à responsabilidade fiscal e ao câmbio flutuante — que tanto ajuda as exportações — ainda que alguns continuem a falar de “herança maldita”. Os avanços realizados no comércio com a China são exemplo disso. Os esforços dos ministros Sérgio Amaral, Pratini de Morais e Ronaldo Sardenberg, bem como o de seus antecessores, vêm tendo continuidade na ação dos atuais ministros das pastas correspondentes. Os resultados estão à vista de todos: a China se tornou o segundo cliente de nossos produtos de exportação, superada apenas pelos Estados Unidos e com ela mantemos bons programas de colaboração científica.
Uma das características mais marcantes de nossa política externa, como reiterado pelo ex-chanceler Celso Lafer no último artigo que escreveu nesta coluna, é a de ser “uma obra aberta, que se valendo do histórico dos acervos diplomáticos do Brasil, combina mudança e continuidade em função de distintas conjunturas internas e externas”.
Depois da queda do muro de Berlim e da precipitada abertura da economia realizada no início do governo Collor, os requisitos da conjuntura externa e interna (esta última marcada pela democratização) passaram a exigir uma participação brasileira muito ativa tanto nos fóruns multilaterais como no âmbito bilateral. Nossa política externa há muito não se guia por alinhamentos automáticos. E se isso vale para os compromissos políticos, vale com mais força ainda para os comerciais.
Os exemplos de uma postura altiva e conseqüente com nossos interesses são abundantes. As negociações comerciais em Doha, que levaram à possibilidade de corte nos subsídios agrícolas e ao reconhecimento do direito de quebra de patentes para a fabricação de remédios antiAids (que foram conduzidas pelo chanceler Celso Lafer e pelo ministro José Serra, com a contribuição do então embaixador e ora chanceler Celso Amorim), demonstram isso. Assim como também o demonstram os esforços iniciados em meu governo para um acordo entre o Mercosul e a União Européia ou o estreitamento das relações entre os países da América do Sul, tendo em vista a necessidade da integração energética e viária entre eles.
Tudo isso, muito acertadamente, vem tendo continuidade no governo atual, assim como tiveram continuidade nossas reclamações junto à OMC, a última das quais, a do subsídio americano ao algodão, pela qual tanto lutou o então secretário de política econômica do Ministério da Agricultura, Pedro Camargo, teve êxito marcante.
Nada disso, entretanto, deve obscurecer o fato principal: nos dias de hoje é uma ilusão pensar que acordos comerciais ou tecnológicos com países como a China, a Rússia ou qualquer dos atores mais significativos da cena atual signifique o embrião de uma “aliança anti-americana”. Não só porque nenhum deles deseja enrijecer o quadro internacional em uma nova polarização ideológica, como porque também nós precisamos ter consciência de que os acordos, negociações e pressões internacionais que fazemos, não devem ser para nos isolar nem para criar um “terceiro ou segundo-mundismo” nostálgico.
Se algo faz a diferença entre o Brasil e a maioria dos países ditos emergentes, principalmente os do nosso continente, é que nós conseguimos desenvolver uma produção industrial e um setor de serviços, bem como de processamento agrícola, com razoável avanço tecnológico. Por isso precisamos abrir mercados em áreas que absorvam nossos bens de exportação de padrão global. A China é boa companheira e absorverá crescentemente nossas commodities. Resistirá, contudo, a comprar nossos produtos industrializados. E, quando o fizer, procurará, como no caso da Embraer, que eles sejam produzidos lá. Da mesma maneira a Europa se tem mostrado tímida nas compras de equipamentos e bens industriais. Conseqüentemente, os avanços em nossas relações com a China, com a União Européia ou com quem mais seja, que, reitero, são positivos, não devem ser vistos como substitutos para bons acordos com os países da América Latina nem, muito menos, com os Estados Unidos. Sempre, naturalmente, que eles atendam a nossos interesses e não impliquem exclusividade ou subordinação.
Fernando Henrique Cardoso
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/fhc.asp
05/05/2004
Os presidentes costumam ser criticados pelas viagens que fazem, especialmente as internacionais. Nem sempre, entretanto, a crítica é justa. Há viagens e viagens, umas mais burocráticas, outras mais políticas e algumas de interesse para a economia do país. No mundo moderno os presidentes precisam viajar cada vez mais e as oposições, quando não têm o sentido da realidade, se aproveitam dessas ocasiões para zombar dos governantes, como se eles estivessem “gozando a vida” ao invés de trabalhar. É do jogo político.
A mais recente viagem do presidente Lula à China teve importância política e econômica. Os deslizes de comunicação sobre possível exportação de urânio enriquecido (processado em fábrica que, por sinal, começou a funcionar durante a gestão profícua do embaixador Sardenberg no Ministério de Ciência e Tecnologia e que não causou pasmo a ninguém) não chegaram a perturbar o sentido positivo da visita.
A China é um parceiro de monta para o Brasil. O reconhecimento de sua importância vem de longa data. No fim do período militar, o general Figueiredo visitou a China. Outra coisa não fez o presidente Sarney, conforme relembrou em artigo recente na “Folha”. No governo do presidente Itamar, fiz pronunciamentos, como chanceler, favoráveis à aproximação com os países do Oriente, entre os quais a China. Jiang Zemin, que depois se tornou presidente, esteve no Brasil em 1993. Já na Presidência encontrei Zhu Rongji, reformador da economia chinesa. Em dezembro de 1995 fui à China, em visita de Estado, para agradecer as múltiplas viagens dos dignitários chineses ao Brasil (dos sete principais líderes chineses de então, cinco haviam estado no Brasil) e para levar adiante tratados de colaboração científica assinados pelos governos anteriores (a fabricação e o lançamento conjunto de satélites), bem como para manter conversas políticas com o presidente Zemin. Este, por sua vez, esteve no Brasil em 2001, retribuindo a visita que lhe fiz.
Portanto, também nessa matéria há inequívoco legado e faz bem o governo atual em aproveitá-lo, assim como é conveniente que continue a usufruir da herança no que se refere à responsabilidade fiscal e ao câmbio flutuante — que tanto ajuda as exportações — ainda que alguns continuem a falar de “herança maldita”. Os avanços realizados no comércio com a China são exemplo disso. Os esforços dos ministros Sérgio Amaral, Pratini de Morais e Ronaldo Sardenberg, bem como o de seus antecessores, vêm tendo continuidade na ação dos atuais ministros das pastas correspondentes. Os resultados estão à vista de todos: a China se tornou o segundo cliente de nossos produtos de exportação, superada apenas pelos Estados Unidos e com ela mantemos bons programas de colaboração científica.
Uma das características mais marcantes de nossa política externa, como reiterado pelo ex-chanceler Celso Lafer no último artigo que escreveu nesta coluna, é a de ser “uma obra aberta, que se valendo do histórico dos acervos diplomáticos do Brasil, combina mudança e continuidade em função de distintas conjunturas internas e externas”.
Depois da queda do muro de Berlim e da precipitada abertura da economia realizada no início do governo Collor, os requisitos da conjuntura externa e interna (esta última marcada pela democratização) passaram a exigir uma participação brasileira muito ativa tanto nos fóruns multilaterais como no âmbito bilateral. Nossa política externa há muito não se guia por alinhamentos automáticos. E se isso vale para os compromissos políticos, vale com mais força ainda para os comerciais.
Os exemplos de uma postura altiva e conseqüente com nossos interesses são abundantes. As negociações comerciais em Doha, que levaram à possibilidade de corte nos subsídios agrícolas e ao reconhecimento do direito de quebra de patentes para a fabricação de remédios antiAids (que foram conduzidas pelo chanceler Celso Lafer e pelo ministro José Serra, com a contribuição do então embaixador e ora chanceler Celso Amorim), demonstram isso. Assim como também o demonstram os esforços iniciados em meu governo para um acordo entre o Mercosul e a União Européia ou o estreitamento das relações entre os países da América do Sul, tendo em vista a necessidade da integração energética e viária entre eles.
Tudo isso, muito acertadamente, vem tendo continuidade no governo atual, assim como tiveram continuidade nossas reclamações junto à OMC, a última das quais, a do subsídio americano ao algodão, pela qual tanto lutou o então secretário de política econômica do Ministério da Agricultura, Pedro Camargo, teve êxito marcante.
Nada disso, entretanto, deve obscurecer o fato principal: nos dias de hoje é uma ilusão pensar que acordos comerciais ou tecnológicos com países como a China, a Rússia ou qualquer dos atores mais significativos da cena atual signifique o embrião de uma “aliança anti-americana”. Não só porque nenhum deles deseja enrijecer o quadro internacional em uma nova polarização ideológica, como porque também nós precisamos ter consciência de que os acordos, negociações e pressões internacionais que fazemos, não devem ser para nos isolar nem para criar um “terceiro ou segundo-mundismo” nostálgico.
Se algo faz a diferença entre o Brasil e a maioria dos países ditos emergentes, principalmente os do nosso continente, é que nós conseguimos desenvolver uma produção industrial e um setor de serviços, bem como de processamento agrícola, com razoável avanço tecnológico. Por isso precisamos abrir mercados em áreas que absorvam nossos bens de exportação de padrão global. A China é boa companheira e absorverá crescentemente nossas commodities. Resistirá, contudo, a comprar nossos produtos industrializados. E, quando o fizer, procurará, como no caso da Embraer, que eles sejam produzidos lá. Da mesma maneira a Europa se tem mostrado tímida nas compras de equipamentos e bens industriais. Conseqüentemente, os avanços em nossas relações com a China, com a União Européia ou com quem mais seja, que, reitero, são positivos, não devem ser vistos como substitutos para bons acordos com os países da América Latina nem, muito menos, com os Estados Unidos. Sempre, naturalmente, que eles atendam a nossos interesses e não impliquem exclusividade ou subordinação.
quinta-feira, junho 03, 2004
COMPARADO COM TESOUREIRO DE LULA, PC FARIAS ERA PRINCIPIANTE
Juiz compara lobista a PC Farias e decreta prisão
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/142892974.asp
03/06/2004
BRASÍLIA. O depoimento do lobista Francisco Danúbio Honorato, que apontou a existência de um braço político na Máfia do Sangue destinado a recolher doações de laboratórios para campanhas eleitorais, foi um dos principais motivos que levaram a Justiça a decretar na noite de anteontem a prisão preventiva do lobista e empresário Laerte de Arruda Corrêa Júnior.
Laerte havia sido libertado no sábado, mas ontem o juiz Cloves Siqueira mudou de idéia e chegou a classificar a denúncia de Honorato como “elemento novo e grave”, comparando Laerte a Paulo César Farias, o tesoureiro de campanha responsável pelo esquema de corrupção que levou ao impeachment o ex-presidente Fernando Collor.
“Grosso modo, a atuação do acusado se assemelha à do falecido Paulo César Farias, que supostamente em nome do governo Fernando Collor extorquia empresas para a formação de uma base parlamentar”, escreveu o juiz.
Na decisão, o juiz classifica Laerte como um dos chefes da máfia montada no Ministério da Saúde, ao lado dos empresários Jaisler Alvarenga e Lourenço Rommel, que também tiveram a prisão preventiva decretada.
O juiz ressalta que, a partir do depoimento de Honorato, o papel que Laerte exerceria no esquema ganhou relevância no processo judicial. O texto do magistrado revela parte do teor das declarações de Honorato. Diz, por exemplo, que Laerte teria feito exigências a integrantes da máfia para que eles pudessem continuar ganhando licitações no atual governo. “O elemento novo e grave surgiu com o depoimento do também investigado Francisco Danúbio Honorato, relatando ter tomado conhecimento de que Laerte começou a fazer exigência do grupo para a realização de novos negócios com a administração pública federal, dizendo-se influente na administração do país”, diz.
Decisão cita campanha presidencial de 2002
O magistrado relata que conversas gravadas pela Polícia Federal indicam que Laerte apareceu no esquema no final de 2003, “com o objetivo de fazer o relacionamento do grupo com o governo”. O texto da decisão cita a parte do depoimento em que Honorato disse que na corrida presidencial de 2002 Laerte pediu doações para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
“O investigado estava solicitando dinheiro das empresas para as campanhas de partido político, citando inclusive o nome do suposto tesoureiro de um partido, sr. Delúbio Soares”, observou o magistrado. Anteontem, Delúbio confirmou que o lobista intermediou doações ao PT.
O juiz considera ainda a existência de gravações que demonstram que integrantes mais antigos da máfia estavam temerosos com a possibilidade de Laerte passar a comandar o esquema de corrupção no ministério.
Laerte Arruda chegou a ficar preso por dez dias, mas foi liberado na madrugada de sábado junto com outros dez acusados porque o mesmo juiz havia rejeitado um pedido dos investigadores para transformar em preventiva a prisão temporária do grupo. Com base em novo pedido feito anteontem, o juiz mudou de opinião, exatamente com base nos novos elementos da investigação. Até o início da noite de ontem, Laerte não havia sido recapturado pela PF.
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/142892974.asp
03/06/2004
BRASÍLIA. O depoimento do lobista Francisco Danúbio Honorato, que apontou a existência de um braço político na Máfia do Sangue destinado a recolher doações de laboratórios para campanhas eleitorais, foi um dos principais motivos que levaram a Justiça a decretar na noite de anteontem a prisão preventiva do lobista e empresário Laerte de Arruda Corrêa Júnior.
Laerte havia sido libertado no sábado, mas ontem o juiz Cloves Siqueira mudou de idéia e chegou a classificar a denúncia de Honorato como “elemento novo e grave”, comparando Laerte a Paulo César Farias, o tesoureiro de campanha responsável pelo esquema de corrupção que levou ao impeachment o ex-presidente Fernando Collor.
“Grosso modo, a atuação do acusado se assemelha à do falecido Paulo César Farias, que supostamente em nome do governo Fernando Collor extorquia empresas para a formação de uma base parlamentar”, escreveu o juiz.
Na decisão, o juiz classifica Laerte como um dos chefes da máfia montada no Ministério da Saúde, ao lado dos empresários Jaisler Alvarenga e Lourenço Rommel, que também tiveram a prisão preventiva decretada.
O juiz ressalta que, a partir do depoimento de Honorato, o papel que Laerte exerceria no esquema ganhou relevância no processo judicial. O texto do magistrado revela parte do teor das declarações de Honorato. Diz, por exemplo, que Laerte teria feito exigências a integrantes da máfia para que eles pudessem continuar ganhando licitações no atual governo. “O elemento novo e grave surgiu com o depoimento do também investigado Francisco Danúbio Honorato, relatando ter tomado conhecimento de que Laerte começou a fazer exigência do grupo para a realização de novos negócios com a administração pública federal, dizendo-se influente na administração do país”, diz.
Decisão cita campanha presidencial de 2002
O magistrado relata que conversas gravadas pela Polícia Federal indicam que Laerte apareceu no esquema no final de 2003, “com o objetivo de fazer o relacionamento do grupo com o governo”. O texto da decisão cita a parte do depoimento em que Honorato disse que na corrida presidencial de 2002 Laerte pediu doações para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
“O investigado estava solicitando dinheiro das empresas para as campanhas de partido político, citando inclusive o nome do suposto tesoureiro de um partido, sr. Delúbio Soares”, observou o magistrado. Anteontem, Delúbio confirmou que o lobista intermediou doações ao PT.
O juiz considera ainda a existência de gravações que demonstram que integrantes mais antigos da máfia estavam temerosos com a possibilidade de Laerte passar a comandar o esquema de corrupção no ministério.
Laerte Arruda chegou a ficar preso por dez dias, mas foi liberado na madrugada de sábado junto com outros dez acusados porque o mesmo juiz havia rejeitado um pedido dos investigadores para transformar em preventiva a prisão temporária do grupo. Com base em novo pedido feito anteontem, o juiz mudou de opinião, exatamente com base nos novos elementos da investigação. Até o início da noite de ontem, Laerte não havia sido recapturado pela PF.
quarta-feira, junho 02, 2004
Chamem o Van Helsing
ou qualquer outro com credenciais semelhantes.
RECEITA PARA CRIAR A MÁFIA
Fernão Lara Mesquita
jornalista
O ESTADO DE S.PAULO
Quarta-feira, 2 de junho de 2004
Com que, então, não é mais apenas simbólico: descobrimos que "eles" - todos "eles", especialmente os que mais clamam por ética -, de fato, sustentam campanhas eleitorais (e o mais que explica a pobreza deste país naturalmente tão rico) até com o nosso próprio sangue!
A coisa, aqui, começou torta desde o início.
Quando, na virada de 1807 para 1808, com Napoleão entrando pela periferia de Lisboa, dom João VI fugiu de Portugal levando entre 12 mil e 15 mil pessoas de sua Corte, o Rio de Janeiro era uma quase aldeia "de 60 mil habitantes e com não mais que 46 ruas". O problema passou a ser, então, montar a estrutura que fosse necessária para abrigar todos esses amigos do rei.
Começaram autorizando os que chegavam a tomar para si as casas dos que já moravam aqui. E seguiram ajustando o tamanho do imposto ao tamanho da conta que a festa gerava.
Desde então as coisas pioraram bastante.
Sobrevivendo ao Império, às revoluções contra os impostos, à República e às ditaduras, os privilégios dos nossos "servidores" foram se consolidando numa coleção cada vez mais minuciosa de "direitos" e num rol cada vez mais rarefeito de deveres, até o estado de "perfeição" a que chegamos hoje, quando, ao conseguir pôr um pé dentro do "Sistema", o funcionário sabe que acabou de "adquirir" um "direito" irrevogável para sempre. Se chegar disposto ao trabalho, logo sentirá a pressão de seus colegas contra demonstrações de ânimo excessivo que possam criar parâmetros incômodos.
Aprenderá, na seqüência, que o desenvolvimento de sua carreira nada tem que ver com a eficiência ou com a probidade. Dependerá, exclusivamente, do bom estado das relações - do grau de cumplicidade é a palavra adequada para se usar em boa parte dos casos - que conseguir estabelecer com os chefes, que serão ou figuras instaladas há décadas dentro do "Sistema", que se destacaram no passado por sua capacidade de "operá-lo" segundo essa regra, ou tipos recém-nomeados por políticos que costumam colocar gente "de sua confiança pessoal" nos "postos estratégicos", quais sejam, aqueles onde se tem acesso a verbas ou poder de nomeação.
Em outras palavras, trata-se de um sistema de seleção negativa, pelo qual só o pior tende a passar.
Se alguém for pego em flagrante delito de corrupção, será, no máximo, "afastado". Esse afastamento, é claro, é uma condição "de jure", mas não "de fato". O direito administrativo é ainda muito mais zeloso que o direito comum brasileiro nos infindáveis recursos que oferece a um pobre acusado.
Até a instituição da "via rápida" pelo governador Geraldo Alckmin, que é a única exceção (no resto do País e para o resto do funcionalismo, mesmo em São Paulo, continua sendo assim), um funcionário, digamos, um soldado da PM que fosse flagrado recebendo dinheiro de um traficante não poderia ser expulso da corporação pelo seu superior imediato. O próprio comandante da PM não poderia fazê-lo. Nem mesmo o secretário de Segurança Pública. Só o governador em pessoa pode assinar o ato de exoneração do criminoso, mesmo flagrado no crime. Mas isso só depois que corresse o processo administrativo nas quatro instâncias anteriores, naquela velocidade que a gente conhece e tocado por gente consciente de que a "jurisprudência" que vier a se estabelecer nesse tipo de processo poderá, um dia, se voltar contra ela própria. Até lá, o acusado permanece fazendo jus à sua posição e a salários, ainda que "afastado", o que não implica que deixe de conviver com os demais funcionários honestos e até com os recém-chegados ao "Sistema". Só se conseguir ser condenado nessa instância "dos amigos" é que o funcionário corrupto pode ser entregue à Justiça comum, para que todo esse ramerrame recomece, de instância em instância...
O sistema de privilégios se consolida pela ação da nata dos "servidores públicos" que são os legisladores e os membros do Judiciário, que cuidam de estabelecê-los em lei e de criar mecanismos que impeçam recuos em suas "conquistas", mesmo quando, por qualquer movimento de pressão da opinião publica, os legisladores forem obrigados a mudar a lei. O instituto dos "direitos adquiridos" basta, sozinho, para garantir isso, sendo suficiente para anular qualquer reforma, mesmo se aprovada por unanimidade no Congresso.
Chamar o Van Helsing não é a única coisa a fazer para nos livrar desse tipo de "vampiro".
Tocqueville, no seu livro célebre sobre a democracia na América, lembrava que "a sociedade só tem à sua disposição dois meios para obrigar os servidores públicos a obedecer às leis: ela pode deixar a nomeação dos funcionários aos políticos e confiar a um deles o poder discricionário de dirigir todos os demais e destituí-los em caso de desobediência; ou pode eleger os funcionários encarregados das principais áreas da administração publica (educação, segurança, saúde), definir na lei, de forma minuciosa, as suas atribuições de modo a que tenham o máximo de autonomia e sofram o mínimo de interferência política dentro da sua área de atuação, encarregar os tribunais de infligir penas a quem abusar de sua posição e os eleitores de cassar aqueles que, mesmo dentro da lei, cumprirem suas tarefas sem o necessário empenho".
Essa providência, ao mesmo tempo, consolida a estabilidade do bom funcionário e acaba com a estabilidade do relapso e do corrupto. É isso que explica aonde os Estados Unidos chegaram e onde nós permanecemos desde que entramos por veredas diferentes nessa encruzilhada. Nós - juntamente com a Europa - criamos o sistema baseado na estabilidade automática e vitalícia no cargo público uma vez conquistado, induzindo a cumplicidade de todos com o chefe e, assim, amarrando todas as lealdades a uma só figura - a do primeiro na cadeia das nomeações. Funcionários fortes, funções fracas. Eles elegem diretamente os funcionários responsáveis pelos serviços mais importantes e lhes dão independência em relação aos políticos e plenos poderes para o exercício dessas funções. Mas nenhuma garantia de estabilidade. Seu mandato pode ser cassado a qualquer momento pelos eleitores, a quem permanecem subordinados. Funções fortes, funcionários fracos.
Nós criamos essa "administração pública" que se desligou do País e passou a viver do País e para si mesma. Eles criaram a mais sólida democracia e a mais forte economia do mundo.
RECEITA PARA CRIAR A MÁFIA
Fernão Lara Mesquita
jornalista
O ESTADO DE S.PAULO
Quarta-feira, 2 de junho de 2004
Com que, então, não é mais apenas simbólico: descobrimos que "eles" - todos "eles", especialmente os que mais clamam por ética -, de fato, sustentam campanhas eleitorais (e o mais que explica a pobreza deste país naturalmente tão rico) até com o nosso próprio sangue!
A coisa, aqui, começou torta desde o início.
Quando, na virada de 1807 para 1808, com Napoleão entrando pela periferia de Lisboa, dom João VI fugiu de Portugal levando entre 12 mil e 15 mil pessoas de sua Corte, o Rio de Janeiro era uma quase aldeia "de 60 mil habitantes e com não mais que 46 ruas". O problema passou a ser, então, montar a estrutura que fosse necessária para abrigar todos esses amigos do rei.
Começaram autorizando os que chegavam a tomar para si as casas dos que já moravam aqui. E seguiram ajustando o tamanho do imposto ao tamanho da conta que a festa gerava.
Desde então as coisas pioraram bastante.
Sobrevivendo ao Império, às revoluções contra os impostos, à República e às ditaduras, os privilégios dos nossos "servidores" foram se consolidando numa coleção cada vez mais minuciosa de "direitos" e num rol cada vez mais rarefeito de deveres, até o estado de "perfeição" a que chegamos hoje, quando, ao conseguir pôr um pé dentro do "Sistema", o funcionário sabe que acabou de "adquirir" um "direito" irrevogável para sempre. Se chegar disposto ao trabalho, logo sentirá a pressão de seus colegas contra demonstrações de ânimo excessivo que possam criar parâmetros incômodos.
Aprenderá, na seqüência, que o desenvolvimento de sua carreira nada tem que ver com a eficiência ou com a probidade. Dependerá, exclusivamente, do bom estado das relações - do grau de cumplicidade é a palavra adequada para se usar em boa parte dos casos - que conseguir estabelecer com os chefes, que serão ou figuras instaladas há décadas dentro do "Sistema", que se destacaram no passado por sua capacidade de "operá-lo" segundo essa regra, ou tipos recém-nomeados por políticos que costumam colocar gente "de sua confiança pessoal" nos "postos estratégicos", quais sejam, aqueles onde se tem acesso a verbas ou poder de nomeação.
Em outras palavras, trata-se de um sistema de seleção negativa, pelo qual só o pior tende a passar.
Se alguém for pego em flagrante delito de corrupção, será, no máximo, "afastado". Esse afastamento, é claro, é uma condição "de jure", mas não "de fato". O direito administrativo é ainda muito mais zeloso que o direito comum brasileiro nos infindáveis recursos que oferece a um pobre acusado.
Até a instituição da "via rápida" pelo governador Geraldo Alckmin, que é a única exceção (no resto do País e para o resto do funcionalismo, mesmo em São Paulo, continua sendo assim), um funcionário, digamos, um soldado da PM que fosse flagrado recebendo dinheiro de um traficante não poderia ser expulso da corporação pelo seu superior imediato. O próprio comandante da PM não poderia fazê-lo. Nem mesmo o secretário de Segurança Pública. Só o governador em pessoa pode assinar o ato de exoneração do criminoso, mesmo flagrado no crime. Mas isso só depois que corresse o processo administrativo nas quatro instâncias anteriores, naquela velocidade que a gente conhece e tocado por gente consciente de que a "jurisprudência" que vier a se estabelecer nesse tipo de processo poderá, um dia, se voltar contra ela própria. Até lá, o acusado permanece fazendo jus à sua posição e a salários, ainda que "afastado", o que não implica que deixe de conviver com os demais funcionários honestos e até com os recém-chegados ao "Sistema". Só se conseguir ser condenado nessa instância "dos amigos" é que o funcionário corrupto pode ser entregue à Justiça comum, para que todo esse ramerrame recomece, de instância em instância...
O sistema de privilégios se consolida pela ação da nata dos "servidores públicos" que são os legisladores e os membros do Judiciário, que cuidam de estabelecê-los em lei e de criar mecanismos que impeçam recuos em suas "conquistas", mesmo quando, por qualquer movimento de pressão da opinião publica, os legisladores forem obrigados a mudar a lei. O instituto dos "direitos adquiridos" basta, sozinho, para garantir isso, sendo suficiente para anular qualquer reforma, mesmo se aprovada por unanimidade no Congresso.
Chamar o Van Helsing não é a única coisa a fazer para nos livrar desse tipo de "vampiro".
Tocqueville, no seu livro célebre sobre a democracia na América, lembrava que "a sociedade só tem à sua disposição dois meios para obrigar os servidores públicos a obedecer às leis: ela pode deixar a nomeação dos funcionários aos políticos e confiar a um deles o poder discricionário de dirigir todos os demais e destituí-los em caso de desobediência; ou pode eleger os funcionários encarregados das principais áreas da administração publica (educação, segurança, saúde), definir na lei, de forma minuciosa, as suas atribuições de modo a que tenham o máximo de autonomia e sofram o mínimo de interferência política dentro da sua área de atuação, encarregar os tribunais de infligir penas a quem abusar de sua posição e os eleitores de cassar aqueles que, mesmo dentro da lei, cumprirem suas tarefas sem o necessário empenho".
Essa providência, ao mesmo tempo, consolida a estabilidade do bom funcionário e acaba com a estabilidade do relapso e do corrupto. É isso que explica aonde os Estados Unidos chegaram e onde nós permanecemos desde que entramos por veredas diferentes nessa encruzilhada. Nós - juntamente com a Europa - criamos o sistema baseado na estabilidade automática e vitalícia no cargo público uma vez conquistado, induzindo a cumplicidade de todos com o chefe e, assim, amarrando todas as lealdades a uma só figura - a do primeiro na cadeia das nomeações. Funcionários fortes, funções fracas. Eles elegem diretamente os funcionários responsáveis pelos serviços mais importantes e lhes dão independência em relação aos políticos e plenos poderes para o exercício dessas funções. Mas nenhuma garantia de estabilidade. Seu mandato pode ser cassado a qualquer momento pelos eleitores, a quem permanecem subordinados. Funções fortes, funcionários fracos.
Nós criamos essa "administração pública" que se desligou do País e passou a viver do País e para si mesma. Eles criaram a mais sólida democracia e a mais forte economia do mundo.
passamos do post 250
um quarto de milheiro.
terça-feira, junho 01, 2004
O que teria feito o PT-oposição, o então paladino da moralidade?
A ética petista
DENIS LERRER ROSENFIELD
professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado de Estado em Filosofia pela Universidade de Paris, é autor, entre outras obras, de Hegel (Jorge Zahar Editor, Coleção Passo a Passo) e editor da revista Filosofia Política, da mesma editora E-mail: denisrosenfield@terra.com.br
O ESTADO DE S.PAULO
Segunda-feira, 31 de maio de 2004
Questões éticas não perdem sua validade por deixarem de ser manchete.
Elas têm essa estranha virtualidade de transcenderem os seus momentos, pois os valores permanecem, enquanto os seus desvios continuam a ser objeto de condenação. O PT teve, na oposição, uma trajetória exemplar em defesa da moralidade pública, averiguando e criticando toda conduta que fosse uma transgressão das relações necessárias entre ética e política. A cena pública brasileira foi certamente enriquecida por essa postura, pois a democracia se alimenta de valores morais que a sustentam. Causa estranheza, portanto, a postura do governo atual e de seu partido ao encobrirem a transgressão de normas e valores anteriormente defendidos, empobrecendo uma democracia que traz a sua marca.
Nesse sentido, surpreende a sistemática tentativa do PT de negar os fatos mais evidentes envolvendo o assassinato de Celso Daniel. Trata-se de algo extremamente grave, pois ele era prefeito de uma cidade importante, Santo André (SP), e alto quadro do partido. Ademais, há denúncias graves que dizem respeito a todo um esquema de propina voltado para o financiamento irregular do PT. Os familiares de Celso Daniel, pessoas da maior dignidade, acusam diretamente o partido e seus dirigentes por esse esquema ilegal e os responsabilizam indiretamente por sua morte. Qual foi a resposta do partido?
Ouvidos moucos, como se nada mais devesse ser averiguado. Como num filme policial, caracterizado pela abundância de sangue, mortes de pessoas envolvidas no assassinato se foram sucedendo, numa macabra série que não faz parte dos costumes políticos brasileiros. Será que não há nada a investigar?
O Ministério Público paulista, no exercício de suas funções, teve a coragem de não se calar e de não participar dessa lamentável conspiração do silêncio. Continuou o seu trabalho e encontra um outro elo desse episódio num deputado estadual petista. Como respondem os dirigentes partidários?
O trabalho do Ministério Público seria "inconstitucional", como se inconstitucional fosse averiguar a verdade, na obediência dos próprios preceitos da Constituição. Por que não explicaram o fato denunciado?
O risco dessa farsa é que ela tem conseqüências institucionais, na medida em que o governo ameaça, com a "Lei da Mordaça", o Ministério Público por cumprir as suas atribuições. O desrespeito petista à moralidade se traduz por uma redução do espaço democrático, o que é sumamente grave.
Nada disto, porém, é casual. Essa atitude se inscreve em linha de continuidade com outras "omissões" ativas, a mais evidente sendo a do caso Waldomiro Diniz. Esse assunto, da maior importância, foi reduzido a uma comissão interna de sindicância que nem ouviu o ministro titular da pasta.
Waldomiro era íntimo do ministro e circulava com desenvoltura no Congresso.
Parece que ele teria cometido uma "infração" ao tomar para si 1% de seu trabalho de extorsão. Estranhamente, fala-se pouco dos outros 99%! Onde estão? Quem se beneficiou? Segundo a gravação, seria o próprio PT o maior beneficiário desses recursos. O Palácio do Planalto era, inclusive, um lugar de negociação. Tudo ficará assim, com Waldomiro fazendo compras tranqüilamente num supermercado brasiliense?
No seu afã de abafar qualquer averiguação séria, o governo e o seu partido inviabilizaram uma CPI que poderia trazer todos esses fatos à luz. O desrespeito à ética teve aqui também uma outra conseqüência institucional, pois, doravante, se impede a constituição de toda e qualquer CPI futura, pois os partidos de oposição, minoritários, não terão mais o direito de exercer esse direito. Graças a uma manobra regimental, a República perde um dos seus institutos.
O tesoureiro do PT viaja em comitivas presidenciais e se encontra com empresários dentro do próprio Palácio do Planalto. O que faz o tesoureiro de um partido, sem nenhuma função governamental ou estatal, nos corredores do Palácio e em viagens internacionais, como se tudo isso fosse normal? Normal?
De que tipo de normalidade? Imaginem se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tivesse admitido uma situação dessas e o PSDB e o PFL achassem que nada haveria de mais numa tal conduta? O que teria feito o PT-oposição, o então paladino da moralidade? A fúria divina se abateria sobre os transgressores! O PT não enxovalha apenas a sua própria imagem, mas introduz um hábito especialmente daninho para o funcionamento do sistema partidário democrático.
A corrupção do Ministério da Saúde parece ser a exceção à regra, pois, embora haja o envolvimento de um alto funcionário petista, a investigação em curso exibe uma seriedade incomum. Ela foi, no entanto, imediatamente suplantada por um outro escândalo, que concerne uma ONG petista, presidida por um íntimo amigo do próprio presidente da República. A questão é se a sujeira será varrida ou não para debaixo do tapete. Aliás, em matéria de tapetes, a ONG Ágora, em reportagem da revista Veja, mostrou que não tem nenhuma relação de parentesco com a praça pública ateniense, lugar de discussão e de práticas democráticas diretas.
O comércio de tapetes e outros produtos era um símbolo do que se denominava "mercado persa", caracterizado por um sistema de trocas em que tinham lugar relações tanto lícitas quanto escusas, "negócios" que muitas vezes não podiam aparecer à luz pública.
Será esse o nosso destino?
DENIS LERRER ROSENFIELD
professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado de Estado em Filosofia pela Universidade de Paris, é autor, entre outras obras, de Hegel (Jorge Zahar Editor, Coleção Passo a Passo) e editor da revista Filosofia Política, da mesma editora E-mail: denisrosenfield@terra.com.br
O ESTADO DE S.PAULO
Segunda-feira, 31 de maio de 2004
Questões éticas não perdem sua validade por deixarem de ser manchete.
Elas têm essa estranha virtualidade de transcenderem os seus momentos, pois os valores permanecem, enquanto os seus desvios continuam a ser objeto de condenação. O PT teve, na oposição, uma trajetória exemplar em defesa da moralidade pública, averiguando e criticando toda conduta que fosse uma transgressão das relações necessárias entre ética e política. A cena pública brasileira foi certamente enriquecida por essa postura, pois a democracia se alimenta de valores morais que a sustentam. Causa estranheza, portanto, a postura do governo atual e de seu partido ao encobrirem a transgressão de normas e valores anteriormente defendidos, empobrecendo uma democracia que traz a sua marca.
Nesse sentido, surpreende a sistemática tentativa do PT de negar os fatos mais evidentes envolvendo o assassinato de Celso Daniel. Trata-se de algo extremamente grave, pois ele era prefeito de uma cidade importante, Santo André (SP), e alto quadro do partido. Ademais, há denúncias graves que dizem respeito a todo um esquema de propina voltado para o financiamento irregular do PT. Os familiares de Celso Daniel, pessoas da maior dignidade, acusam diretamente o partido e seus dirigentes por esse esquema ilegal e os responsabilizam indiretamente por sua morte. Qual foi a resposta do partido?
Ouvidos moucos, como se nada mais devesse ser averiguado. Como num filme policial, caracterizado pela abundância de sangue, mortes de pessoas envolvidas no assassinato se foram sucedendo, numa macabra série que não faz parte dos costumes políticos brasileiros. Será que não há nada a investigar?
O Ministério Público paulista, no exercício de suas funções, teve a coragem de não se calar e de não participar dessa lamentável conspiração do silêncio. Continuou o seu trabalho e encontra um outro elo desse episódio num deputado estadual petista. Como respondem os dirigentes partidários?
O trabalho do Ministério Público seria "inconstitucional", como se inconstitucional fosse averiguar a verdade, na obediência dos próprios preceitos da Constituição. Por que não explicaram o fato denunciado?
O risco dessa farsa é que ela tem conseqüências institucionais, na medida em que o governo ameaça, com a "Lei da Mordaça", o Ministério Público por cumprir as suas atribuições. O desrespeito petista à moralidade se traduz por uma redução do espaço democrático, o que é sumamente grave.
Nada disto, porém, é casual. Essa atitude se inscreve em linha de continuidade com outras "omissões" ativas, a mais evidente sendo a do caso Waldomiro Diniz. Esse assunto, da maior importância, foi reduzido a uma comissão interna de sindicância que nem ouviu o ministro titular da pasta.
Waldomiro era íntimo do ministro e circulava com desenvoltura no Congresso.
Parece que ele teria cometido uma "infração" ao tomar para si 1% de seu trabalho de extorsão. Estranhamente, fala-se pouco dos outros 99%! Onde estão? Quem se beneficiou? Segundo a gravação, seria o próprio PT o maior beneficiário desses recursos. O Palácio do Planalto era, inclusive, um lugar de negociação. Tudo ficará assim, com Waldomiro fazendo compras tranqüilamente num supermercado brasiliense?
No seu afã de abafar qualquer averiguação séria, o governo e o seu partido inviabilizaram uma CPI que poderia trazer todos esses fatos à luz. O desrespeito à ética teve aqui também uma outra conseqüência institucional, pois, doravante, se impede a constituição de toda e qualquer CPI futura, pois os partidos de oposição, minoritários, não terão mais o direito de exercer esse direito. Graças a uma manobra regimental, a República perde um dos seus institutos.
O tesoureiro do PT viaja em comitivas presidenciais e se encontra com empresários dentro do próprio Palácio do Planalto. O que faz o tesoureiro de um partido, sem nenhuma função governamental ou estatal, nos corredores do Palácio e em viagens internacionais, como se tudo isso fosse normal? Normal?
De que tipo de normalidade? Imaginem se o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tivesse admitido uma situação dessas e o PSDB e o PFL achassem que nada haveria de mais numa tal conduta? O que teria feito o PT-oposição, o então paladino da moralidade? A fúria divina se abateria sobre os transgressores! O PT não enxovalha apenas a sua própria imagem, mas introduz um hábito especialmente daninho para o funcionamento do sistema partidário democrático.
A corrupção do Ministério da Saúde parece ser a exceção à regra, pois, embora haja o envolvimento de um alto funcionário petista, a investigação em curso exibe uma seriedade incomum. Ela foi, no entanto, imediatamente suplantada por um outro escândalo, que concerne uma ONG petista, presidida por um íntimo amigo do próprio presidente da República. A questão é se a sujeira será varrida ou não para debaixo do tapete. Aliás, em matéria de tapetes, a ONG Ágora, em reportagem da revista Veja, mostrou que não tem nenhuma relação de parentesco com a praça pública ateniense, lugar de discussão e de práticas democráticas diretas.
O comércio de tapetes e outros produtos era um símbolo do que se denominava "mercado persa", caracterizado por um sistema de trocas em que tinham lugar relações tanto lícitas quanto escusas, "negócios" que muitas vezes não podiam aparecer à luz pública.
Será esse o nosso destino?