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domingo, maio 30, 2004

No chiqueiro de Jiangsu  

Diogo Mainardi

A China é tão boa assim para o Brasil? Então por que
Lula não toma coragem e assina um acordo de
livre-comércio entre os dois países? Poderíamos vender
ainda mais soja para lá. A soja brasileira é empregada
pelos chineses sobretudo como ração para porcos e
frangos. Em matéria de ração para porcos e frangos,
não tememos a competição de ninguém. O Brasil pode não
ter se transformado no celeiro do mundo, como
esperávamos algumas gerações atrás, mas o que
plantamos dá e sobra para engordar os animais dos
chineses. O Brasil é o rei do chiqueiro de Jiangsu. O
Brasil é o rei do galinheiro de Zhejiang.

Outro dia dois carregamentos de soja brasileira foram
interditados pelas autoridades sanitárias chinesas. O
produto era impróprio para o consumo. Tinha fungicida
demais. O problema, segundo o ministro da Agricultura,
foi causado pela "má-fé, ganância e imediatismo" das
empresas nacionais. Se o Brasil vende comida
contaminada lá fora, com cotação em dólar, imagine o
que comemos aqui dentro, com pagamento em real. A soja
brasileira é tratada com muito fungicida para combater
pragas como a ferrugem asiática. Curiosamente, a
ferrugem asiática é originária da própria China. Deve
ser isso que os economistas chamam de indústria de
transformação: a gente vende matérias-primas como soja
e ferro para os chineses, eles mandam de volta o
produto acabado, a ferrugem asiática.


A China pediu o apoio do Brasil na Organização Mundial
do Comércio. Quer receber o título de economia de
mercado, a fim de evitar a imposição de barreiras
comerciais aos seus produtos. O pleito dos chineses
não tem nada de escandaloso. Afinal, até o Brasil é
considerado uma economia de mercado pela OMC. O
principal acordo assinado na viagem de Lula à China
foi entre a estatal brasileira Petrobras e a estatal
chinesa Sinopec. Outro acordo importante foi entre o
banco estatal brasileiro BNDES e o banco estatal
chinês Citic. A estatal brasileira Ctsul e a estatal
chinesa Cmec também ratificaram um acordo para
construir uma termelétrica a carvão em Cachoeira do
Sul, que venderá energia ao governo do Estado do
Paraná. Como se pode perceber, trata-se de duas
vigorosas e convictas economias de mercado.


O Brasil está analisando a possibilidade de apoiar a
China na OMC, mas a contrapartida deverá ser o apoio
da China às nossas pretensões de obter uma vaga no
Conselho de Segurança da ONU. Caso isso aconteça, o
Brasil sairá perdendo. As resoluções da ONU tendem a
criar atritos, e os atritos prejudicam os negócios.
Lula sabe disso, tanto que, em seus discursos na
China, jamais mencionou as violações dos direitos
humanos no país. A propósito, o Brasil terá problemas
no ano que vem. Faremos parte da Comissão de Direitos
Humanos da ONU. Algumas semanas atrás, México e Peru
condenaram o regime de Cuba, desencadeando a ira de
Fidel Castro. Como se co mportará o Brasil quando tiver
de votar uma resolução desse tipo? Com Fidel ou contra
Fidel? Com a China ou contra a China?

O Brasil sempre atraiu investimentos dos retardatários
do capitalismo. Na década passada, Portugal e Espanha.
Agora, China. Quem sabe um dia o capitalismo também
chegue por aqui, mesmo que depois do último
retardatário.

sexta-feira, maio 28, 2004

midia, eleições  

e o uso de instrumentos de manipulação simbólica

PT governo versus PT oposicao (2) 

PT ameaça punir quem votar contra salário mínimo de R$ 260
http://www.uai.com.br/uai/noticias/agora/politica/110294.html

BRASÍLIA – Os líderes do PT no Congresso ameaçam usar medidas rigorosas para fechar questão na Câmara a favor da Medida Provisória 162/2004, que reajustou o salário mínimo para R$ 260. Esta foi a orientação acertada ontem em um encontro do presidente do partido, José Genoino, e do líder na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), com o chamado “Grupo dos 30”, formado por deputados da tendência Articulação de Esquerda, considerada a mais radical da legenda.

Os descontentes reafirmaram a intenção de votar contra o valor estabelecido pelo governo e entregaram um documento, intitulado “Pela recuperação significativa do salário mínimo”, assinado por 21 deles e pela senadora Serys Slhessarenko (MT) em que pedem uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para discutir alternativas que levem a um reajuste maior. A hipótese, no entanto, foi descartada e, para a próxima quinta-feira, ficou marcada uma nova reunião, quando a cúpula do partido admite impor a orientação de votar a favor da MP.

“Quem negocia com o Lula e o governo é a bancada do governo, fechada. Está havendo um debate, mas a posição do partido está clara. É aprovar os R$ 260 e trabalhar uma proposta para o médio e o longo prazo, de modo a recompor o valor do mínimo. Existem divergências, mas são normais”, explicou Genoino, evitando falar, por enquanto, em punições aos deputados rebeldes. “Ainda não é o momento de discutir isso. Vamos nos concentrar em uma bela votação na Câmara e no Senado, para então pensar no que virá depois”.

Chinaglia foi além e acusou o grupo de deputados de duvidar da capacidade de negociação do presidente. “Cada um tem o direito de fazer a declaração que quiser, mas o governo já deu a palavra final. A partir do momento em que o presidente, com a história que tem e seu compromisso social, afirma que este valor é o máximo possível, fica claro que não há margem política ou orçamentária para ir além”.

Os deputados petistas contrários ao mínimo de R$ 260 não se mostraram preocupados com a hipótese de punição e alertam para a possibilidade de uma derrota governista na votação. Para eles, os líderes estão mostrando intransigência, ao considerar a questão encerrada. “Se o impasse continuar, boa parte dos 90 deputados do partido vai votar contra a MP e nós não queremos que a situação chegue a este ponto. Por isso pedimos prazo para levar nossa reivindicação ao núcleo do governo, já que discutir na bancada não adianta. A base aliada está sendo corroída e vamos tentar até a última hora mostrar nossos argumentos”, justificou o deputado Ivan Valente (SP).

No documento entregue nesta quinta-feira a Genoino e Chinaglia, os descontentes apontam o excesso de arrecadação previsto para o ano como fonte de financiamento para um mínimo de até R$ 300. Para a deputada Maninha (DF), a reunião de quinta-feira é desnecessária, já que nada acrescentará ao debate. “Nós já sabemos a posição da Executiva e não queremos enfrentamento, mas sim ser convencidos de que não há alternativa. Falta articulação e a bancada tem influído pouco nas decisões do governo”, reclamou.

O foco interno de tensão não mudará, a princípio, os planos governistas de submeter a MP a votação na segunda semana de junho. Arlindo Chinaglia não vê a manifestação de parte da bancada petista como uma ameaça à aprovação do texto e não acredita que será necessário esgotar o prazo de tramitação da matéria, que passa a trancar a pauta da Câmara a partir do dia 14. “Vejo possibilidades reais de que a bancada e os demais partidos da base garantam um desfecho positivo”.

O PT confia, em especial, na capacidade de negociação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) entre os colegas de partido. Ontem, Calheiros esteve com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu e expôs sua preocupação com a linha seguida pelos peemedebistas ligados ao presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP), mas se mostrou otimista para chegar a um consenso. “Quero ajudar na construção de uma saída política”, explicou.

Enquanto o PT vive o impasse de não unir sua bancada em torno da proposta governista, os partidos da oposição já traçam sua estratégia para a votação. A executiva nacional do PFL confirmou ontem a posição favorável ao relatório do deputado Rodrigo Maia (PFL-PE), que encaminhou a MP ao plenário, sugerindo um mínimo de R$ 275.

Para o presidente em exercício da legenda, senador José Jorge (PE), a alternativa é a única possível para que a promessa de campanha do presidente de dobrar o mínimo durante seu mandato seja cumprida. “No ritmo que ele pretende, só tendo um governo de uns 50 anos, maior que o de Fidel Castro”, ironizou o senador.

O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), cobrou maior atenção do governo para o que espera a população. “Os aliados devem parar de se preocupar apenas com o palácio, onde está o rei, e olhar a rua. A rua quer um salário até maior que o de R$ 275, que parece ser o razoável”.

PT governo versus PT oposicao (1) 

http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/opiniao/

O salário de 2004 pode ser de R$ 260, pode ser maior ou menor. Mas não é exatamente esta a questão. O presidente do PT, José Genoíno, disse: “Vamos travar uma batalha contra o PSDB e o PFL. O futuro do governo está em jogo". Mas 21 deputados federais da bancada de 90 petistas defendem salário mínimo de R$ 300 e exigem a reafirmação do compromisso do partido com um novo modelo de desenvolvimento, de inclusão social e distribuição de renda. Genoíno aposta que tudo será como o presidente Lula deseja: salário mínimo de R$ 260, a fim de não criar problemas com os 22 milhões de inativos da Previdência Social e 3 mil dos 5.561 municípios e para manter o ajuste fiscal acertado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O quadro é confuso e o deputado Eduardo Cardoso (PT-SP) disse claramente: “Se o mínimo de R$ 260 não for aprovado, acabou o governo”.

terça-feira, maio 25, 2004

Câmara se queixa do "Casseta & Planeta"  

Pressionada por deputados, a Procuradoria da Câmara vai reclamar junto à Rede Globo pelas alusões feitas no programa "Casseta & Planeta" exibido terça-feira passada. Os parlamentares reclamaram especialmente do quadro em que foram chamados de "deputados de programa". Nele, uma prostituta fica indignada quando lhe perguntam se é deputada. O quadro em que são vacinados contra a "febre afurtosa" também provocou constrangimento.

Na noite de quarta-feira, um grupo de deputados esteve na Procuradoria da Câmara para assistir à fita do programa. Segundo o procurador Ricardo Izar (PMDB-SP), duas parlamentares choraram. Izar se encontrará segunda-feira com representantes da emissora para tentar um acordo antes de recorrer à Justiça.

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha ( PT ), também se disse indignado:
- O programa passou dos limites. Eles têm talento suficiente para fazer graça sem desqualificar a instituição, que garante a liberdade para que façam graça. O diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, disse que a rede só se pronuncia sobre ações judiciais depois de serem efetivadas. Os humoristas do Casseta & Planeta não quiseram falar sobre o assunto dizendo não querer "dar importância à concorrência".

NOTA DE ESCLARECIMENTO

"Foi com surpresa que nós, integrantes do Grupo CASSETA & PLANETA, tomamos conhecimento, através da imprensa, da intenção do presidente da Câmara dos Deputados de nos processar por causa de uma piada veiculada em nosso programa de televisão.Em vista disso, gostaríamos de esclarecer alguns pontos:

1. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender deputados ou prostitutas.O objetivo da piada era somente de comparar duas categorias profissionais que aceitam dinheiro para mudar de posição.
2. Não vemos nenhum problema em ceder um espaço para o direito de resposta dos deputados. Pelo contrário, consideramos o quadro muito adequado e condizente com a linha do programa.
3. Caso se decidam pelo direito de resposta, informamos que nossas gravações ocorrem às segundas-feiras, o que obrigará os deputados a "interromper seu descanso."

domingo, maio 23, 2004

Será ?  

Todos sabem que sou ferrenho opositor do governo Lula. Mas se isto for verdade, como bom desportista, não hesitarei em dar os merecidos créditos.

O Ministério da Fazenda acaba de concluir o desenho de um conjunto de reformas institucionais nas áreas de crédito, defesa da concorrência e desoneração da folha de salários, com o propósito de criar ambientes propícios a novos negócios e dar suporte e partida ao crescimento econômico sustentado e de longo prazo. (...)

(...) a desoneração da folha de salários, cujo objetivo é estimular a migração de trabalhadores de baixa renda da informalidade para o trabalho formal e legal (...)

(...) Na área de crédito, os objetivos são reduzir o custo, com a diminuição do spread bancário, ampliar e desburocratizar o acesso de empresas e pessoas físicas ao financiamento bancário. A começar pelo crédito imobiliário, que tem efeito multiplicador do emprego de baixa qualificação, estimula importante segmento da indústria e facilita o acesso à casa própria.

(...) Importante para reduzir o risco de inadimplência e o spread bancário, o processo de execução de dívidas será simplificado, reunindo em um único Código três procedimentos judiciais hoje existentes que alongam indefinidamente a tramitação na Justiça e a definição de sentenças judiciais. (...)

sábado, maio 22, 2004

um tipico exemplo de planejador social benevolente 

meu querido Fernandinho esta trabalhando duro para melhorar o bem estar da humanidade.

Fernando Henrique Inaugura Instituto

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura amanhã o Instituto FHC, seu principal projeto desde que deixou o governo. A cerimônia acontece no Hotel Renaissance, nos Jardins, zona sul de São Paulo, com as presenças dos ex-presidentes americano Bill Clinton e uruguaio Julio Sanguinetti e dos ex-primeiros-ministros António Gutérres (Portugal) e Lionel Jospin (França). Depois de uma entrevista coletiva de Fernando Henrique, marcada para as 9 horas, haverá uma palestra de Clinton, que falará sobre a democracia no mundo atual.

O IFHC está localizado no antigo prédio do Automóvel Clube, no centro de São Paulo, junto ao Viaduto do Chá. A compra de um andar e dois subsolos custou R$ 900 mil e a reforma ficou em R$ 3 milhões. Para manter os custos mensais, estimados em R$ 150 mil por mês, Fernando Henrique dá palestras e recebe doações de grandes empresários. O ex-presidente costuma cobrar US$ 50 mil (R$ 150 mil) por palestra e já fez mais de 20 delas no Brasil e no exterior.

No instituto, estão guardadas 330 mil peças do acervo do ex-presidente. Uma equipe de historiadores cuidará dos documentos para que sejam consultados no futuro. Mais tarde, todo o material e os recursos serão doados à Universidade de São Paulo (USP).

TCU investiga amigo de Lula  

http://www.estaminas.com.br/emonline/estaminas/cadernos/politica/47596.html

Tribunal vai auditar contrato entre ONG presidida por Mauro Farias Dutra e o Ministério do Trabalho e Emprego, com objetivo de capacitar jovens carentes para o mercado.

O Tribunal de Contas da União (TCU) inicia, nos próximos dias, auditoria no contrato de R$ 7,5 milhões celebrado pela ONG Ágora – Associação para Projetos de Combate à Fome – e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com o objetivo de preparar jovens carentes para o mercado de trabalho. (...)

Mauro Dutra é dono da fábrica de computadores NovaData, sediada em Brasília. Na virada de 2001 para 2002, ele hospedou em sua casa, em Búzios, no litoral fluminense, o presidente Lula e sua mulher, dona Marisa. Dutra é muito próximo de políticos do PT do Distrito Federal – entre eles, o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque, que foi um dos fundadores da Ágora em 1993. Até janeiro de 2003, também figurava como vogal do Conselho Administrativo da ONG Swedenberger Nascimento Barbosa. Conhecido como Berge, ele é um dos principais assessores do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Em outubro de 2002, a Justiça do Distrito Federal condenou Mauro Dutra e o bispo de Nova Iguaçu, dom Mauro Morelli, ex-presidente da Ágora, por irregularidades na aplicação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) transferidos pelo governo do Distrito Federal, durante o mandato de governador de Cristovam Buarque.

quinta-feira, maio 20, 2004

DE NOVO : 10 MILHOES DE EMPREGOS A MAIS OU A MENOS?? 

Taxa de desemprego bate recorde histórico em SP

http://www.superavit.com.br/noticias.asp?id=26463
SÃO PAULO - A taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo subiu pelo quarto mês consecutivo e bateu o recorde histórico da pesquisa realizada pela Fundação Seade/Dieese desde 1985. Em abril, a taxa ficou em 20,7% da PEA (população economicamente ativa).

Até então, a taxa recorde era de 20,6%, que já havia sido registrada nos meses de março de 2004, além de abril, maio e setembro de 2003. Outro indicador negativo é o salário pago na região metropolitana de São Paulo, que continua em queda.

O rendimento médio real dos ocupados diminuiu 1,5%, passando a corresponder a R$ 943, enquanto o salário médio praticamente manteve-se estável (+0,2%) em R$ 1.014.

GOVERNO LULA É CONTINUAÇÃO DO COLLOR ???? 

O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Quinta-feira, 20 de Maio de 2004
PF prende assessor direto do ministro da Saúde
Operação deteve Luiz Cláudio Gomes da Silva e mais 13 suspeitos de fraudes de até R$ 2 bi

ESCÂNDALO
‘Vampiros’ estão na cadeia
http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/politica/

A Polícia Federal prendeu ontem 14 pessoas envolvidas no megaesquema de fraude em licitações que funcionava no Ministério da Saúde desde 1990. Entre os detidos, está Luiz Cláudio Gomes dos Santos, coordenador de Logística do Ministério da Saúde e homem de confiança do ministro Humberto Costa. Os desvios na compra de hemoderivados (remédios usados por hemofílicos) causaram um prejuízo de R$ 2,04 bilhões entre 1990 e 2004, segundo a PF.

A quadrilha era composta por empresários, lobistas e altos funcionários do próprio ministério. O grupo tem raízes no Esquema PC, coordenado por Paulo César Farias, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor e morto em 1995. Para prender 14 envolvidos – foram expedidos 17 mandados temporários – a PF mobilizou agentes simultaneamente em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Foram apreendidos ainda computadores, documentos e, na casa do empresário Francisco Honorato, uma mala com R$ 1 milhão em dinheiro. Os envolvidos e o material apreendido foram conduzidos à Superintendência da PF.

O assessor de Humberto Costa foi preso em Brasília. Com o funcionário de confiança do ministro foram apreendidos R$ 120 mil, além de US$ 20 mil e 7 mil euros. Gomes da Silva foi nomeado pelo ministro no ano passado e chegou a compor, por escolha de Costa, várias comissões do ministério. Numa delas, o assessor fez parte da equipe que interveio no Inca (Instituto Nacional do Câncer), sendo responsável pela área administrativo-financeira.

A ação policial de ontem foi definida após consulta do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de segunda-feira. Lula não apenas autorizou o prosseguimento do trabalho, como determinou a apuração exemplar do caso e punição para os envolvidos. Logo às 6h, delegados e agentes iniciaram as buscas.

Agente da Polícia Federal carrega sacos com dinheiro encontrado na casa de Luiz Cláudio Gomes da Silva, em Brasília

Em São Paulo, foram presos os empresários Marcelo Pupkin Pitta, ex-diretor da Fundação do Sangue; Elias Abboadala e Laerte de Arruda Corrêa Júnior. Segundo o delegado Wagner Castilho, os policiais encontraram com os três indícios suficientes para incriminá-los por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, fraude e corrupção. No Rio, além de prender o empresário Armando Garcia Coelho, os policiais federais apreenderam R$ 168 mil e US$ 50 mil na casa de câmbio Dunes No-stop, que seria parte do esquema.

Três dos acusados – o empresário Lourenço Rommel Peixoto, negou qualquer envolvimento com o caso e os lobistas Marcos Chain e Jaisler Jabour (intermediário do laboratório suíço Octapharma, beneficiado nas licitações), não foram encontrados.

Ministros evitam entrar em detalhes

No começo da tarde, Márcio Thomaz Bastos, o ministro interino da Saúde, Gastão Wagner (Humberto Costa está na Suíça e é esperado hoje) e o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, deram entrevista para fazer um balanço da operação. Thomaz Bastos explicou que, como as investigações ainda não foram concluídas, não poderia detalhar as acusações e o grau de envolvimento de cada um dos presos. Segundo ele a decisão de prender os envolvidos com a quadrilha se deu com “a descoberta de !!!! indícios !!!! importantes”.

quarta-feira, maio 19, 2004

DINES FOI NA MOSCA 

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=277ASP025

A revista Time, igualmente americana, recentemente relacionou o presidente Lula entre as 100 personalidades do século, numa reportagem respeitosa e até elogiosa. O PT, aliás, não perdeu tempo em alardear o fato. E o governo citou a menção na nota de protesto contra a reportagem do NY Times.

Pergunta-se: por que o NY Times estaria na conspiração e não a Time?

A revista pertence à Warner, uma multinacional da mídia. O jornal pertence a uma família e, aliás, é considerado um veículo liberal lá nos EUA, adversário do governo Bush (e da guerra).

domingo, maio 16, 2004

Lula não precisava ter exagerado tanto na dose  

HE! HE! HE!

SE A DECISÃO É IMPORTANTE, TOME COM GELO E LIMÃO 

HE! HE! HE!

sexta-feira, maio 14, 2004

Se governar, não beba. Se beber, não governe.  

he ! he! he!

quinta-feira, maio 13, 2004

TARTARUGA NO POSTE 

Enquanto suturava uma laceração na mão de um velho gari (que tinha cortado em um caco de vidro indevidamente jogado no lixo), o médico e o gari começaram a conversar sobre o Lula.
E o velho gari disse:

- Bom, o senhor sabe, o Lula é uma 'tartaruga num poste'.

Sem saber o que o gari quis dizer, o médico perguntou o que era uma 'tartaruga num poste'.

O velho gari respondeu:
- Quando o senhor vai indo por uma estradinha e vê um poste de cerca de arame farpado, com uma tartaruga equilibrando em cima dele, isto é uma 'tartaruga num poste'.

O velho gari olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação:
- Você sabe que ela não subiu lá sozinha, você sabe que ela não deveria estar lá, você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá, então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá.

Monumental estupidez 

EDITORIAL
http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/mai/13/44.htm

A decisão de cancelar o visto - o que equivale à expulsão - do jornalista Larry Rohter, do New York Times (NYT), como punição pela reportagem sobre o que o Planalto denominou, eufemisticamente , de "hábitos sociais" do presidente Lula - além de ser, como disse um ministro do STF citado nos jornais de ontem, "uma monumental estupidez" -, indica que ele e o seu círculo íntimo foram tomados por um surto de petismo profundo - os componentes autoritários entranhados no DNA do partido.

O desconforto com os princípios da "democracia burguesa" - tidos como úteis para a ascensão política e um estorvo quando colidem com um projeto ideológico de poder - combinou-se, nesse caso, com outra típica faceta petista: o antiamericanismo. Isso ficou patente no disparate propagado domingo pelo ministro da Comunicação, Luiz Gushiken, de que a matéria do NYT estaria a serviço do supremacismo do governo Bush.

No editorial anterior sobre o caso, o Estado ressaltou que o próprio Lula, conforme se divulgou, recomendara que não se reagisse "com o fígado" a um fato afinal corriqueiro nas democracias, onde a imprensa considera a vida privada dos governantes de interesse público - e nem por isso eles acham que a sua honra pessoal e a dignidade nacional são atingidas quando a mídia aborda aspectos polêmicos de seu comportamento. Mas Lula mudou (ou foi levado a mudar) de idéia. E o Planalto acabou tratando de forma duplamente calamitosa um assunto que, além de não justificar o alarido a seu respeito, tinha se esgotado.

Primeiro, a expulsão do jornalista, com base numa lei da ditadura militar feita para remover do País estrangeiros que lhe causassem problemas, igualou o Brasil aos regimes liberticidas, do Zimbábue de Robert Mugabe a Cuba de Fidel Castro, que merecem dos democratas de todas as tendências apenas absoluta repulsa. Segundo, se o Planalto efetivamente achou que a reportagem trouxe "grave prejuízo à imagem do País no exterior", somou supina ignorância à truculência. Artigos sobre "hábitos sociais" de chefes de Estado não produzem esse efeito: a imagem da Rússia, por exemplo, não mudou porque Boris Yeltsin aparecia no noticiário claramente embriagado.

Tampouco a mídia "repercute", como se diz nas redações, matérias como a de Larry Rohter sobre Lula. Raramente elas são retomadas por órgãos diferentes daqueles que as publicaram. Já a expulsão de um correspondente do New York Times é notícia no mundo inteiro - e o fato que a motivou estará em todas as emissoras, jornais, revistas e sites na internet que se ocuparem da história - em prejuízo irrecuperável, agora sim, da imagem do Brasil. Ou seja, o Brasil se torna destaque internacional por banir um jornalista do mais respeitado jornal do planeta porque ele escreveu um artigo sobre o consumo de bebida alcoólica do presidente. Não se falará das falhas da matéria, nem se discutirá se ela é "leviana e mentirosa", como quer o Planalto. Mas Lula será estigmatizado - em prejuízo do Brasil.

Não se sabe, no momento em que este comentário é redigido, como o Planalto chegou a essa vergonhosa decisão - a não ser que ela se deu à revelia do ministro da Justiça, que está em Genebra e lá foi informado da decisão do seu ministério pelo correspondente do Estado, Jamil Chade, e não disfarçou a surpresa nem a contrariedade. (Mais tarde, em entrevista à imprensa, o ministro Thomaz Bastos, incorrendo numa gaffe, chegou a dizer que o Ato Institucional n.º 5 não está mais em vigor e o jornalista americano pode recorrer à Justiça brasileira, que poderá revogar a decisão do Planalto.) Mas tudo indica que as duras críticas da imprensa e dos políticos, sem distinção, ao trabalho de Rohter, bem como as manifestações gerais de solidariedade a Lula, foram tomadas no governo pelo seu valor de face e como endosso prévio a qualquer retaliação ao jornalista. Na realidade, a mídia brasileira e a oposição foram inclementes com a matéria e generosas com o presidente por levarem em consideração, tacitamente, a peculiar biografia de Lula e o interesse nacional.

Em relação a ele prevaleceu uma atitude de complacência que dificilmente se aplicaria a um presidente oriundo das elites tradicionais - ou seja, o avesso do que o Planalto a todo instante considera "preconceito". Por isso também a eleição de Lula foi cantada em prosa e verso no exterior, inclusive pelo New York Times. E em relação ao País prevaleceu o senso de responsabilidade política - o mesmo que desde a primeira hora vem poupando o Executivo de ataques mais contundentes, dada a convicção de que, no atual estado de coisas, a ninguém interessa a derrocada do governo Lula.

E pensar que o presidente poderia ter dado a volta por cima chamando o jornalista para um drinque no Alvorada

quarta-feira, maio 12, 2004

PT, 51 ! UMA BOA IDÉIA ???? 

HE ! HE ! HE !

terça-feira, maio 11, 2004

CRISE DE IDENTIDADE NO politisBURGER 

.

Quem governa o Brasil hoje ? Boris Inácio ou Lula Yeltsin ?

Qual o principal programa social do governo ? Fome zero ou ressaca zero ?

Quais os principais produtos da cesta básica ? Arroz, feijão e leite ou água de azeitona, sal de fruta e aguardente ?

Qual o nome do próximo avião presidencial ? Air Force 51 ou Pirassununga Air ?

Porque os alcóolatras anônimos até agora não se manifestaram - a favor ou contra - a reportagem do NYTimes ?

O PT trocará seu simbolo ? Substituirá a estrela vermelha por uma garrafa de Red Label ? Haverá conivência da John Walker ?

O que Zé Dirceu anda bebendo ?

Lula leu Bernard Shaw e descobriu que a realidade é uma ilusão causada por insuficiencia de álcool no cérebro ? Mas leu como, se ele só anda bêbado ?

domingo, maio 09, 2004

NYT : LULA É UM PINGUÇO 

Éééééé ! A grana da viúva compra uma meia dúzia de jornalistas desempregados, mas não compra todos os jornalistas do mundo, em particular o bem pagos do NYT. E agora, D. Marisa, como o Seu Inácio vai explicar este beijo na cueca ?

p.s. Até agora, nenhuma manfestação de apoio ao Lula por parte dos alcoolatras anômimos.

Brazilian Leader's Tippling Becomes National Concern
By LARRY ROHTER
Published: May 9, 2004
http://www.nytimes.com/2004/05/09/international/americas/09lula.html

BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da Silva has never hidden his fondness for a glass of beer, a shot of whiskey or, even better, a slug of cachaça, Brazil's potent sugar-cane liquor. But some of his countrymen have begun wondering if their president's predilection for strong drink is affecting his performance in office.

In recent months, Mr. da Silva's left-leaning government has been assailed by one crisis after another, ranging from a corruption scandal to the failure of crucial social programs. The president has often stayed out of the public eye and left his advisers to do most of the heavy lifting. That has spurred speculation that his apparent disengagement and passivity may somehow be related to his appetite for alcohol. His supporters, however, deny reports of heavy drinking.

Though political leaders and journalists are increasingly talking among themselves about Mr. da Silva's consumption of liquor, few are willing to express their misgivings in public or on the record. One exception is Leonel Brizola, the leader of the leftist Democratic Labor Party, who was Mr. da Silva's running mate in the 1998 election but now worries that the president is "destroying the neurons in his brain."

"When I was Lula's vice-presidential candidate, he drank a lot," Mr. Brizola, now a critic of the government, said in a recent speech. "I alerted him that distilled beverages are dangerous. But he didn't listen to me, and according to what is said, continues to drink."

During an interview in Rio de Janeiro in mid-April, Mr. Brizola elaborated on the concerns he expressed to Mr. da Silva and which he said went unheeded. "I told him 'Lula, I'm your friend and comrade, and you've got to get hold of this thing and control it,' " he recalled.

" 'No, there's no danger, I've got it under control,' " Mr. Brizola, imitating the president's gruff, raspy voice, remembers Mr. da Silva replying then. "He resisted, and he's resistant," Mr. Brizola continued. "But he had that problem. If I drank like him, I'd be fried."

Spokesmen for Mr. da Silva declined to discuss the president's drinking habits on the record, saying they would not dignify baseless charges with a formal reply. In a brief e-mail message responding to a request for comment, they dismissed speculation that he drank to excess as "a mixture of prejudice, misinformation and bad faith."

Mr. da Silva, a 58-year-old former lathe operator, has shown himself to be a man of strong appetites and impulses, which contributes to his popular appeal. With a mixture of sympathy and amusement, Brazilians have watched his efforts to try not to smoke in public, his flirtations at public events with attractive actresses and his continuing battle to avoid the fatty foods that made his weight balloon shortly after he took office in January 2003.

Aside from Mr. Brizola, political leaders and the news media alike seem to prefer to deal in innuendo, but do so with relish. Whenever possible, the Brazilian press publishes photos of the president bleary-eyed or ruddy-faced, and constantly makes references both to weekend barbecues at the presidential residence at which the liquor flows freely and to state events at which Mr. da Silva never seems to be without a drink in his hand.

"I've got a piece of advice for Lula," the gadfly columnist Diogo Mainardi wrote in late March in Veja, the country's leading newsmagazine, reeling off a list of articles containing such references. "Stop drinking in public," he counseled, adding that the president has become "the biggest advertising spokesman for the spirits industry" with his very conspicuous consumption of alcohol.

A week later, the same magazine printed a letter from a reader worrying about "Lula's alcoholism" and its effect on the president's ability to govern. Though some Web sites have been complaining for months about "our alcoholic president," it was the first time the mainstream national press had referred to Mr. da Silva in that manner.

Historically, Brazilians have reason to be concerned at any sign of heavy drinking by their presidents. Jânio Quadros, elected in 1960, was a notorious tippler who once boasted, "I drink because it's liquid"; his unexpected resignation, after less than a year in office during what was reported to be a marathon binge, initiated a period of political instability that led to a coup in 1964 and 20 years of a harsh military dictatorship.

Whether or not Mr. da Silva really has a drinking problem, the issue has seeped into the public consciousness and become the subject of gibes. When the government spent $56 million early this year to buy a new presidential plane, for instance, the columnist Claudio Humberto, a sort of Matt Drudge of Brazilian politics, sponsored a contest to give a tongue-in-cheek name to the aircraft.

One winning entry, recalling that the United States president's plane is called Air Force One, suggested that Mr. da Silva's jet should be designated "Pirassununga 51," which is the name of the most popular brand of cachaça. Another suggestion was "Powered by Alcohol," a pun referring to a government plan to encourage cars to use ethanol as fuel.

Speculation about the president's drinking habits has been fed by various gaffes and faux pas that he has made in public. As a candidate, he once offended residents of a city regarded as a haven for gays by calling it "a factory that manufactures queers," and as president, his slips in public have continued and become part of Brazilian political folklore.

At a ceremony here in February to announce a large new investment, for example, Mr. da Silva twice referred to the president of General Motors, Richard Wagoner, as the president of Mercedes-Benz. In October, on a day honoring the nation's elderly, Mr. da Silva told them, "when you retire, don't stay at home bothering your family, find something to do."

Abroad, Mr. da Silva has also stumbled or spoken ill-advisedly. On a visit to the Middle East last year, he imitated an Arab accent in speaking Portuguese, mispronunciations and all; and in Windhoek, Namibia, he said the city seemed to be so clean that it "hardly seems like Africa."

Mr. da Silva's staff and supporters respond that such slips are only occasional, are to be expected from a man who likes to speak off the cuff and have nothing to do with his consumption of alcohol, which they describe as moderate in any case. As they see it, he is being held to a different and unfair standard than that of his predecessors because he is Brazil's first working-class president and received only a sixth-grade education.

"Anyone who has been at a formal or informal reception in Brasília has witnessed presidents sipping a shot of whiskey," the columnist Ali Kamel wrote in the Rio de Janeiro daily O Globo recently. "But you'll have read nothing in that respect about other presidents, just about Lula. That smacks of prejudice."

Mr. da Silva was born into a poor family in one of the country's poorest states and spent years leading labor unions, a famously hard-drinking environment. Brazilian press accounts have repeatedly described the president's father, Aristides, whom he barely knew and who died in 1978, as an alcoholic who abused his children.

Stories about drinking episodes involving Mr. da Silva are legion. After one night on the town when he was a member of Congress during the late 1980's, Mr. da Silva got off the elevator at the wrong floor of the building where he lived at the time and tried to batter down the door of an apartment he mistakenly thought was his own, according to politicians and journalists here, including some who are former residents of the building.

"Under Lula, the capirinha has become the national drink by presidential decree," the daily Fôlha de São Paulo said last month in an article about Mr. da Silva's association with alcohol and referring to a cocktail made with sugar-cane liquor.

sexta-feira, maio 07, 2004

SEM MEDO DE SER FELIZ, NÉ ? SEI .  

As três promessas arquivadas

Villas-Boas Correa

05.05.2004 | Cutuco o fundo da memória e não encontro lembrança de governo que tenha envelhecido mais rapidamente do que o do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Chega a um terço do mandato de quatro anos com a estridência das sirenes de alarme soando no tom agudo do desespero, cercado de crises por todos os lados, com greves em série e a agenda anunciando novas paralisações dos que se sentem logrados pelas promessas não cumpridas; desafiado na sua autoridade em frangalhos pelos antigos aliados que duvidam da sua palavra, com o MST batendo o recorde de invasões de terras produtivas ou improdutivas e na acintosa ocupação de prédios públicos e os índices de popularidade em queda livre.

Na última pesquisa realizada pelo Ibope para orientação interna - como informa Boechat - a aprovação do governo baixou de 54% para 51%, em alarmante empate técnico, com a desaprovação em disparada para 49%. Nesta toada, na próxima consulta aos decepcionados, o governo entrará na faixa do vermelho, solidário com a sina dos clubes cariocas nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.

Três das mais populares promessas das quatro campanhas de Lula estão expostas em velórios de pobre, esperando a hora do enterro em cova rasa. Nenhuma delas pode ser salva pelo milagre da ressurreição. A começar pela reforma agrária, que amarga como limão azedo na goela presidencial. Esta o governo perdeu na mistura suicida da incompetência com a soberba. Prometeu assentar mais de 400 mil famílias de sem-terra, no simplismo de reduzir o problema à distribuição de lotes e cestas básicas, sem a assistência técnica e o mínimo cuidado de selecionar lavradores de mãos calejadas dos espertalhões que pegam carona nas marchas, de olho grande na revenda dos lotes.

Trata-se de exemplo emblemático da leviandade e da inexperiência administrativa dos quadros petistas, criados do outro lado da cerca da oposição. Lula jactava-se da sua habilidade de articulador testado nos anos de liderança sindical e o único em condições de negociar com o MST um projeto de reforma agrária sem violência ou invasões de propriedades produtivas. Recebeu as lideranças, com o maneiroso Stédile à frente, no seu gabinete do Palácio do Planalto. Deixou-se filmar e fotografar com o boné vermelho e entregou o Ministério Agrário ao companheiro Miguel Rosseto. E não cuidou mais do assunto, na agitação em que desperdiça o tempo em reuniões inúteis ou na exibição dos seus dotes de orador fluente nos improvisos que lhe têm custado tantas gafes e escorregões no piso ensaboado do ridículo.
Nada deu certo. A onda de invasões devasta a autoridade do governo e ameaça descambar para o pior. Fechou a cancela do beco: se ceder, passará recibo na rendição; empacando na teimosia, tocará fogo no paiol.

No segundo dos desacertos, o do aumento do salário mínimo em R$ 0,66 – sessenta e seis centavos – por dia, entre pedidos de desculpas e as sovadas explicações da herança maldita, enfiou-se no túnel escuro, com entrada e sem retorno. Os jornais, revistas e os oposicionistas que destoam do bloco dos mudos divertem-se catando as contradições entre o que disseram ontem e agora desdizem o presidente, seus ministros, líderes, parlamentares e o bloco dos cupinchas que já abocanharam o seu naco no rateio do bolo do governo. As coisas estão mal paradas. Nem as lideranças oficiais curvam o cangote na incerteza do ano eleitoral. Na reunião de amanhã, quinta-feira, do Conselho Político, afinal convocado para a estréia, líderes governistas articulam-se para botar a boca no trompete, solar o constrangimento com o reajuste mofino e defender uma meia-sola no mínimo para a migalhice de R$ 300 a R$ 320. Outra parada que o governo perdeu na véspera, com cota extra da fila de greves declaradas ou das que se anunciam, com fôlego para um colapso de serviços essenciais.

Afinal, o terceiro tombo, com as clássicas conseqüências das contusões generalizadas, da criação de dez milhões de empregos, com o penduricalho de milhões de primeiro emprego para o milhão e meio de jovens que todos os anos batem com a nariz na porta fechada do mercado de trabalho. O desemprego bate recorde histórico nas principais capitais e o primeiro emprego embaraçou-se no novelo da infernal burocracia petista, desde o pico dos 35 ministros até o desmantelo das repartições ocupadas pelas tropas vitoriosas nas urnas da decepção. Encabulado, o governo não fala mais em números na recauchutagem das promessas de criação de empregos e do primeiro emprego.

Na juventude de um terço do mandato, na exuberância da melhor fase da vida, o governo parece um ancião precoce, castigado pelo destino, que começa a ser abandonado pelos amigos, criticado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Maurício Corrêa, e que, com medo de vaia, evita sair de casa até no Dia do Trabalho para festejar o aumento de sessenta e seis centavos por dia no salário mínimo.

quinta-feira, maio 06, 2004

BAIXO-ASTRAL  

O ESTADO DE S.PAULO
ESPAÇO ABERTO
Segunda-feira, 3 de maio de 2004
ALCIDES AMARAL
jornalista, ex-presidente do Citibank S.A.,
é autor do livro Os Limões da Minha Limonada

Que a geração de 10 milhões de empregos e o espetáculo do crescimento anunciados pelo presidente Lula não ocorreriam a curto prazo não é surpresa para ninguém. Mas que o desalento, esse verdadeiro "baixo-astral" que toma conta dos empresários e de parte da população brasileira, tenha vindo tão cedo, isso é altamente preocupante. Embora o ministro Furlan - que, aliás, vem efetuando excelente trabalho à frente da pasta do Desenvolvimento - afirme que esse "baixo-astral é de fundo psicológico", os fatos, infelizmente, demonstram o contrário. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada na última semana mostra que a confiança dos empresários nos rumos da economia caiu de 56,1% para 39%. Isto é, aqueles que vêm as coisas de forma negativa superam os otimistas.

Quais são as causas que levam a esse "baixo-astral"? Seriam elas reais ou apenas má vontade com o governo Lula?

É bom que se diga, inicialmente, que ninguém duvida das boas intenções do presidente Lula de fazer do Brasil uma sociedade mais justa, na qual todos tenham direito a três refeições diárias. Progressos na área fiscal e no combate à inflação devem, também, ser reconhecidos. Mas, como não se constrói um país com palavras - temos demais -, e sim com atos e ações concretas, aí o governo fica devendo.

O desalento começa lá em Brasília, no Congresso Nacional. Os políticos são percebidos como um grupo de privilegiados que ganham bem, têm direito a três meses de férias por ano e ainda emendam todos os feriados prolongados que aparecem. Num ano político como este - de eleições para as prefeituras -, as coisas pioram, pois o tempo disponível para movimentar institucionalmente este país ficará, inevitavelmente, reduzido. E não é por outra razão que estudo realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) evidencia que a maior parte da população dos países latino-americanos apoiaria um governo autoritário desde que os problemas econômicos de seus países fossem equacionados.

O Banco Mundial (Bird), por sua vez, nas palavras de Guillermo Perry, seu economista-chefe para a América Latina, afirma que "o problema do Brasil não é falta de dinheiro, mas o modo como o País gasta o que arrecada". E não temos como duvidar quando vemos 2.793 novos cargos de confiança serem aprovados pelo Senado, além da anunciada contratação de mais 40 mil pessoas via concurso. Isto é, a pesada "máquina governamental" continua inchando, fazendo com que o aumento das despesas de custeio limite as verbas para investimentos.

Embora as contas externas apresentem melhora em face do avanço das exportações, alguns indicadores vão em direção contrária. Os investimentos estrangeiros nos quatro primeiro meses do ano de 2004 somaram cerca de US$ 3,2 bilhões, pondo em risco a meta governamental de alcançarmos um total de US$ 13 bilhões ao longo do ano. Além disso, de janeiro a março de 2004 as remessas de lucros e dividendos para o exterior aumentaram 81% em relação ao mesmo período no ano passado. Nada menos que US$ 1,617 bilhão deixou o País, o que demonstra falta de confiança nos rumos da economia. Caso não fosse essa a percepção, boa parte desse dinheiro seria reinvestida aqui mesmo, em vez de ir embora.

O descontentamento não é característica apenas dos empresários. Greves da Polícia Federal, do INSS, da Receita Federal e outras ameaças do funcionalismo demonstram que não são apenas os metalúrgicos que estão insatisfeitos. Em cartazes exibidos ao presidente Lula quando em visita a uma montadora em São Bernardo do Campo, reduto do PT, afirmavam: "Queremos realizações", "basta de promessas" e "chega de sermos enganados". O MST prometeu e cumpriu o "abril vermelho", pois mais de cem invasões foram efetuadas, algumas delas em terras produtivas. E o que se vê são as coisas correndo soltas, pois o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Maurício Corrêa, afirma que "o governo se encontra um pouco tonto", sem saber como resolver esses problemas que afetam a vida dos brasileiros.

Enquanto essa é a situação por aqui, na via expressa que é o mundo globalizado nossos parceiros emergentes - Índia, Rússia, Coréia do Sul, Chile e Tailândia, entre outros - correm a velocidades de 80 a 100 km por hora. A China, por sua vez, está sendo forçada a adotar medidas restritivas ao crescimento da sua economia para evitar problemas maiores no futuro. E, nas palavras confiantes do presidente Lula, "o País saiu da UTI e já anda pelos corredores do hospital". Fica fácil, pois, perceber o porquê do "baixo-astral" que nos atinge.

Diante dessa realidade só nos resta torcer para que o governo Lula encontre aquela força não demonstrada até aqui para que, com ações concretas, possa reverter o quadro atual. O cenário externo apresenta-se menos promissor, é verdade, mas não faltarão oportunidades para aqueles que, com determinação, trilharem a rota que leva ao desenvolvimento sustentado. É difícil, sem dúvida, mas nada é impossível para os verdadeiros vencedores.

quarta-feira, maio 05, 2004

PENSAR E FALAR 

Dede o comeco deste blog, venho falando sobre isto. O Mulá supremo do PERIGO VERMELHO é uma anta.

Miriam Leitao, O Globo, 01/05/2004, p. 30

Lula nos improvisos anuncia decisões não tomadas; dá como certas providências que não executa; confunde conceitos e faz frases lamentáveis em todos os aspectos. Presidentes são líderes; quando falam, ajudam a fortalecer valores. Por isso, todo o cuidado é pouco. Ao discursar no Nordeste, em março, disse que “não é livro que ensina a governar”. Num país que estudou pouco, lê pouco, na região com os menores índices de escolaridade do Brasil, a frase é perigosa. Pode ser entendida pelos jovens como uma autorização para abandonar estudo e leitura. Das duas armas precisamos para enfrentar os desafios do século XXI. Lula interrompeu os estudos no quinto ano do fundamental pelas dificuldades que vivia na época. Entende-se. Depois, não estudou porque não quis. Isso é mais difícil de entender. Tem todos os motivos para orgulhar-se de sua trajetória, mas hoje o mercado exige cada vez mais escolaridade dos jovens. Na Bienal do Livro, o paralelo que fez entre a “preguiça desgramada” de andar na esteira e ler um livro foi esdrúxulo. Cercado de livros e de jovens, Lula, antes de falar, deveria ter pensado sobre os valores que ele, como líder, deve defender.

O arquivo de suas palavras já registra uma galeria de frases erradas, ditas no lugar errado. “Quando Napoleão foi à China”, disse ele, referindo-se a um fato que a História não registra. Ao falar do acidente em Alcântara, em que morreram 22 pessoas, foi indelicado: “Há males que vêm para bem.” Ao falar no Clube do Exército, para uma platéia de militares, atirou: “Não adianta ter um bando de generais e um bando de soldados.” A palavra “bando” é inadequada. Numa homenagem às mulheres: “Minha mãe era uma mulher que nasceu analfabeta.” Se soubesse ler ao nascer, seria um fenômeno para a ciência. Em pelo menos duas ocasiões, ofendeu países que estava visitando: na Namíbia, disse que a capital era tão limpa que nem parecia africana; na Índia, sobre o Taj Mahal: “Um país que constrói um monumento daquela magnitude tem tudo para ser mais desenvolvido do que é atualmente.” Qualquer pessoa pode errar nos improvisos, mas é difícil encontrar alguém que, errando tanto, estando tão exposto, continue com o mesmo arriscado hábito.

“Eu quero dizer a vocês com a sinceridade que um homem pode falar a outro homem.” Isso de falar de homem para homem é velho demais e não faz sucesso com as mulheres. Suprimi-las implicitamente no discurso, menos ainda. “Na Amazônia, vivem 20 milhões de cidadãos que têm mulheres e filhos.” Uma dúvida conceitual: as mulheres são apenas agregadas dos cidadãos? Uma dúvida estatística: o total da população da Região Norte, incluindo homens e mulheres, é de 13,5 milhões, na estimativa de 2002.

Há trechos dos seus discursos que não fazem sentido algum. São palavras simplesmente sem nexo. Em outros momentos, ele desdiz num dia o que disse no anterior. No dia 3 de abril, disse: “Fiz mais em 15 meses do que muita gente em 500 anos.” Quatro dias depois: “Tem gente que governou este país nos últimos 30 anos, e a grande maioria ainda está no poder. E agora cobram de nós, como se pudéssemos fazer em 500 dias o que eles não fizeram em 500 anos.”

Contradições e platitudes desgastam a imagem do governante. Gafes costumam ofender e isso, na diplomacia principalmente, deve ser evitado. Precipitações constrangem o próprio governo. Na última terça-feira, cometeu o erro duas vezes: disse que vai dobrar o número de recrutas das Forças Armadas, sem explicar de onde virá o dinheiro; depois, avisou no ABC que anunciaria durante a semana boas novidades sobre a correção da tabela do Imposto de Renda, o que ainda não fez.

O presidente da República não pode ser ventríloquo dos assessores, nem deve perder a espontaneidade com que conquistou o país. O ideal é que, em ocasiões mais formais, leia. Nas informais, fale com naturalidade. Mas deve pensar previamente, até nos improvisos, que mensagem quer passar para cada público, em cada ocasião e naquela específica circunstância. Deve comandar as próprias palavras e não ser comandado por elas.

Mas tudo isso o presidente sabe. No dia 7 de maio do ano passado, numa reunião no Nordeste, ele disse: “Não é boa política falar tanto tempo quando as palavras têm cada vez mais valor, na seriedade que a política está a exigir de nós. Político bom é o que pensa e depois fala.” Nem naquele dia ele conseguiu conter sua loquacidade compulsiva. Falou de improviso mais 50 minutos.

segunda-feira, maio 03, 2004

exposição museológica de idéias by Lessa 

Declaro que eles ganharam a primeira edição do prêmio Pulitis-burger de jornalismo, categoria " desce a lenha no PERIGO VERMELHO"

Leandra Peres
Claudio Rossi

Desde que chegou ao Palácio do Planalto, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tem sido absolutamente
rigoroso e constante numa questão – o respeito ao
equilíbrio das contas públicas. Nesses dezesseis meses,
o governo não tomou uma só medida que colocasse em risco
a política econômica. Na semana passada, o zelo do
governo pelo ajuste fiscal foi reafirmado com a decisão
de aumentar o valor do salário mínimo para 260 reais,
ficando no limite do suportável para as contas públicas.
O mínimo é um tema caro ao coração do presidente e faz
parte das reivindicações históricas do PT. Com o
reajuste de apenas 20 reais, o governo mais uma vez se
recusou a fazer populismo à custa das contas públicas.
Em pleno ano eleitoral, a opção foi ainda mais dolorosa
para o presidente. Será que, de agora em diante, o
governo do PT não terá mais de provar sua maioridade
econômica e o país deixará de pagaro custo da
desconfiança? Infelizmente, não. E por sua própria
culpa. Enquanto o governo não parar de emitir sinais
ambíguos e mensagens contraditórias, que sempre passam a
impressão de que lhe falta convicção, a dúvida
encontrará espaço nas manchetes da imprensa.
Mesmo na definição do novo valor do salário mínimo o
governo conseguiu desorientar a opinião pública e o
mercado. Fez seis reuniões em duas semanas, totalizando
vinte horas de debates em encontros que, em alguns casos
, chegaram a reunir nada menos que nove ministros. Além
disso, o governo fez sucessivos adiamentos do anúncio do
novo valor. Foi tamanha a embromação sobre o assunto que
, na quarta-feira, o mercado, já agitado com a
possibilidade de aumento na taxa de juros dos Estados
Unidos, começou a exibir sinais de nervosismo, pois já
não sabia se podia confiar na capacidade do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci, de convencer o presidente Lula
a manter o reajuste salarial dentro do razoável para as
contas públicas. Com tantas reuniões e adiamentos, o
governo desidratou a mensagem de que seu compromisso
fiscal é para valer. "Mesmo com a turbulência
internacional poderíamos estar colhendo muito mais
resultados se a credibilidade acumulada pelo governo no
ano passado não fosse colocada em xeque a todo instante"
, analisa um alto integrante do governo.

As divergências públicas entre membros do governo são o
sinal mais eloqüente dessa ambigüidade, que costuma
cobrar um preço alto. Agora em abril, por exemplo, a
desconfiança dos investidores em relação à administração
petista custou quase 1 bilhão de reais ao país. Os
especialistas calculam que, levando em conta os
resultados da economia brasileira, expurgando qualquer
interferência política, o risco Brasil deveria ficar
apenas 500 pontos acima do que o governo americano paga
de juros em seus títulos públicos. Em vez disso, o risco
Brasil está em quase 600 pontos. A diferença de 100
pontos é o preço da desconfiança do mercado em relação a
um governo que não consegue deixar de expor suas
contradições publicamente. O acréscimo de 1 bilhão de
reais na dívida pública em abril pode ser computado a
essa fraqueza do governo Lula. No ano passado, a
administração do PT teve um inegável sucesso na
estabilização da economia. Em 2002, o risco Brasil ficou
76% acima da média do risco dos países emergentes. No
ano passado, o primeiro sob administração petista, o
risco Brasil ficou apenas 49% acima. Neste ano, porém, a
média voltou a subir.
"O problema é que o governo Lula é como um bolero: são
dois para lá e dois para cá", diz o ex-presidente do
Banco Central Gustavo Loyola. "Obviamente, esse não é o
ritmo apropriado para sinalizar o compromisso do governo
com a estabilidade das regras." Há três semanas, por
exemplo, o senador Aloizio Mercadante, do PT paulista,
chegou a dizer que havia "forte consenso" no governo
sobre a elevação da meta inflacionária do ano que vem de
4,5% para 5,5% – medida que teria impacto imediato
nas
expectativas do mercado. Ninguém sabe de onde saiu a
informação, pois desde então o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, vêm repetindo à exaustão que a meta
inflacionária não sofrerá nenhum tipo de revisão.
Mercadante já protagonizou outros espetáculos do gênero,
como quando aventou a possibilidade de que o país
adotaria o controle de capitais, mas está longe de ser o
único. Até o ministro Guido Mantega, do Planejamento,
produziu suas marolas, anunciando mudanças nunca
aplicadas no superávit primário ou divergindo da equipe
econômica sobre os índices de crescimento do PIB.

Ninguém, no entanto, rivaliza com o presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
Carlos Lessa, aquele que assumiu o cargo dizendo que,
sob sua gestão, o banco voltaria a ser um hospital de
empresas falidas. O caso mais recente ocorreu em março
passado, quando Lessa anunciou que o banco passaria a
cobrar juros mais elevados de investidores estrangeiros,
considerando que eles costumam ter acesso a linhas de
financiamento mais baratas no exterior. O ministro do
Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, a quem o BNDES é
teoricamente subordinado, criticou a decisão e defendeu
que fosse revisada. Não adiantou nada. Lessa só recuou
depois que o ministro José Dirceu, da Casa Civil,
despachou ordens expressas para que a política de juros
do banco não fizesse distinção entre nacionais e
estrangeiros. As confusões e os desencontros de Carlos
Lessa podem parecer apenas folclore, uma inofensiva
exposição museológica de idéias, mas o fato é que o
BNDES tem nada menos que 30 bilhões de reais para
gerenciar, uma montanha de dinheiro.

O próprio presidente Lula já contribuiu para a cacofonia
do governo. Quando assumiu o comando do Banco Central,
Henrique Meirelles disse que um dos projetos do governo
era estudar a independência do BC. O assunto vagou
insepulto durante todo o ano passado até que, em janeiro
último, o presidente Lula disse que o debate sobre a
independência do BC era "inquietação de tese acadêmica".
Como o assunto fora abordado várias vezes por membros da
equipe econômica, restaram duas explicações possíveis
para o caso: ou a equipe econômica falara por conta
própria sem nunca ter consultado o presidente sobre a
independência do BC, ou então o presidente concordara
com o assunto, dera corda para seus auxiliares e, na
última hora, resolvera mudar de idéia. Em novembro do
ano passado, durante uma viagem à África, o presidente
Lula disse que não se divulgaria um acordo com o FMI na
sua ausência do Brasil – e, na mesma noite, o
ministro
Antonio Palocci anunciou que o país acabara de fechar um
novo acordo com a instituição.
Na semana passada, Palocci esteve em Washington e Nova
York, conversou com dirigentes do FMI e Banco Mundial e
fez contato com investidores estrangeiros – e, de
novo,
produziu-se uma confusão típica do governo petista.
Palocci disse que o FMI aceitou elaborar um projeto
piloto para testar a idéia de excluir parte dos
investimentos em infra-estrutura do cálculo do superávit
primário. Uma penca de ministros, numa afoiteza quase
infantil, saiu a anunciar cifras bilionárias que
ficariam livres para investimentos já neste ano. A
ministra Dilma Rousseff, das Minas e Energia, disse que
teria 4 bilhões de reais para investir. O indefectível
Carlos Lessa, do BNDES, entrou com quase 6 bilhões de
reais. O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra,
falou em 7 bilhões de reais. Nada disso vai acontecer
porque se trata de uma idéia embrionária, que talvez
esteja no papel no ano que vem e seráaplicada em alguns
países sabe-se lá quando. Esse tipo de comportamento dos
ministros também produz desconfiança: serão eles ases da
demagogia ou simplesmente não entenderam nada do que foi
negociado com o FMI? Em qualquer hipótese, a
manifestação pública das autoridades foi ruim.

Na semana passada, a presença dos governadores em
Brasília, reunidos para pressionar o governo a liberar o
de sempre – mais e mais verbas –, foi um
sintoma
adicional da confusão. Os governadores, sejam eles
governistas, sejam oposicionistas, reclamam que o
governo não cumpre os acordos que faz e tem a
desagradável propensão a empurrar compromissos com a
barriga. O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, um
tucano com boas relações no Palácio do Planalto, tem uma
história exemplar. Ele conta que, em negociação direta
com o presidente da República, acertou a edição de uma
medida provisória sobre gastos de companhias de gás nos
Estados. A minuta da medida provisória foi escrita pela
equipe do governador e entregue ao Palácio do Planalto
no fim de 2003. Em março deste ano, num encontro com o
presidente em Fortaleza, Cunha Lima ouviu que a MP seria
assinada no dia seguinte. Atéagora, nada. "Já falei com
o ministro Palocci, que diz que não mandou retirar a MP
da fila. Já falei com o ministro Ciro Gomes, que diz que é
a favor da medida, e o presidente Lula também", diz ele.
Então, o que está acontecendo? "Não sei, mas parece que
ninguém quer assumir a paternidade desse sumiço",
comenta o governador. São dois pra lá, dois pra cá...

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